O líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), oficializou ontem sua candidatura à presidência da Casa em ato no Salão Verde com o slogan "Câmara independente, democracia forte". "Vamos garantir ao governo o direito de ter governabilidade e a oposição o direito de fazer o debate respeitoso e usar os instrumentos, dentro do regimento, para fazer obstrução."

O ato foi acompanhado, do palanque ou da plateia, por deputados do PMDB, SD, PSC, PTB, PP e PSDB - partidos da base aliada e da oposição. Os tucanos discutem internamente se apoiam o pemedebista para derrotar o PT, que ainda não definiu candidato, ou se lançam um nome de oposição para demarcar terreno. O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), defendeu ontem que o diálogo comece pelos partidos que apoiaram sua candidatura presidencial.

Cunha distribuiu um panfleto com as dez propostas que defenderá. A primeira, na linha da campanha, é a autonomia em relação ao Executivo - o que fez com que muitas vezes fosse visto como candidato de oposição ao Palácio do Planalto, principalmente quando se pôs a liderar rebeliões contra a medida provisória dos Portos e o marco civil da internet.

Uma das propostas pode causar mais dores de cabeça ao governo, que pretende executar um ajuste fiscal em 2015: a implementação efetiva das emendas individuais impositivas ao Orçamento, que impede que o governo congele as verbas que os parlamentares indicam para suas bases eleitorais, e a extensão disso para as emendas coletivas, que hoje não está em discussão.

O líder do PMDB faz também promessas mais corporativas, como levar a TV Câmara para acompanhar as atividades dos deputados nos Estados e que a Rádio Câmara seja transmitidas para todas as cidades com mais de 100 mil habitantes; fazer a reforma administrativa da Câmara com a modernização digital dos gabinetes; construir o Anexo V para dar mais estrutura aos deputados; fortalecer a ação da procuradoria parlamentar em defesa da Casa; e subsídios equânimes aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Outros pontos são a imediata apreciação das reformas política e tributária, o aprofundamento das relações com outros países e a definição da pauta de plenário pelo colégio de líderes, que já ocorre na gestão do atual presidente, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que é um dos principais cabos eleitorais do pemedebista.

"Com o Henrique e o PMDB, a Casa teve ganhos institucionais importantíssimos. Não se vota mais nada no Congresso sem antes apreciar os vetos presidenciais. O Orçamento impositivo tirou as amarras dos parlamentares, e, apesar das pressões, a maioria decidiu a pauta, como nas votações dos conselhos populares e dos agentes comunitários de saúde", afirmou Cunha.

Resolver as questões por meio do voto também foi uma promessa feita pelo candidato à presidência em almoço com a Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA) ontem. Segundo relatos, Cunha não demonstrou apoio a projetos específicos dos ruralistas, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/00, que transfere para o Legislativo a decisão sobre a demarcação de terras indígenas, e a regulamentação do que é trabalho escravo, mas demonstrou disposição para decidir estas questões no voto.

O almoço com Cunha foi concorrido e atraiu cerca de 40 deputados, mais do que a média dos que costumam participar desses encontros, e o pemedebista ainda fez um afago à bancada ruralista. "Ele disse que não vai voltar só para agradecer o voto, mas também para discutir todos os meses as pautas prioritárias para o setor e a conjuntura", disse o futuro presidente da FPA, deputado Marcos Montes (PSD-SP).

A oficialização da candidatura serviu para acabar com os rumores de que poderia desistir em troca de espaço no governo. "Muitos deputados diziam que não poderiam declarar apoio enquanto não estivesse oficializada. Pronto, agora está e é irremovível", disse Cunha. O pemedebista viajará agora aos Estados para se encontrar com os deputados eleitos - 40% dos que votarão no dia 2 de fevereiro não participam da atual legislatura. As viagens começam amanhã por Campo Grande e Curitiba.