Os desvios na Petrobras para pagamento de propina chegaram a, pelo menos, R$ 2,1 bilhões, segundo balanço divulgado ontem pelo Ministério Público Federal (MPF) em um site criado para reunir informações sobre a Operação Lava-Jato. Desse valor, R$ 500 milhões já foram recuperados, sendo R$ 200 milhões em bens bloqueados dos investigados, de acordo com dados atualizados até este mês.

Apesar disso, os prejuízos podem ser maiores. Quem afirmou isso foi a própria presidente da Petrobras, Graça Foster, em teleconferência a acionistas (leia mais na página 7). Até o momento, a petroleira estima as perdas em R$ 88,6 bilhões, em corrupção, má-gestão de depreciação de ativos. "Novas informações oriundas das investigações em curso podem causar novos ajustes, ampliação do escopo dos contratos e empresas e também do período analisados", disse.

Os procuradores da Lava-Jato já colocaram 152 pessoas - das quais 86 foram denunciadas criminalmente, em 18 ações - e 232 empresas sob investigação. Ao todo, há 279 procedimentos abertos, como investigações preliminares e notícias de crimes. Foram fechados 12 acordos de delação premiada, em que o criminoso confessa os atos ilícitos, entrega novos participantes, devolve o dinheiro desviado e recebe a promessa de ter a pena de prisão reduzida.

Os crimes da Lava-Jato vão além dos desvios na Petrobras. Envolvem também tráfico de drogas, contrabando de diamantes, evasão de divisas, corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraudes contra o sistema financeiro nacional.

Propina

O ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras Paulo Roberto Costa disse que recebeu subornos de R$ 8 milhões da empreiteira Andrade Gutierrez e da Estre Ambiental, empresa que atua na área de coleta de lixo. Segundo ele, "entre US$ 2 milhões e US$ 2,5 milhões" foram pagos pela Andrade Gutierrez, e "R$ 1,4 milhão" pela Estre. As duas companhias negam a participação em irregularidades.

Ontem, uma força-tarefa de procuradores da Lava-Jato entregou parecer ao juiz Sérgio Moro pedindo que sejam negadas cópias do depoimento do policial federal Jayme "Careca" Alves ao senador eleito Antônio Anastasia (PSDB-MG). Careca disse ter entregado dinheiro do esquema do doleiro Alberto Youssef ao político, que nega a acusação. Para os procuradores, fornecer o documento prejudicaria a investigação, porque Careca cita outros políticos.

Em pedidos feitos à Justiça Federal ontem, Youssef negou ser o líder da organização da Lava-Jato e voltou a culpar os políticos pelo esquema. "Sua participação foi subsidiária às ordens de agentes políticos e públicos, os maiores responsáveis pelo esquema que desviou fabulosas quantias dos cofres da Petrobras visando à manutenção de um projeto de poder bem definido", disseram os advogados do doleiro. A defesa dele ainda mencionou o mensalão como um dos exemplos desse projeto. Apesar de ser um dos 12 delatores da Lava-Jato, Youssef pediu ontem a anulação da operação. O pedido foi feito pela defesa dele em ao menos dois processos do caso. Os advogados sustentam que alguns grampos telefônicos foram obtidos ilegalmente.

Testemunho de políticos

Acusado de ser o coordenador do "clube" de empreiteiras que formavam cartel para ganhar licitações, o presidente da UTC, Ricardo Ribeiro Pessoa, quer políticos como testemunhas de defesa. O pedido foi feito à Justiça, e inclui o ministro da Defesa, Jaques Wagner, o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo, o candidato a presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP) e os deputados Paulinho da Força (SD-SP), Jorge Tadeu Mutalen (DEM-SP) e Arnaldo Jardim (PPS-SP).