Dólar dispara e bate em R$ 2,67
Correio Braziliense - 13/12/2014
DECO BANCILLON
Incertezas sobre a condução da política econômica e monetária levam divisa a atingir a maior cotação em quase 10 anos, fechando em R$ 2,65
As cotações elevadas do dólar não têm dado refresco aos brasileiros que planejam viajar para fora do país. Nem mesmo após o Banco Central (BC) aumentar a intervenção sobre o câmbio, tendo despejado cerca de US$ 2 bilhões no mercado, vendendo moeda diretamente às empresas, a divisa norte-americana parou de subir. Ontem, em mais um dia de tensões, a moeda avançou 0,14%, para R$ 2,651. Foi o maior valor de fechamento desde 1º de abril de 2005. Mas o estrago poderia ter sido ainda pior. Durante o dia, o dólar chegou a bater em R$ 2,67 para a venda.
Não será surpresa se, em poucos dias, as taxas sejam ainda mais elevadas, emendou o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo. "Não vejo mais o dólar a R$ 2,50 este ano, como estava há apenas poucos dias. Hoje, a maior possibilidade é de que a moeda avance acima de R$ 2,70", assinalou o especialista. "Enquanto perdurarem as dúvidas a respeito de como será, de fato, a condução da equipe econômica e dos próximos passos da política monetária, eu não vejo nenhum alívio para o dólar no curto prazo", disse.
O BC fez ontem duas operações de venda de moeda com compromisso de recompra. Foi o quarto leilão de linha realizado em apenas uma semana e meia. Nas duas primeiras ocasiões, porém, as operações foram anunciadas na sexta e realizadas apenas na segunda-feira seguinte, de modo a tentar influenciar as cotações do dólar ao longo da semana. A estratégia teve de ser alterada em função da escalada da moeda, que em uma semana já avançou 2,23%. Mas, mesmo tendo ofertado diretamente às empresas US$ 2 bilhões, o BC não conseguiu reduzir a pressão de alta da moeda. Isso porque, nessa época do ano, é grande a procura pela divisa dos EUA por parte de multinacionais, que geralmente intensificam as remessas de lucros e dividendos paras matrizes em dezembro.
Há também fatores externos que pesam sobre a cotação da moeda. "Os riscos estão aumentando em âmbito global, por causa da queda abrupta dos preços do petróleo", sustentou o economista sênior do Besi Investimento, Flávio Serrano. A derrocada dos preços da commodities afeta não apenas países produtores do combustível mineral, mas sobretudo aqueles que enfrentam dificuldades econômicas, como alto grau de endividamento externo e desarranjo nas contas públicas. "Em suma, o mercado está fugindo do risco, e o Brasil, em função dos resultados recentes da economia, tornou-se uma ameaça a investidores", contou Serrano. Galhardo emendou: "E isso se reflete nas cotações do dólar, que não parecem ter outro comportamento que não seja de alta, pelo menos no curto e no médio prazos", disse.
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Risco Brasil aumenta
Correio Braziliense - 13/12/2014
A onda global de incertezas e o aumento da aversão ao risco em economias emergentes provocaram estragos na imagem do país. Em meio à piora generalizada dos indicadores econômicos e diante do colapso de confiança que atinge empresários e famílias, o risco Brasil voltou a subir. Em apenas uma semana, o título que representa o descrédito do país junto do mercado avançou de 160 para 230 pontos. Com isso, chegou ao maior valor desde agosto de 2013.
Quanto maior for o número de pontos, mais pesado será o prêmio de risco cobrado pelos bancos para emitirem as apólices do Credit Default Swap (CDS, seguro para calote de crédito, na sigla em inglês). "Significa dizer que aumentou o risco de um default do Brasil, e quem costuma assegurar o pagamento desses títulos públicos, que são os bancos estrangeiros, agora está cobrando um preço mais elevado para isso", esclareceu o economista sênior do Besi Investimento, Flávio Serrano.
São vários os motivos para o aumento da desconfiança com o país. Detentor de um rombo nas contas externas superior a US$ 80 bilhões, o Brasil é apontado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como o emergente mais endividado, pelo conceito das transações correntes. Além disso, a situação das contas públicas chegou ao limite. Este ano, em vez de guardar recursos para quitar parte dos juros da dívida pública, o governo resolveu abandonar a meta de superavit primário.
Com isso, o país poderá registrar o primeiro deficit primário desde 1997. "O mercado coloca preço nas coisas. Então, ele percebe que o Brasil, nos últimos anos, teve uma piora sensível da área fiscal. E isso é um dos motivos de risco, porque eventualmente o governo pode ter um problema grande e não conseguir pagar tudo o que deve", constatou Serrano. (DB)
França é rebaixada
A agência de classificação de risco Fitch rebaixou o rating da França para AA, depois de ter colocado a nota em observação negativa em outubro, afirmando que a meta revisada de redução do deficit do país não é suficiente para manter a classificação anterior AA+. A Fitch tinha dito em outubro que "provavelmente rebaixaria a nota em um degrau na ausência de melhora substancial na trajetória da dinâmica da dívida pública após a opinião da Comissão Europeia sobre o orçamento da França em 2015". A Fitch colocou o rating de longo prazo da França em perspectiva estável.