Com reajuste da gasolina e alta dos alimentos e bebidas ao longo do mês, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve acelerar entre outubro e novembro, mas menos que o antecipado no início do semestre, quando as estimativas para a inflação no mês estavam em torno de 0,6%.

Agora, a estimativa média de 17 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data indica que o IPCA subiu 0,54% no mês passado, acima da alta de 0,42% registrada em outubro. As projeções para o dado, que será divulgado amanhã pelo IBGE, variam entre avanço de 0,52% e 0,58%.

Embora a expectativa seja de aceleração na passagem mensal, se confirmado este resultado, economistas afirmam que aumenta a probabilidade de o índice oficial de inflação encerrar o ano abaixo do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%. Ainda assim, só em dezembro a inflação deve voltar para dentro do limite estabelecido pelo regime de bandas.

Em novembro, a inflação acumulada nos últimos 12 meses deve ficar em 6,59%, mesmo patamar observado em outubro.

Fabio Romão, economista da LCA Consultores, estima alta de 0,53% do índice oficial de inflação em novembro, principalmente por causa do comportamento esperado para os alimentos e bebidas.

O grupo, que subiu 0,46% em outubro, deve agora registrar avanço de 0,76%, já que as coletas de preços mostram pressões em produtos in natura e em carnes.

Os tubérculos e raízes, por exemplo, devem ter subido pouco menos de 15% no mês passado, enquanto as hortaliças e verduras devem ter ficado 2,7% mais caras. Para Romão, esses aumentos são típicos desse período do ano, mas podem estar sendo mais acentuados em função do clima bastante seco que tem sido predominante. Já as carnes devem passar de alta de 1,46% para aumento de 2,9% entre outubro e novembro, em decorrência do encarecimento das rações e de pressões no atacado.

Outro grupo que deve acelerar, comenta Romão, é transportes. O reajuste da gasolina e do diesel autorizado pela Petrobras no dia 7 de novembro deve levar os preços do Etanol e da gasolina a subirem 1% e 2%, respectivamente. Assim, o grupo, que registrou aumento de 0,2% em outubro, deve ter alta de 0,5% nesta leitura. A aceleração de transportes só não será maior porque a fraqueza da atividade econômica deve ter efeito sobre os preços de automóveis, com deflação tanto dos veículos usados quanto dos novos, afirma Romão.

Eduardo Velho, economistachefe da INVX Global Partners, também avalia que o baixo dinamismo da economia e o aumento da taxa de juros começam a se refletir de forma mais intensa sobre os preços, principalmente na comparação com o primeiro semestre.

O economista, que estima inflação de 0,52% em novembro, avalia que esse movimento tem sido observado de forma mais evidente em serviços.

Neste período do ano passado, por exemplo, a inflação em 12 meses acumulada por esses itens estava mais próxima de 8,7%, variação que cedeu para 8,3% na prévia de novembro deste ano.

Para Romão, da LCA, outros componentes do IPCA também sugerem maior influência da atividade sobre a dinâmica de preços. É o caso de vestuário, por exemplo, que subiu 0,62% em outubro e deve desacelerar para 0,56% em novembro, comportamento atípico para o período. Romão avalia que essas "ajudas" explicam em boa parte a surpresa positiva com os índices de preço em novembro, em relação às expectativas no início do semestre. Ainda assim, diz, há risco de não cumprimento da meta neste ano, já que a estimativa é que o IPCA suba 0,82% neste mês, o que levaria a inflação acumulada em 12 meses para 6,47% ao fim do ano. "Com essa projeção, não dá para ignorar o risco de que o índice venha a superar o teto da metal".

 

Superávit de 1,2% é possível, mas insuficiente, diz Lisboa

 

