A morte de 12 pessoas em um ataque de extremistas contra a sede da revista francesa Charlie Hebdo nada deve contribuir para o fim da onda anti-islã na Europa. Os disparos contra a equipe do Charlie Hebdo adicionam tensão a um momento em que a extrema-direita ganha peso político com um discurso anti-imigrante. Dias depois de a Alemanha ter sido palco de recentes protestos contra a “islamização do Ocidente”, analistas temem que o atentado à publicação em Paris alimente o crescente discurso conservador no velho continente.

Embora os motivos do ataque não tenham sido esclarecidos até a noite passada, os autores do atentado gritaram “Alá é grande” em árabe durante a ação, reforçando as suspeitas de que a agressão foi uma retaliação às sátiras da revista feitas ao profeta Maomé e ao fanatismo religioso. Ao lamentar o ataque, Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita Frente Nacional e uma das principais vozes opositoras ao governo do presidente François Hollande, considerou que uma ação do tipo era “previsível” e defendeu que “todo o possível” fosse feito para prevenir novos ataques. Le Pen é conhecida pelo discurso anti-imigrante e já foi acusada judicialmente por racismo e islamofobia, depois de comparar os muçulmanos que oram nas ruas do país à invasão nazista na França.

Imagem de insegurança

Segundo uma pesquisa do Instituto Ifop, Le Pen seria eleita em primeiro turno, caso as eleições presidenciais de 2017 fossem realizadas em julho passado. No início da semana, a opositora afirmou à rádio France Info que o romance Soumission (Submissão, em livre tradução) — lançado neste ano pelo escritor Michael Houellebecq e que descreve um cenário em que todos os partidos franceses se unem para derrotar um político muçulmano — “poderia se tornar realidade um dia”.