Renan Calheiros (PMDB-AL) chega à eleição para a presidência do Senado, daqui a uma semana, como planejou. Diferentemente de 2013, quando, ao disputar o cargo, tornou-se alvo de uma série de protestos populares e de uma oposição pequena, mas barulhenta, o peemedebista tenta a reeleição protegido pela sombra da acirrada disputa para o mesmo posto na Câmara. Sem anunciar oficialmente a candidatura - já costurada nos bastidores -, ele é o favorito na briga, com o apoio do Palácio do Planalto. Caso vença, será o terceiro mandato dele.
A estratégia de Renan é o silêncio. Ele planeja anunciar sua candidatura apenas no próximo domingo, dia da posse dos novos senadores e da eleição para a Mesa Diretora. O peemedebista não deu entrevistas sobre o assunto em janeiro, embora seu partido tenha anunciado apoio à reeleição. Sem falar oficialmente sobre a disputa, Renan conseguiu distância dos holofotes, que, em janeiro de 2013, lhe renderam um abaixo-assinado com mais de 1 milhão de assinaturas contra a eleição para o cargo.

Naquele ano, Renan também deixou para anunciar a candidatura no último momento, mas não conseguiu escapar do tiroteio de adversários, que aproveitaram a lembrança dos escândalos de 2007 (veja memória), quando renunciou ao mesmo cargo, para desgastá-lo. Ironicamente, foi também há sete anos que começou o caminho que agora leva Renan à reeleição. Nos anos seguintes à renúncia, o peemedebista se empenhou em resgatar a sua imagem. A aliados, revelou que gostaria de voltar ao comando da Casa como uma estratégia de enterrar o fracasso da passagem anterior.

Entre 2008 e 2012, Renan optou por uma atuação discreta no Senado, mas ocupou posição importante, como líder do PMDB. Em 2013, apesar de todo o barulho contra a candidatura dele à presidência, o peemedebista derrotou Pedro Taques (PDT-MT), por um folgado placar de 56 votos a 18. Na bancada do PMDB, ganhou o apelido de Mandacaru, pela fama de "cascudo" e a capacidade de resistir às adversidades. Traçou uma nova meta na presidência: fazer um mandato moralizador. Nos primeiros meses, anunciou uma reforma administrativa na Casa, conhecida por custar caro ao contribuinte. Uma reforma que, embora tenha cortado cargos comissionados, mantém ainda hoje uma "diretoria do check-in" no Senado.

Como o Correio mostrou em 29 de abril de 2013, a Casa paga sete funcionários, com salários superiores a R$ 15 mil líquidos, para retirar bilhetes no balcão de companhias aéreas e carregar malas para os parlamentares no Aeroporto de Brasília. Para turbinar sua gestão, Renan apostou em propostas com apelo popular, como a PEC das Domésticas, que aumentava os direitos da categoria. Festejada, a aprovação da proposta, no entanto, ainda não teve efeito prático, já que ainda falta a sua regulamentação.

Renan voltou a sofrer críticas em junho de 2013, quando a população foi às ruas cobrar melhoria nos serviços públicos e o fim da corrupção. Ele então lançou uma agenda positiva no Senado, novamente com uma pauta de apelo popular. A maioria dos projetos, no entanto, parou na aprovação pelos senadores, já que todos precisavam ser endossados pela Câmara para serem sancionados. Renan foi novamente protagonista de um escândalo em dezembro de 2013, quando o jornal Folha de S.Paulo mostrou que ele usou uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) para fazer um implante capilar no Recife.

Oposição

Adversários da presidente Dilma Rousseff prometem lançar um candidato para brigar com Renan. Oficialmente, eles dizem que só vão revelar o nome no dia das eleições, também por estratégia. Mas, nos bastidores, os oposicionistas ainda não encontraram o nome para a briga. "Teremos candidato não apenas para marcar posição, mas para ganhar. Estamos conversando. Queremos um nome que tenha respeitabilidade", diz o senador José Agripino (DEM-RN).

A tentativa da oposição, articulada também pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), é conseguir um candidato no próprio PMDB. Ricardo Ferraço (ES) e Luiz Henrique (SC) são os cotados. Os dois, porém, avaliam se é estratégico medir forças com Renan. No próprio PSDB, há senador que defende não lançar candidato. Isso porque o partido perde um cargo na Mesa Diretora caso não apoie Renan e perca a disputa.

Memória

A crise do lobista

Renan Calheiros enfrentou a maior crise de sua trajetória política em 2007. Então presidente do Senado, ele foi atingido por uma série de denúncias, que começaram em maio daquele ano, quando a revista Veja publicou reportagem sobre a suposta ajuda que o lobista Cláudio Gontijo dava ao peemedebista para que ele bancasse despesas pessoais. Mãe de uma filha que Renan teve fora do casamento, a jornalista Mônica Veloso afirmou que recebia dinheiro vivo de Gontijo.

Ao tentar provar que tinha recursos para pagar essas despesas, Renan acabou se complicando ainda mais. Ele disse que a origem do dinheiro foi referente a uma venda de gado de sua fazenda em Murici (AL). Os supostos compradores negaram o negócio. A Polícia Federal passou a investigar se o peemedebista apresentou notas frias. Renan pediu licença por 45 dias.

Em setembro daquele ano, o Senado votou a cassação pelo escândalo, mas o peemedebista foi absolvido. Surgiu, então, a denúncia de que Renan era sócio oculto em duas emissoras de rádio e um jornal em Alagoas. Em dezembro, o peemedebista renunciou à presidência do Senado poucas horas antes da segunda votação pela cassação de seu mandato, daquela vez, pela última denúncia. Novamente, ele foi absolvido.