Quatorze dias depois de Rodrigo Rollemberg (PSB) anunciar o seu secretariado, e três dias antes de tomar posse como governador do Distrito Federal, o futuro chefe do Buriti precisou de uma nova cartada para cobrir uma das áreas mais críticas do DF: a Saúde. Por problemas pessoais, Ivan Castelli abriu mão do cargo no fim de semana. Às pressas, os socialistas convenceram o médico proctologista João Batista de Sousa a ocupar o cargo. Sousa afirmou que sabe do grande desafio à frente da pasta, que a situação não será resolvida nos próximos quatro anos e que a prioridade será a atenção básica. Também mostrou-se contrário ao ponto eletrônico para médicos, iniciado pelo governador Agnelo Queiroz.

Sem muitos detalhes, o coordenador-geral da transição e futuro chefe da Casa Civil, Hélio Doyle, informou no começo da noite de ontem que Ivan Castelli está com problemas de saúde e não poderá assumir o cargo. O cardiologista está fora de Brasília e, por isso, não participou da reunião, segundo Doyle. Pessoas ligadas a Castelli informaram que ele também estava desconfortável em assumir a pasta na atual crise e ter que fazer duras críticas à gestão de Agnelo Queiroz (PT). Isso porque Castelli atuou na subsecretaria de atenção básica à Saúde durante o governo petista e, por muitas vezes, representando o governo, deu entrevistas sobre o trabalho feito na área. O motivo principal, no entanto, foi a questão pessoal.


Ivan Castelli: ex-secretário de Atenção à Saúde da gestão de Agnelo voltou atrás, por motivos pessoais (Daniel Ferreira/CB/D.A Press)
Ivan Castelli: ex-secretário de Atenção à Saúde da gestão de Agnelo voltou atrás, por motivos pessoais
Com o cardiologista fora do primeiro escalão, Rollemberg recorreu ao nome de João Batista, amigo de Castelli há mais de 20 anos. O sim para o convite foi dado pelo médico às 11h48 de ontem — menos de 24 horas depois de ser convidado por Rollemberg para ocupar o cargo. “Fui pego de surpresa ontem à tarde (domingo). Aceitei o desafio, um desafio enorme. Temos problemas de toda natureza: emergência, falta de materiais. Tenho que trabalhar com a população para recuperar a saúde”, detalhou.

João Batista afirmou que tem liberdade para escolher a equipe que irá compor a Saúde do DF, como nomes dos diretores dos hospitais, sem qualquer interferência política. Ivan Castelli havia feito algumas escolhas desde que foi anunciado como secretário, no último dia 15. “Tenho que conversar com essas pessoas. Muitas delas não vão aceitar porque algumas nem da secretaria são e aceitaram os cargos em confiança ao doutor Castelli. Mas, certamente, alguns nomes que são da minha confiança serão mantidos”, explicou. Ele garantiu que a lista ficará pronta em até 48 horas, antes de tomar posse como secretário.

Para reforçar a atenção básica, uma das promessas de campanha de Rollemberg, o futuro secretário disse que é possível um acordo com universidades, que podem gerir centros de saúde e Unidades de Pronto Atendimento. “É interessante que uma instituição, que tenha o curso de medicina, assuma determinado território, desde a atenção básica ao programa Saúde da Família. Isso qualifica a formação dos profissionais que futuramente vão entrar no sistema. A ideia é que elas funcionem como gestoras, mas também terão funcionários da secretaria de Saúde”, explicou.

O médico passou o domingo e o começo da segunda-feira lendo o plano de governo de Rollemberg para a Saúde e se inteirando da situação que vai encontrar na área. “A secretaria é grande, com problemas grandes, mas não vou gastar mais de uma semana para tomar conhecimento de tudo”. Entre as preocupações do futuro secretário está o atendimento a pacientes que moram fora do DF. “O Entorno já faz parte e depende do DF. Não tem como separar. O que podemos é fazer acordos que envolvem o governador e outros governos sobre uma gestão com os estados vizinhos que utilizam muito o sistema de saúde do DF. Hoje, 40% da população atendida no DF não é do DF”.

Com relação ao ponto eletrônico para os médicos, João Batista disse que é preciso rever o uso do equipamento. “Ele vai ser avaliado. Precisamos arranjar outras maneiras de qualificar as condições de trabalho dos profissionais e chamá-los para trabalhar de forma responsável e com resultados. Acredito que ponto eletrônico não vai fazer os médicos trabalharem mais porque tenho conhecimento de que não está funcionando”, justificou. O médico garantiu que será ativo e prometeu visitar hospitais e centros de saúde pessoalmente. “Farei isso à noite, na madrugada, nos fins de semana”.


Prioridades

» Aumentar o atendimento de atenção à saúde
» Não deixar faltar medicamentos e material na rede pública
» Trabalhar com transparência
» Atuar com participação da sociedade civil, com atuação dos conselhos
» Melhorar os centros de saúde e as emergências
» Priorizar a atenção básica
» Gerenciar melhor os recursos da saúde
» Tentar acordo com outras unidades da Federação que utilizam o sistema de saúde do DF
» Fiscalizar centros de saúde e emergências durante a noite, de madrugada e nos fins de semana
» Fazer um pacto com o Ministério da Saúde e com o Ministério Público para recuperar a saúde
» Gerir melhor o dinheiro destinado à saúde