A investigação do falido Banco Espírito Santo SA está ampliando seu escopo para além das alegações de fraude e dos problemas de contabilidade que arruinaram o banco português. Agora, as autoridades também buscam provas de que o banco estaria envolvido em lavagem de dinheiro em vários países, dizem pessoas a par da investigação.

As ramificações da investigação de lavagem de dinheiro, a maioria delas não divulgada, revelam o que o Banco Espírito Santo foi capaz de fazer para obter negócios em regiões do mundo evitadas pelos concorrentes, segundo ex-executivos do banco. À medida que se desenrolam, as investigações podem submeter o que sobrou do banco, assim como alguns ex-executivos e parceiros de negócios, a uma nova rodada de exame detalhado pelo governo e também a possíveis penalidades.

Promotores de Nova York e um júri federal estão investigando se a unidade do Banco Espírito Santo em Miami foi usada para lavar dinheiro de um empresário venezuelano que era um dos seus maiores clientes, dizem fontes com acesso à investigação.

A procuradoria-geral portuguesa abriu várias investigações de entidades do grupo Espírito Santo, o controlador do banco. Na quinta-feira, a procuradoria informou que a política conduziu buscas em vários escritórios e residências de Lisboa. Dois ex-executivos do BES, Isabel Almeida e Antonio Soares, são suspeitos nas investigações, dizem pessoas a par da situação.

Na Suíça, a procuradoria-geral realizou buscas em unidades do Espírito Santo em setembro, como parte de uma investigação de lavagem de dinheiro, diz uma fonte. Uma porta-voz da procuradoria confirmou que as inspeções realizadas eram relacionadas a "suspeitas de lavagem de dinheiro" no Espírito Santo, mas não deu maiores detalhes.

Na Líbia, o Aman Bank, controlado pelo Banco Espírito Santo, foi investigado por suspeita de ajudar pessoas próximas ao ex-líder Moammar Gadhafi a transferir dinheiro para fora do país, dizem pessoas a par do assunto.

E o Banco de Portugal abriu recentemente uma investigação de "procedimentos inadequados na prevenção de lavagem de dinheiro" no que diz respeito à unidade do BES em Angola, segundo informações dadas pelo presidente do banco central português, Carlos Costa, a parlamentares portugueses.

O Banco Espírito Santo era parte de uma das principais dinastias corporativas da Europa até precisar ser resgatado, em agosto, e dividido em um banco ruim, que manteve o nome Espírito Santo, e um banco financeiramente saudável chamado Novo Banco.

Os reguladores portugueses acusaram o Banco Espírito Santo de participar de atividades fraudulentas para sustentar o conglomerado familiar, que tem investimentos em setores diversos, como bancos, mineração de diamantes e hotéis.

Um porta-voz do Novo Banco, que não foi implicado em qualquer investigação, não quis comentar.

As unidades do BES na Líbia, Miami e Angola são agora parte do "banco ruim".

Ricardo Salgado, diretor-presidente do banco durante muito tempo e patriarca da família, foi detido e liberado em outra investigação sobre lavagem de dinheiro em julho. Salgado, que não quis comentar para esse artigo, disse anteriormente que espera limpar o seu nome.

Ele procurou transformar o Espírito Santo numa potência internacional com foco em países como Angola, Brasil, Venezuela e Líbia, onde cultivou relações próximas com autoridades do governo e famílias endinheiradas, de acordo com ex-executivos do grupo.

Durante anos, o banco obteve lucros expressivos com os mercados emergentes, mas se envolveu em polêmicas ocasionais.

Em 2005, por exemplo, uma investigação do Senado americano sobre ativos ocultos do ditador chileno Augusto Pinochet concluiu que o Banco Espírito Santo operava contas secretas para ele e sua família. As contas foram abertas num período em que instituições financeiras deveriam ter congelado os ativos de Pinochet, que morreu em 2006. O banco afirmou, na época, que colaborou com as investigações.

O BES também se beneficiou de ser um dos poucos bancos ocidentais em certos países.

No início de 2011, a rebelião contra o regime de Gadhafi fechou o sistema financeiro da Líbia, controlado em grande parte pelo governo. O Aman Bank, que operava como parte do grupo Espírito Santo e no qual o banco português tinha uma fatia de 40%, tornou-se um dos únicos canais de transferência de dinheiro para dentro e fora da Líbia, informou o Banco Espírito Santo na época. O banco líbio não pôde ser contatado para comentar.

À medida que a guerra civil assolava a Líbia, em 2011, e muitos bancos líbios enfrentavam sanções internacionais, os executivos do Banco Espírito Santo facilitaram transferências bancárias que despacharam dinheiro do país para clientes do Aman e de outros bancos, segundo um ex-executivo do Espírito Santo. Parte desse dinheiro foi transferida para bancos do grupo Espírito Santo na Suíça e em Dubai, diz a fonte.

Haig Melkessetian, que trabalhou no serviço de inteligência dos EUA, estava ajudando o governo líbio, no ano passado, a encontrar ativos que foram retirados do país por membros do círculo próximo a Gadhafi. Melkessetian diz que executivos do Aman Bank e outros na Líbia disseram a ele que o banco havia exercido essa função para os membros da família de Gadhafi e que executivos do Espírito Santo em Portugal estavam cientes disso. Mas Melkessetian disse que não conseguiu obter provas das transações.

Pelo menos uma agência governamental americana avisou as autoridades portuguesas que estava investigando transferências de dinheiro do Aman Bank para fora da Líbia, segundo uma pessoa a par do assunto.

Enquanto isso, a procuradoria do distrito de Nova York está investigando o relacionamento do Banco Espírito Santo com um empresário venezuelano suspeito de estar envolvido em um esquema de lavagem de dinheiro para uma empresa da Venezuela. A tal firma também está sendo investigada por várias agências dos EUA por supostas violações da Lei de Práticas de Corrupção no Exterior, entre outras coisas, diz uma pessoa a par da investigação. O banco de Miami, do qual o empresário era um dos maiores clientes, também recebeu uma intimação de um júri federal no Texas relacionada com as contas, segundo uma fonte com conhecimento da intimação.

Uma porta-voz do banco de Miami não quis comentar.

No ano passado, funcionários do banco de Miami ficaram preocupados ao notar que fundos estavam sendo transferidos para a conta do empresário por agências de casas populares da Venezuela. O dinheiro era, então, enviado para lugares como as Ilhas Cayman e Suíça, segundo ex-funcionários do banco. Eles disseram que o banco fechou a conta este ano e informou aos reguladores que as transações pareciam suspeitas.