Líder do PMDB e candidato do partido à presidência da Câmara faz coro a Aécio Neves e afirma que delações premiadas tornam necessárias novas investigações


Belo Horizonte - O candidato do PMDB à presidência da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou ontem, durante encontro em Belo Horizonte com deputados mineiros, que considera inevitável a instalação de uma nova comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) para investigar irregularidades na Petrobras, tão logo a nova legislatura seja aberta, em fevereiro de 2015. Líder do partido na Câmara, Cunha avaliou que, a partir do momento em que os deputados e senadores tiverem acesso a todas as delações premiadas e depoimentos de envolvidos no esquema de corrupção da estatal, será preciso continuar as investigações.

"Como eu sempre disse sobre a CPMI, no momento em que houve delações premiadas, essa comissão morreu. Eu mesmo, como membro, a abandonei. Porque não tem mais nada a se fazer. Você vai investigar algo que não conhece? Só depois de conhecer as delações premiadas você retomaria o conceito de ter uma comissão para investigar, já que mudou completamente o curso. Conhecidas as delações, acho inevitável ter outra comissão", afirmou o candidato. Regimentalmente, caso haja outras CPIs em funcionamento na Câmara, o presidente da Casa tem a prerrogativa de decidir qual entrará em funcionamento.

As irregularidades na Petrobras vieram à tona em março, depois que a Polícia Federal deflagrou a Operação Lava-Jato, desvendando relações irregulares entre diretores da estatal com donos de empreiteiras e doleiros. No Congresso, foram criadas duas comissões para investigar as denúncias, porém os resultados foram muito criticados por parlamentares da oposição, que a consideraram uma "CPI chapa branca". A instalação de uma nova comissão tem sido defendida pelo senador Aécio Neves (PSDB) depois que foi apresentado o relatório final da CPMI sem apontar os responsáveis pelas supostas irregularidades.

O nome de Eduardo Cunha foi oficializado pelo PMDB como candidato à presidência da Casa no início do mês, mas parte da bancada governista no Congresso vê a eleição do parlamentar fluminense como uma derrota para a presidente Dilma Rousseff (PT), que teve problemas com Cunha nos últimos anos. Ele chegou a liderar rebeliões na base aliada ao Planalto e impôs algumas derrotas ao governo em votações na Câmara, como na aprovação de emendas, criticadas pelo governo federal, na Medida Provisória dos Portos e na votação que pôs fim à CPMF, considerada a Maior derrota política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O deputado, no entanto, afirma que, caso seja eleito para a principal cadeira da Câmara, não fará oposição ao Planalto. "Não sou candidato de oposição, mas não serei submisso ao governo. Não liberei rebelião, simplesmente tínhamos opiniões contrárias em relação a algumas matérias. Agora, por exemplo, fui favorável à mudança na meta do superávit primário. Em todos os momentos que o governo precisou de governabilidade, o PMDB não faltou. O que não quer dizer que tenho que concordar com tudo que o governo mande ao Congresso", disse Cunha. O PT oficializou o atual vice-presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), como o adversário do peemedebista na disputa pela presidência da Câmara.

Perguntado se apoiaria um movimento de parlamentares pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) caso as investigações apontem ligações da petista com irregularidades na Petrobras, Cunha afirmou que não existe essa possibilidade. "Não dá para falar em impeachment de alguém que acabou de se eleger, de forma legítima pelo voto da maioria da população. Isso não existe", afirmou, sem citar que pedidos desta natureza dão entrada na Câmara e devem ser acatadas ou rejeitadas pelo presidente da Casa.

No encontro de ontem, estavam presentes 17 deputados federais da próxima legislatura, além do vice-governador eleito Antônio Andrade (PMDB) e deputados que deixarão o Congresso no final do mês. Além de políticos do PMDB, estavam presentes parlamentares do PP, PTN e os deputados Gabriel Guimarães, do PT, e Caio Nárcio, do PSDB. Antes da reunião com os deputados, Cunha se encontrou com o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), com o governador Alberto Pinto Coelho (PP) e com o governador eleito Fernando Pimentel (PT).

Exposição de bens apreendidos 

Obras de arte apreendidas durante a Operação Lava-Jato serão expostas no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, no Paraná, no início do próximo ano. Os quadros estavam na casa e no escritório da doleira Nelma Mitsue Penasso Kodama, presa durante a operação, e há suspeitas de que as obras de arte tenham sido adquiridas para lavar dinheiro de origem ilícita. Todas as telas foram entregues em maio ao secretário de Cultura do Paraná, Paulino Viapiana, e à diretora cultural do museu, Estela Sandrini. O MON fica responsável pelo patrimônio artístico até que a Justiça determine um destino para as obras.