A crise de falta de água enfrentada hoje pelos três estados mais populosos do país é a pior já vista. Desde que a série histórica passou a ser feita, há 84 anos, nunca choveu tão pouco em São Paulo, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. A situação “completamente atípica”, “sensível e preocupante”, nas palavras da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, levou o governo federal a reunir representantes de oito ministérios para fazer um diagnóstico dos reservatórios da região Sudeste e preparar medidas de socorro. Apesar da gravidade da situação, a ministra é otimista, pois há previsão de chuvas para os próximos 10 dias: “vamos ver a quantidade e se caem nos lugares corretos”.
Na expectativa de uma ajudinha de São Pedro, o governo espera que os consumidores poupem água e energia. “Estamos no período de chuva. Vamos acompanhar e pedir a colaboração de todos para pouparem. É importante poupar água, poupar energia, porque nós precisamos ajudar em uma situação completamente atípica”, ressaltou Izabella. De acordo com a ministra, a Secretaria de Comunicação da Presidência prepara uma campanha de estímulo à população do uso racional de água. “O número que é apresentado de vazão no afluente, daquilo que chega no Sistema Cantareira, é de cerca de 7 metros cúbicos por segundo. Em condições normais, são 62 metros cúbicos por segundo.”

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Ontem, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, anunciou que 50 cidades com sistema autônomo já estão em racionamento e a Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais (Copasa) fez um apelo para que a população economize pelo menos 30% de água. No Rio, o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, disse que havia um plano de racionamento para o estado, caso fosse necessário. Entretanto, em seguida, o governador, Luiz Fernando Pezão, descartou o plano de contingência e somente pediu às pessoas que economizem água. Já São Paulo teve a interligação do reservatório Jaguari-Atibainha ao Cantareira incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A ação foi resultado de um pedido estadual ao governo federal. Izabella Teixeira afirmou que o Executivo não medirá esforços para ações deste tipo, mas fez questão de ressaltar que o governo não é responsável pelas ações de distribuição. Na última quarta-feira, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) informou que os reservatórios da capital não correm o risco de secar.

Previsão

O período de seca que a região Sudeste enfrenta hoje é, para o professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Oscar Cordeiro Netto, excepcional. “Mas se fosse há 50 anos, não sofreríamos assim”, analisa o engenheiro civil. Segundo ele, um dos fatores que poderia amenizar a situação é justamente o uso racional da água. “O que já é feito no Nordeste, que está acostumado a conviver com a seca. Lá há uma noção melhor de que a água é um recurso importante e que é preciso usar com parcimônia. Temos que aprender com eles”, acrescenta. O professor, entretanto, acrescenta que é fundamental que se atue no sentido de prever melhor as estiagens e gerenciar as barragens.