O racionamento de energia, que está ficando cada vez mais provável, à medida que a crise hídrica se agrava, pode precipitar o país numa forte recessão. Segundo cálculos da equipe de economistas do Credit Suisse, cada 10% de redução forçada no consumo de eletricidade terá impacto negativo de 1 ponto percentual no Produto Interno Bruto (PIB). O cenário-base utilizado pelo banco já prevê retração de 0,5% da economia brasileira neste ano. Com o racionamento, o tombo seria bem maior. E os técnicos da instituição avaliam que a chance de haver corte de energia subiu de 20% para 43% em pouco mais de um mês.

Segundo o economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Nilson Teixeira, a falta de energia ainda poderia contribuir para elevar mais a inflação, que já está com perspectiva de alta diante da possibilidade de o real sofrer uma desvalorização mais acentuada em relação ao dólar. De acordo com ele, as medidas anunciadas recentemente pelo governo nos campos fiscal e monetário são insuficientes para que o Brasil volte a ter inflação perto da meta anual, de 4,5%, nos próximos anos.

Na avaliação de Teixeira, para alcançar esse objetivo em 2016, conforme anunciado pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, a instituição teria que elevar a taxa básica de juros, a Selic, dos atuais 12,15% para mais de 13% ao ano. Pelas previsões do Credit Suisse, a inflação ficará acima de 7% neste ano e recuará para a faixa dos 6% no próximo. A pressão inflacionária, porém, pode diminuir se a Petrobras reduzir o preço dos combustíveis até o fim de 2015, hipótese que o banco considera possível.

Retrocesso
Na visão dos analistas do Credit Suisse, a correção dos desequilíbrios da economia vai depender da firmeza na implementação das medidas de ajuste fiscal. O presidente executivo do banco no Brasil, José Olympio Pereira, afirmou que, se o governo voltar atrás nas mudanças anunciadas recentemente nas regras do seguro-desemprego, estará dando um sinal negativo para o mercado, num momento em é preciso retomar a confiança dos agentes econômicos na solidez das contas públicas.

Pereira viu com preocupação notícias de que o governo já admite rever parte das mudanças no benefício, devido a pressões de sindicatos. Na virada do ano, foram anunciadas regras mais rígidas para o pagamento do seguro-desemprego, do abono-salarial e de pensões com morte, com o propósito de reduzir as despesas em R$ 18 bilhões por ano. “Um retrocesso nessas medidas mandaria um sinal extremamente desencorajador aos investidores”, disse Pereira, durante evento anual do banco com clientes.

Ontem, na primeira reunião ministerial do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff disse que as mudanças em benefícios trabalhistas e previdenciários, entre outras, têm caráter corretivo e buscam adequá-los às novas condições socioeconômicas do país.

O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estabeleceu como meta obter, em 2015, um superavit primário (economia para pagamento de juros da dívida) de R$ 66 bilhões nas contas do setor público consolidado (União, estados e municípios). No ano passado, segundo estimativas de analistas, o país registrou deficit, o primeiro em uma década. Os números serão divulgados na sexta-feira.

Cemig quer manter usinas

O novo presidente da Cemig, Mauro Borges, quer negociar com a União e com a Justiça um acordo para manter as hidrelétricas Jaguara, São Simão e Miranda, cujas concessões a empresa não quis renovar conforme regra baixada pelo governo federal em 2012. As normas previam que as usinas receberiam apenas uma tarifa para operação e manutenção, sem remuneração adicional. As concessões de Jaguara e São Simão já venceram, mas a Cemig mantém ambas por liminares judiciais. A concessão de Miranda termina em 2017. A mudança do cenário político pode facilitar a discussão, já que a estatal mineira saiu da órbita do PSDB para a do PT.