Petrobras adia novamente a divulgação das demonstrações financeiras do terceiro trimestre, aumentando o clima de incerteza em relação à situação da empresa, abalada por denúncias de desvio de recursos
Mais uma vez, a Petrobras adiou a divulgação do balanço contábil do terceiro trimestre deste ano. Depois de perder o prazo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que expirou em 15 de novembro, 45 dias após o fechamento do período, a estatal havia prometido para ontem a apresentação do documento, ainda que sem auditoria externa, como exige a lei das companhias de capital aberto. As seguidas postergações apontam a dificuldade da petroleira em fechar as informações econômicas, após as denúncias de corrupção. Os conselheiros da estatal não conseguiram chegar a um acordo sobre o valor das baixas contábeis que devem ser feitas em razão do desvio de dinheiro.

Em nota, a Petrobras afirmou que o adiamento ocorreu devido a novos fatos revelados pela Operação Lava-Jato. A companhia informou ainda que fechou um acordo com credores aos quais devia apresentar dados até o fim de dezembro, sob pena de ter de resgatar a dívida antecipadamente, o que afetaria ainda mais seu caixa. Pelo acerto, a estatal conseguiu postergar a obrigação de apresentar o balanço até 31 de janeiro de 2015, mas não informou a data em que deverá fazê-lo.

Ontem, em vez de informações completas, a companhia anunciou apenas alguns dados gerais. A receita de vendas alcançou de R$ 88,3 bilhões no fim do terceiro trimestre e os recursos em caixa somaram R$ 62,4 bilhões. Já o endividamento líquido atingiu R$ 261,4 bilhões, com alta de 8% em relação ao trimestre anterior e de 35% em compração ao ano passado.

A promessa da divulgação do balanço manteve o mercado em expectativa. O suspense só fez as ações da petroleira derreterem ainda mais. Por ser a maior companhia listada na Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa), a estatal carregou com ela boa parte das ações das demais empresas do pregão.

Com o clima ruim, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, acumulou três semanas de queda consecutivas. Enquanto perde valor de mercado, a Petrobras é assolada por novas denúncias, como as divulgadas ontem pelo jornal Valor Econômico, de que a diretoria teria sido informada das irregularidades desde 2008. Em consequência da fuga dos investidores, as ações da empresa hoje valem menos de R$ 10.

O mercado, que estima em R$ 10 bilhões as perdas com a corrupção, esperava que a empresa mostrasse quais ajustes fará ao calcular os valores desviados. "Sem ser auditado, o balanço não dá a certeza de que os dados serão verdadeiros. A Petrobras pode colocar qualquer coisa lá. Com tantas denúncias de corrupção, não há mais credibilidade", destacou Jason Vieira, economista do portal de informações financeiras Moneyou.

O adiamento, certamente, não é o melhor recado que a empresa poderia dar a acionistas, investidores, funcionários, fornecedores e clientes. Com a credibilidade abalada e sob a desconfiança de bancos e credores, a companhia informou que não pretende captar recursos no mercado em 2015. Para analistas, há, contudo, dúvidas se isso afetará os investimentos. "O pior é não explicar direito por que não conseguiu divulgar os dados. Isso gera mais especulação e só vai fazer as ações da empresa derreterem ainda mais", analisou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.

Para o especialista, a Petrobras virou uma caixa de surpresa. "Aparentemente, ela não consegue fechar as contas. Se não ia anunciar hoje, por que disse que apresentaria os dados?", questionou Pires. Entre as hipóteses, surge até a especulação de que a empresa de auditoria externa, a Pricewaterhouse Coopers, tenha impedido a divulgaçao do balanço não auditado.

Em novembro, a PwC já havia se negado a assinar as demonstrações financeiras por conta das denúncias de corrupção.