A meta de superávit primário do setor público consolidado definida para 2015, de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), é considerada factível, mas insuficiente para recuperar a credibilidade da política fiscal. Segundo especialistas que participaram ontem de debate sobre perspectivas econômicas para o próximo ano, o sucesso de um ajuste de longo prazo e com efeito positivo sobre o crescimento passa obrigatoriamente pela comunicação de medidas transparentes, com detalhamento de quais cortes de gastos e aumentos de impostos serão feitos, sem uso da chamada "contabilidade criativa". Para Marcos Lisboa, vice-presidente do Insper, o esforço fiscal necessário para equilibrar a trajetória da dívida pública bruta em relação à renda - estimado por ele em cerca de 2,5% do PIB, sem receitas e despesas extraordinárias - não será feito no próximo ano, mas Joaquim Levy [ministro da Fazenda] é um dos "dois ou três melhores nomes" para conduzir o ajuste. O outro nome mencionado foi o de Armínio Fraga. Embora a meta para 2015 seja "ambiciosa" - dado que, atualmente, estimativas apontam para um déficit primário na ordem de 0,5% do PIB, também descontando "truques fiscais" -, Lisboa afirmou que a equipe econômica "foi muito feliz" ao sinalizar um compromisso para os próximos dois anos. Por outro lado, comentou que seu ceticismo aumentou nas últimas semanas, já que, desde as eleições, todas as decisões legislativas caminharam em sentido contrário ao ajuste fiscal. Além disso, Lisboa criticou como as possíveis medidas fiscais têm vindo à tona: de forma anônima, quando restritivas, e "com nome e sobrenome", quando podem agravar a situação fiscal. "Ou terá uma agenda de governo clara, dizendo vamos cortar tais despesas, vamos enfrentar o debate democrático para construir um futuro melhor para o país, ou não vai ser feito o ajuste necessário e aí eu temo pelo futuro da economia", afirmou. Assumindo que haverá alteração no rumo da política econômica, o pesquisador Samuel Pessôa, do Ibre-FGV, apontou que os próximos dois anos dependerão, "talvez como nunca", da capacidade política de construir consensos para votar as mudanças necessárias. Na visão de Pessôa, apesar de um superávit primário de 1,2% do PIB em 2015 ser possível, o quadro fiscal hoje é pior do que o de 2003 e comparável ao de 1997, o que exige um ajuste "muito duro". Além da maior fragmentação política no Congresso, Carlos Eduardo Gonçalves, da Faculdade de Economia e Administração da USP, mencionou outros três fatores como obstáculos ao reequilíbrio de longo prazo das contas públicas: resistências internas do PT, a suposta descrença da presidente Dilma Rousseff de que o ajuste fiscal é indutor da estabilidade do crescimento sustentável e, ainda, o efeito de curto prazo restritivo que apertos fiscais têm sobre a atividade.

 

Centro da meta é objetivo para inflação em 2017

 

Crescimento econômico de até 1% em 2015, inflação ao redor de 6,5% e juros próximos de 12,5% ao ano compõem o cenário para o próximo ano desenhado por economistas reunidos ontem em um evento em São Paulo. "Há um desejo de fazer um ajuste não só fiscal, mas monetário e cambial", afirmou o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn. Para ele, não está entre os objetivos da autoridade monetária ter a inflação no centro da meta no próximo ano e nem mesmo em 2016. "Mas 2017 é um objetivo realista. Ancorando-se as expectativas é possível chegar a 4,5% em 2017 com uma taxa Selic de 12,5%". Segundo Goldfajn, a atividade econômica pode crescer até 1% em 2015, com viés baixista, em meio à possibilidade de racionamento de energia e queda de preços de commodities. Já a inflação de 6,5% também em 2015 deve ser puxada especialmente pelo real mais fraco. Para o CEO da Goldman Sachs, Paulo Leme, o país deve continuar com taxas de juros atraentes ao investidor externo, de 12,5% em 2015. Ele diz que o mercado internacional está a favor do Brasil, dadas as baixas taxas de juros globais, mas é preciso reorganizar a economia antes que os juros americanos retomem a trajetória de alta - o que deve ocorrer no fim de 2015 ou no começo de 2016. Em razão da baixa poupança doméstica, diz Leme, o país pode enfrentar um problema de financiamento externo, caso o banco central americano decida elevar os juros antes. Leme também afirmou que a contenção do financiamento dos bancos oficiais virá muito mais por falta de "combustível do que por vontade". Entre os avanços na parte fiscal, o consultor econômico Raul Velloso disse que Joaquim Levy, indicado como novo ministro da Fazenda, pode suspender o reajuste de salários do funcionalismo e atuar sobre as autorizações de empréstimos para Estados e municípios.

 

Delfim prevê 'mudança de 180 graus'

 

O ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto acredita que o superávit primário de 1,2% do setor público consolidado prometido pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para 2015 é crível. O ajuste, entretanto, será desafiador, especialmente na falta da ajuda vinda do cenário externo que o ex-presidente Lula recebeu em seu primeiro ano de mandato, quando a economia mundial crescia e os termos de troca eram bastante favoráveis ao país.

Em evento promovido pelo Conselho Regional de Economia (Corecon) em São Paulo, Delfim elogiou a nova equipe e afirmou que ela promoverá uma "mudança de 180 graus" na política econômica, capaz de colocar o país de volta à trajetória de crescimento.

O ex-ministro sugeriu que sejam incluídas entre as prioridades da nova gestão a conclusão da reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - segundo ele, a má alocação de recursos decorrente das distorções do tributo retira 0,5 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) todos os anos -, e a proposta da Central Única dos Trabalhadores (CUT) para que a negociação salarial feita entre empresas e funcionários prevaleça sobre a legislação trabalhista.