Em mais um termo de colaboração, prestado em 7 de setembro do ano passado, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa declarou que o esquema de corrupção na estatal contava com um operador na Suíça. Conforme informações do delator, Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano (apontado como o operador do PMDB no esquema), tinha um subordinado, chamado Diego, que morava no país europeu e vinha ao Brasil uma vez por ano para fazer a remessa ilegal de recursos desviados da Petrobras. "Diego era quem cuidava das operações financeiras no exterior, de interesse de Fernando Baiano", afirmou Costa.
No mesmo depoimento, o ex-diretor declarou que Baiano ofereceu US$ 1,5 milhão para não causar problemas na reunião de aprovação da compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O valor foi disponibilizado por Baiano em uma conta do Vilartes Bank, na Suíça. Costa salientou que, nessa mesma conta, recebeu recursos da empreiteira Andrade Gutierrez. A construtora nega a informação.

Procuradores de uma força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) estão na Suíça para tentar rastrear o caminho do dinheiro sujo repassado aos agentes públicos. Um dos principais objetivos é tentar reunir documentos para provar que a empreiteira Odebrecht pagou propina no exterior a Paulo Roberto Costa, como revelado por ele em depoimento prestado à Justiça Federal do Paraná. A empresa assegura que a informação não é verdadeira.

O ex-diretor informou ainda que, a partir de 2008 ou de 2009, a cobrança de propina à Andrade Gutierrez passou a ser feita por Fernando Baiano, e não mais pelo doleiro Alberto Youssef. Segundo o delator, "isso significou que os valores pagos por aquela empreiteira passariam a ser destinados ao PMDB, que tinha em Fernando Baiano seu operador, e não mais ao PP", destacou.

Paulo Roberto Costa também contou à Polícia Federal que Nestor Cerveró, ex-diretor da empresa, o lobista Fernando Baiano e o PMDB podem ter recebido entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões de propina pela compra da Refinaria de Pasadena. Na quinta-feira, a defesa de um dos empreiteiros presos - Gerson de Mello Almada, da Engevix - acusou Costa de extorquir as construtoras para "gerar montantes" destinados a comprar o apoio dos partidos políticos que integram a base aliada do governo federal.

"O pragmatismo nas relações políticas chegou a tal dimensão que o apoio no Congresso Nacional passou a depender da distribuição de recursos a parlamentares", diz um trecho da defesa apresentada pelo advogado Antonio Sergio de Moraes Pitombo. Almada é acusado de participar de um cartel criado para superfaturar obras que tinham como cliente a Petrobras. No último sábado, a Justiça Federal no Paraná negou o terceiro pedido de habeas corpus ao executivo.

Lista

A Justiça Federal do Paraná, à frente dos processos relativos à Operação Lava-Jato, encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) trecho da investigação em que o deputado Nelson Meurer (PP-PR) é relacionado em uma lista por supostamente ter recebido R$ 159 mil do esquema de corrupção. O material, com o laudo da Polícia Federal, foi encaminhado ao gabinete do ministro Teori Zavascki, relator no STF dos processos da Lava-Jato.

Os lançamentos, feitos em 2008 e 2009, foram registrados em contabilidade do Posto da Torre, em Brasília, utilizado pela organização criminosa para lavagem de dinheiro. Até o fechamento desta edição, o Correio não havia conseguido entrar em contato com o parlamentar para que ele comentasse a denúncia.

Advogado culpa o PT

O advogado Antônio Figueiredo Basto, responsável pela defesa do doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores do esquema de corrupção montado na Petrobras, afirmou ao Correio que os desvios na estatal tinham como objetivo "manter esse grupo (o PT) no poder". Ele declarou que, sem os políticos, o escândalo não existiria. "Esse esquema só funcionou porque ele estava destinado à manutenção do poder aos poderosos. Essa é a realidade, doa a quem doer", ressaltou.

O defensor informou que o seu cliente era apenas uma peça na engrenagem. "Existem outros no esquema. Esse esquema só funcionou porque havia agentes políticos ocupando funções importantes no Brasil e com o auxílio de funcionários públicos", declarou.

O advogado comemorou o acordo de delação homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Basto, pelas ações penais a que responde, o doleiro poderia ter uma pena de até 200 anos de cadeia. "Isso daria 30 anos no regime fechado. Vai cumprir três anos (no máximo cinco). O acordo foi muito bom. Além disso, a cada R$ 50 milhões recuperados com o auxílio das informações repassadas pelo Beto, R$ 1 milhão dele é desbloqueado." Basto disse que ainda vai tentar ir além. "Mas eu quero evoluir. Youssef ainda tem muito a colaborar. Há vários políticos envolvidos e novas confirmações. Tudo será provado. Vou tentar o perdão judicial, o limite da lei", salientou.