Renan vai comandar o Senado por mais dois anos: base governista aderiu à candidatura do peemedebista (Minervino Junior/CB/D.A Press)
Renan vai comandar o Senado por mais dois anos: base governista aderiu à candidatura do peemedebista

Renan Calheiros (PMDB-AL) foi reeleito ontem presidente do Senado em sessão de voto secreto. Com receio de a vitória do único adversário, senador Luiz Henrique (PMDB-SC), ser atribuída ao apoio da oposição, a base governista aderiu à candidatura de Renan, que obteve 49 votos contra 31 do correligionário. Houve um voto nulo. Fiel ao Palácio do Palácio do Planalto nos dois anos anteriores, o peemedebista traz agora uma preocupação ao governo: o suposto envolvimento no esquema investigado pela Operação Lava-Jato.

É a quarta vez que Renan é eleito presidente da Casa. Dos três mandatos anteriores, não cumpriu integralmente o segundo. Em 2007, precisou renunciar ao comando do Senado depois de ser acusado de uma série de irregularidades, como usar notas frias para comprovar a renda com que bancava despesas de uma amante. Este ano, Renan enfrentou disputa mais dura do que a de 2013, quando venceu o então senador Pedro Taques (PDT-MT) por 56 votos a 18.

Embora a disputa tenha sido mais difícil para o peemedebista no plenário, Renan conseguiu se reeleger sem os protestos populares que enfrentou dois anos atrás. Na época, um abaixo-assinado com mais de 1,5 milhão de signatários foi entregue ao Senado contra a eleição do senador. Para evitar os holofotes, Renan optou pela estratégia do silêncio. Só anunciou a candidatura à reeleição na última semana, quando foi obrigado a mudar de tática após o lançamento do nome de Luiz Henrique.

O adversário de Renan rachou o PMDB e ganhou o apoio formal de PSDB, DEM, PSB, PP, PDT, PSol e PPS. No plenário, Luiz Henrique defendeu a sua candidatura com discurso de mudança. “Não se pode aprisionar o sentimento de mudança. Esse sentimento vem das urnas e ronda os corredores do Congresso”, disse aos senadores. Ele propôs ainda uma gestão mais “democrática” dos trabalhos da Casa, com o sorteio da relatoria de projetos de lei. Hoje é o presidente que escolhe o relator das propostas.

Não foi suficiente para convencer a maioria dos colegas. Renan discursou sobre seus dois anos de mandato. Reforçou que fez uma reforma administrativa na Casa, com o corte de cargos comissionados e economia de recursos. Prometeu ser independente em relação ao Palácio do Planalto e ser o “presidente de todos os senadores”. Em cortejo à oposição, disse que os adversários da presidente Dilma Rousseff têm “espaço sagrado”. Sobre a petista, disse que é contrário à proposta de plebiscito para reforma política.

“Acho que a sociedade deve, sim, ser consultada sobre a mudança da reforma política que nós haveremos de fazer no Brasil. Não fazendo um plebiscito (como propõe Dilma) e entregando a competência constitucional do Legislativo, mas votando a reforma (no Congresso) e fazendo um referendo, que foi a solução que nós utilizamos para a proibição da venda de armas no nosso país”, disse Renan, que, depois de ser reeleito, agradeceu o apoio do PMDB e disse que a disputa com Luiz Henrique “ficou no passado”.

PT decisivo
Aécio Neves (PSDB-MG) atribuiu a vitória do peemedebista ao PT. “O senador Renan deve uma palavra especial de agradecimento à bancada do PT que, mais do que a do PMDB, seu próprio partido, garantiu a sua vitória. O que eu espero é que o senador Renan seja neste seu mandato mais presidente de um Poder e menos aliado do Poder Executivo”, disse Aécio. O líder do PT na Casa, Humberto Costa (PE), rebateu: “Parece que Aécio não aceitou até agora a derrota que sofreu nas eleições presidenciais”.

No Planalto, Renan é visto como o presidente que “mata no peito” quando necessário, mas que cobra uma retribuição cara. A maior preocupação do governo hoje é se ver atrelado ao apoio de um presidente investigado ou réu na Operação Lava-Jato, caso o peemedebista seja denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Renan teria sido citado por delatores do esquema de corrupção na Petrobras.

A composição do resto da Mesa Diretora — duas vice-presidências e quatro secretarias — será decidida pelos parlamentares amanhã. Os partidos que apoiaram Luiz Henrique devem ficar de fora da distribuição. O PT deve emplacar Jorge Viana (PT-AC) novamente como primeiro vice-presidente. Começa hoje a briga pelo comando das comissões. Com a maior bancada, o PMDB tem o direito de escolher primeiro. O líder, Eunício Oliveira (CE), já anunciou que a bancada quer a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), pela qual passam os projetos mais importantes. O PT vai brigar pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), que ganha peso estratégico este ano, já que por ela vão passar as séries de medidas econômicas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.


Personagem da notícia
Presidente pela quarta vez
O advogado e político alagoano José Renan Vasconcelos Calheiros, 59 anos, vai presidir o Senado Federal pela quarta vez. Desde 1994, é um dos três representantes do estado de Alagoas na Casa. Agora, chega à presidência pressionado pelos desdobramentos da Operação Lava-Jato. Em depoimento de delação premiada, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que o peemedebista mantinha acertos com o doleiro Alberto Youssef, o principal operador do esquema de corrupção na estatal.

Há ainda outro obstáculo a ser vencido. O Ministério Público Federal ingressou com uma ação civil por improbidade administrativa contra o parlamentar por utilização irregular de avião da Força Aérea Brasileira (FAB). A Procuradoria da República no Distrito Federal pede que o político seja multado em R$ 100 mil e tenha decretada a suspensão dos seus direitos políticos no período de cinco a 10 anos. O MPF aponta que Renan deixou Brasília às 22h15 de 18 de dezembro de 2013 em um dos jatos da FAB. Deveria ir a Maceió, seu reduto eleitoral. O senador desviou a rota em direção ao Recife, onde fez tratamentos de beleza e implante de 10 mil fios de cabelo. O dinheiro gasto no voo irregular foi devolvido.

Em 2007, o senador deixou a presidência do Senado após denúncias de que ele teria utilizado, na época, dinheiro de um lobista da construtora Mendes Júnior para pagar pensão de uma filha com a jornalista Mônica Veloso. Chegou a sofrer um processo de cassação, mas foi absolvido. Em 2013, voltou a presidir a Casa. É pai de quatro filhos, entre eles Renan Calheiros Filho, atual governador de Alagoas. O senador já foi deputado estadual, deputado federal e ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso.