Cartazes pelo Congresso, faixas e banners espalhados na Esplanada, jatinhos fretados e brochuras em papel nobre com as propostas dos candidatos. Elementos geralmente usados em campanhas eleitorais foram incorporados pelos dois principais candidatos à presidência da Câmara, o petista Arlindo Chinaglia (SP) e o peemedebista Eduardo Cunha (RJ). Oficialmente, nenhuma das duas coordenações faz estimativas sobre o valor gasto com a disputa, mas um parlamentar experiente ouvido pela reportagem comentou, em tom de exagero, que o valor gasto pelos dois “está quase chegando no da campanha para o povo”, referindo-se aos cerca de R$ 8 milhões gastos por Chinaglia e aos R$ 6,8 milhões gastos por Cunha em outubro do ano passado para se reelegerem.

Desde 5 de dezembro, Eduardo Cunha cumpriu agenda nas 27 unidades da Federação. Os voos foram feitos em um jatinho Learjet de seis lugares, fretado. O Correio solicitou estimativas de preço para duas companhias de voos charter, sediadas em São Paulo, tomando por base quatro deslocamentos semanais (o suficiente, por exemplo, para visitar Brasília, outra capital e retornar ao Rio de Janeiro, onde Cunha reside). Segundo as companhias, o fretamento custaria de R$ 200 mil a R$ 250 mil semanais, dependendo das cidades escolhidas. Assim, nos dois meses que passou cruzando o território nacional para pedir votos aos colegas, Cunha teria gasto cerca de R$ 2 milhões com o aluguel do jatinho, que será custeado pelo PMDB. Chinaglia também tem viajado em jatinho fretado, mas a assessoria não deu detalhes.

A campanha de Cunha conta também com um site próprio (eduardocunhapresidente.com) e materiais gráficos (panfletos em papel couchê, botons e cartazes). Segundo pessoas próximas, a produção desse material fica a cargo da filha do parlamentar, a jornalista Danielle Cunha, 27 anos. “Como é ela que produz o material, essa questão das tiragens e dos custos deve ser acertada diretamente entre os dois. A coordenação política não trata propriamente disso”, disse um peemedebista que participa do núcleo principal da campanha. Já que não exigências legais, os materiais gráficos de Cunha e de Chinaglia não trazem a tiragem nem a gráfica que executou os serviços.

Além das viagens e do material, a força-tarefa do peemedebista conta com dois profissionais fixos: um assessor de imprensa veterano no Congresso e um coordenador de campanha. Outras pessoas também participaram do trabalho, mas de forma eventual. A equipe de Chinaglia não informou se há assessores contratados especialmente para a disputa.

Além do próprio gabinete do deputado, a campanha de Chinaglia adotou a sala do também ex-presidente da Câmara Marco Maia (RS) como espaço para reuniões. O local, em um ala lateral do corredor das comissões, recebe os deputados petistas Paulo Teixeira (SP), Sibá Machado (AC) e Vicente Cândido (SP), que integram a coordenação política da eleição. Interlocutores dizem que a campanha petista não ficou atrás da de Cunha em termos de gastos. Fôlders em papel de boa gramatura, bottons e cartazes também estão presentes. Assim como Cunha, os petistas planejam chamar a atenção na Esplanada. “Vamos colocar faixas com pessoas segurando. Mas isso que eles fizeram, de pendurar cartazes nos postes, é ilegal. É preciso autorização da CEB e do Iphan”, cutuca um assessor petista. A assessoria de Cunha diz que os cartazes foram afixados pela Força Sindical, e não pela campanha.

O deputado Miro Teixeira (Pros-RJ), que presidirá a eleição no próximo domingo, diz que o foco da disputa mudou nos últimos anos. “Doutor Ulysses (Guimarães), Ibsen Pinheiro, o próprio Aécio Neves, nenhum deles fez gastos a ponto de isso entrar na discussão. Ela sempre foi política. De uns anos para cá começaram essas preocupações com dinheiro. Antigamente, era considerado ofensivo pendurar cartaz, contratar marqueteiro”, lembrou. “Até porque são 513 pessoas. É um número que não elege nem vereador numa pequena cidade brasileira”, ironizou.

Peemedebista se lança ao Senado
O senador peemedebista Luiz Henrique (SC) oficializou na tarde de ontem a candidatura à presidência do Senado. A decisão pode levar o partido a ter duas candidaturas na disputa, uma vez que o atual presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL), também deve oficializar a candidatura. Segundo Luiz Henrique, a decisão é “irreversível”. O catarinense disse ainda que a empreitada não é para “marcar posição”. “É para disputar e ganhar”, frisou. “Um grupo grande de senadores deve lançar uma chapa forte para a disputa. Há uma tendência em relação ao meu nome”, disse. À noite, senadores do PSB se reuniram na casa de Lídice da Mata (PSB-BA) para discutir a candidatura de Antônio Carlos Valadares (PSB-SE).

Voo solo de brasileiros no Gripen
Em fase de teste, os capitães da Aeronáutica Gustavo Oliveira Pascotto, 33 anos, e Ramon Santos Fórneas, 32, voaram ontem sozinhos pela primeira vez nos aviões suecos da Gripen. Desde novembro do ano passado, os capitães estão em treinamento para operar os caças comprados pelo governo brasileiro. Eles já pilotaram os Gripen anteriormente, mas sempre acompanhados de instrutores e em uma função auxiliar. Até 2024, o Brasil deve receber 36 caças da Gripen comprados na Suécia. Eles ainda estão em fabricação pelo grupo sueco Saab. Pela aquisição, o governo pagará US$ 5,4 bilhões.