A zona do euro continua escorregando lentamente em direção à deflação, enquanto sua economia está estagnada. Dados do índice de gerente de compras (Markit) apontaram que a atividade industrial em novembro quase se contraiu novamente, ficando um pouco acima dos 50 pontos. A inflação de novembro para vários países mostra que o 0,4% de inflação anual de outubro pode ser superado para baixo em novembro. Os dirigentes do Banco Central Europeu aceleraram escalada retórica indicando que podem se engajar em um programa integral de afrouxamento monetário, com a compra de títulos públicos dos países da união monetária. Há oposição a isso, como sempre vinda do Bundesbank, o banco central alemão.

Mesmo na economia mais vigorosa da zona do euro, a Alemanha, o índice de preços declinou em novembro, para 0,5%, mesmo valor do observado na França e um pouco acima do 0,2% na Itália. Portugal está na fronteira, com 0,1% e Espanha (-0,5%) e Grécia (-1,8%) lideram as variações negativas.

Na semana passada, os bônus soberanos de 10 anos dos países do bloco monetário, em parte guiados pelas indicações de ação futura do BCE, registraram recorde de baixa. O título francês de 10 anos caiu a menos de 1% pela primeira vez na história. O título alemão está em 0,71%, enquanto que o da Irlanda, que mal saiu de um programa de recuperação, pagava aos investidores 1,4%.

Por outro lado, em um sinal de que as medidas do BCE até agora não surtiram muito efeito, os empréstimos bancários recuaram mais uma vez em outubro, com 1,1% de baixa ante o mesmo mês de 2013. Os bancos ainda buscam melhorar sua base de capital, contraindo a capacidade de emprestar. De maio de 2012 a setembro de 2014, os bancos da zona do euro encolheram seus ativos em € 3,7 trilhões, corte equivalente a 43% do PIB da união monetária, de € 8,6 trilhões (2013) em pouco mais de 2 anos.

O BCE apenas começou a comprar títulos privados e há dúvidas sobre se existem papéis suficientes para que chegue a seu objetivo de expandir ativos em € 1 trilhão. Está cada vez mais claro que só a aquisição de títulos soberanos o permitirão chegar lá, em um caminho que não é tão simples de percorrer.

Quando a união monetária esteve a ponto de se romper, em 2012, os líderes europeus foram incapazes de agir rapidamente e concordar em dar um passo rumo à união fiscal com a compra de títulos soberanos. A crise foi debelada depois de Mario Draghi, que liberou € 1 trilhão para os bancos, dizer que faria "o que fosse necessário" para impedir a débâcle da zona do euro. Já a crise atual não tem "picos", é silenciosa e pode resultar em deflação de longa duração.

No BCE, quanto mais Draghi é empurrado para o "QE" puro, renovam-se as advertências do representante alemão na cúpula, Jens Weidmann, sobre o "risco moral" que a aquisição de dívida de governos significaria, sem deixar de apontar o fato de ela ser "questionável do ponto de vista legal". Já alguns analistas objetam que o afrouxamento visado teria agora poucos efeitos pois os títulos soberanos já estariam com juros muito baixos.

Draghi está perto de dar o passo que falta para tomar a medida mais poderosa, e também a última do arsenal, para elevar "o mais rápido possível" a inflação, como disse. Economicamente, o vice-presidente do BCE, Vitor Constâncio, respondeu que o efeito da compra de papéis soberanos não visava apenas baixar juros e teria outros efeitos vitais. Ela influiria na expectativa de inflação, e com o caixa recebido pela venda dos papéis os investidores comprariam outros, de fora da Europa, influenciando o câmbio. Além disso, liberaria espaço nos bancos para o aumento da oferta de crédito à economia.

A batalha mais importante, que ainda não foi travada e não se sabe se será, é a delineada por Draghi. "Só a centralização da política monetária não resolve", afirmou na quinta-feira em Helsinki. Ele defendeu dar "passos decisivos em direção a uma mais estreita união fiscal". Isso hoje envolveria a transferência de recursos para economias em dificuldades no bloco monetário e, no longo prazo, o controle das políticas fiscais nacionais pelo poder central. Essa sempre foi uma das questões básicas para o futuro da zona do euro, e a mais intratável - após perder a moeda, países como a Alemanha e a França não aceitam sequer pensar em ceder o poder de definir seus gastos. A decisão de comprar ou não títulos soberanos pelo BCE será ao que tudo indica um divisor de águas na história da união monetária.