Três das maiores capitais do país tiveram a sexta-feira marcada por protestos contra o aumento das tarifas do transporte público. Assim como ocorreu em 2013, quando o reajuste das passagens gerou uma onda de manifestações, alguns dos atos de ontem começaram de forma pacífica, mas acabaram descambando para o vandalismo, com confrontos entre manifestantes e policiais. Em São Paulo, onde houve a maior concentração de ativistas, diversas agências bancárias foram depredadas e 51 pessoas acabaram detidas pelo suposto envolvimento nos atos de destruição. Nas outras cidades, apesar de momentos de tensão pontuais, os protestos terminaram sem detidos ou depredação.
Iniciado no centro da capital, o ato de São Paulo pedia a revogação do reajuste das passagens de ônibus, trens e do Metrô, que subiram de R$ 3 para R$ 3,50 na última terça-feira. Cerca de 2 mil manifestantes marcharam pacificamente até a rua da Consolação, nas proximidades da Avenida Paulista. Desde o início, o ato foi acompanhado por black blocs -ativistas mascarados que se vestem de preto e pregam a violência como forma de protesto.

Próximo ao anoitecer, a depredação de uma agência bancária e o ataque quase simultâneo a uma concessionária de veículos, na Rua Augusta, decretaram o início da atuação policial. Os efetivos de segurança pública contavam com 800 homens da Tropa de Braço - armados apenas com cacetetes e especialistas em artes marciais - e da Tropa de Choque, entre outros. Bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha foram disparadas para a dispersão dos manifestantes.

Lixo foi espalhado e incendiado nas ruas pelos black blocs. Mais duas agências e algumas lojas foram alvo de pedradas. Com a violência, parte dos manifestantes se dispersou. A Polícia Militar deteve 51 pessoas que teriam participado dos atos de vandalismo. Nas redes sociais, o perfil da PM criticou a "democracia pregada pelos vândalos" e comparou, em uma fotomontagem, os black blocs com presidiários de facções criminosas. Em nota, o Movimento Passe Livre (MPL) de São Paulo, responsável pela convocação do protesto, repudiou a atuação da polícia, à qual classificou a detenção de manifestantes como uma "repressão brutal". O MPL contestou ainda a contagem da PM e disse que 30 mil pessoas participaram do ato.

Reivindicação

No Rio de Janeiro, onde a passagem passou de R$ 3 para R$ 3,40, o protesto foi predominantemente pacífico. Enquanto os cerca de 500 manifestantes se dispersavam, no início da noite, alguns poucos black blocs atearam fogo em amontoados de lixo. Assim como em São Paulo, a polícia reagiu com balas de borracha e gás lacrimogêneo. Em diversos momentos, as pessoas pediram a liberdade dos manifestantes que foram presos no ano passado, com o canto repetido em outros atos: "Presos políticos, liberdade já, lutar não é crime vocês vão nos pagar".

Em Belo Horizonte, cerca de 500 pessoas foram ao centro da capital, mesmo com a com a decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) de suspender o reajuste das passagens. Em uma longa caminhada, o grupo bloqueou as principais vias da capital mineira, causando retenção no trânsito. O único momento de tensão se deu quando algumas pessoas ameaçaram pular a catraca do BRT, o que não chegou a acontecer.

"Presos políticos, liberdade já, lutar não é crime vocês vão nos pagar"

Grito dos manifestantes do Rio sobre as prisões do ano passado

30 mil

Quantidade de pessoas no protesto em São Paulo divulgada pelos organizadores

A disseminação da violência

Em junho de 2013, uma série de manifestações começaram em São Paulo contra o aumento de R$ 0,20 na tarifa de ônibus, convocadas pelo Movimento Passe Livre. a dura repressão da polícia, no entanto, com o uso indiscriminado de balas de borracha - que deixaram pelo menos duas pessoas cegas - causou a disseminação de protestos por todo o Brasil. Naquele momento, ainda não havia a presença de black blocs. Ao se espalharem, as manifestações abarcaram outras pautas, como o aumento das verbas para a saúde e a educação e o combate à corrupção. As suspeitas de sobrepreço em estádios da Copa do Mundo de 2014 acabaram levando às ruas o bordão de "Não vai ter Copa".