O relatório mais recente de contratações nos Estados Unidos coloca o país no caminho de fechar 2014 como o ano mais saudável na geração de empregos desde 1999. Isso não é pouca coisa.

No entanto, os trabalhadores americanos continuam preocupados com os riscos de mudar de emprego, como mostra a lenta recuperação da taxa de rotatividade de emprego combinada com o número de demissões e posições recém-criadas. Muitos dos principais economistas, bem como Janet Yellen, a presidente do Federal Reserve (Fed), banco central do país, citam isso como uma das principais preocupações no monitoramento da saúde do mercado de trabalho.

A taxa geral de rotatividade de emprego nos EUA despencou durante a recessão - já que muitos trabalhadores tinham medo de se aventurar em um novo trabalho - e ainda não se recuperou totalmente. Um olhar mais atento revela que alguns trabalhadores se sentem mais confiantes sobre suas perspectivas, embora alguns em certos setores continuem pouco dispostos a correr riscos em busca de novas oportunidades.

 

 

Quem está migrando de emprego e quem não se atreve a mudar? A mobilidade profissional se recuperou relativamente bem para cargos altamente especializados, como editores de filmes, operadores de usinas de gás, especialistas de recursos humanos e cientistas de dados, e para outros em campos em expansão, como o de tecnologia e de energia.

Mas a mobilidade se manteve baixa para as pessoas em empregos das áreas de assistência médica, agentes de viagens e acompanhantes de doentes e idosos, e de profissões com muitos trabalhadores mais velhos, incluindo consultores financeiros e contadores que prestam serviços de preparação de declarações de impostos, segundo uma nova pesquisa da firma de análise do mercado de trabalho Economic Modeling Specialists International (EMSI). A empresa usou o Censo e outros dados para analisar o dinamismo do mercado de trabalho por ocupação e região metropolitana.

Os empregadores podem estar celebrando o amplo declínio na rotatividade de trabalhadores, porque substituir empregados é caro. Mas economistas temem que a taxa de rotatividade mais baixa e outros fatores possam calcificar o mercado de trabalho. Uma força de trabalho envelhecida e desaceleração na criação de novas empresas - que geralmente criam e eliminam empregos em ritmo rápido - parecem estar fazendo com que o mercado de trabalho seja menos flexível, de acordo com um artigo recente dos economistas Steven Davis e John Haltiwanger.

A tendência de os trabalhadores permanecerem no emprego sugere que o mercado de trabalho perdeu um pouco do seu dinamismo, tornando mais difícil para as pessoas conseguirem uma vaga ou aprender novas habilidades.

A rotatividade pode estar se acelerando de forma mais ampla agora, uma vez que, em setembro, o Departamento de Trabalho divulgou o seu número mais elevado de pessoas que se demitiram por conta própria desde abril de 2008.

Mesmo assim, é surpreendente o tempo que levou para a fluidez voltar para o mercado de trabalho, mesmo depois de vários anos de crescimento de empregos, observa Andrew Crapuchettes, diretor-presidente da EMSI. A recessão paralisou a mobilidade de emprego porque trabalhadores ansiosos se apegaram aos empregos que tinham. Como consequência, a taxa de rotatividade - que mede a probabilidade de que uma vaga seja preenchida por uma nova pessoa em algum momento durante o ano - caiu quase 25% entre 2007 e 2009. Em 2013, a taxa se moveu pouco em relação a essa leitura.

Para colocar os números em perspectiva: em 2003, 147 das 768 ocupações monitoradas pelo EMSI registraram taxas de rotatividade acima de 100%, indicando que cada vaga deve ser preenchida pelo menos uma vez durante o ano. Em 2013, apenas 79 ocupações registraram esse comportamento.

Mesmo na preparação de alimentos, que inclui funcionários de redes de fast-food, a rotatividade caiu de 143,8% em 2007 para 109,4% no ano passado, crescendo muito pouco desde que atingiu um mínimo, em 2010. A menor rotatividade ressalta o fato de que cerca de sete milhões de pessoas que trabalharam em empregos de meio período em novembro queriam ter empregos de tempo integral, mas não encontraram vagas e, então, permaneceram em seus empregos atuais.

Dados dos pedidos de seguro-desemprego divulgados pelo governo mostram que as chances de um trabalhador ser demitido nunca foram tão baixas quanto agora. Ainda assim, os trabalhadores relatam altos níveis de preocupação de que serão demitidos ou terão suas horas, salários ou benefícios cortados, revelou recentemente o instituto de pesquisa Gallup.

"A rotatividade é um indicador da confiança do consumidor", diz Crapuchettes. "Os empregos estão aí, mas as pessoas estão nervosas."

Uma explicação otimista para a rotatividade menor pode ser simplesmente o fato de os empregadores estarem melhores em empregar as pessoas certas nos cargos certos. A maior oferta de trabalhadores desempregados, combinada com instrumentos sofisticados de seleção, permite que os empregadores sejam mais seletivos e mais precisos nas contratações que serão bem-sucedidas.

Mas mesmo que mais pessoas se sintam satisfeitas no trabalho, as implicações são preocupantes para os trabalhadores com menos experiência e educação, assim como os desempregados há muito tempo, já que um mercado de trabalho mais rígido oferece menos pontos de entrada à força de trabalho. "É muito mais difícil começar e muito mais difícil desenvolver os estágios iniciais da carreira", diz Davis, um dos autores do artigo sobre o mercado de trabalho, que leciona na Escola de Administração Booth, da Universidade de Chicago.

Pessoas jovens e aquelas com níveis limitados de educação tendem a adquirir suas habilidades nos empregos, então menos oportunidades podem prejudicar os prospectos de longo prazo de uma carreira e ganhos financeiros, além de agravar a já alta taxa de desemprego desses grupos, diz ele.