O leilão de energia A-1, que ocorrerá amanhã, não deve ser suficiente para que as distribuidoras garantam contratos para abastecer seu mercado cativo ao longo de 2015. A expectativa é que, pelo menos ao longo do primeiro semestre, as empresas do setor continuem tendo de recorrer ao mercado de curto prazo para garantir seu abastecimento. Especialistas esperam que haja a contratação de apenas parte dos cerca de 2,5 mil megawatts (MW) médios necessários para fechar as contas do próximo ano, já que há poucas empresas com disponibilidade para entregar energia a partir de janeiro. Além disso, o preço-teto oferecido - de R$ 201 por megawatt-hora (MWh), na modalidade mais cara - é visto como pouco atrativo frente aos praticados no mercado de curto prazo, que devem rondar o teto de R$ 388/MWh ao longo do ano. Nesse contexto, a Eletrobras deve voltar a garantir a maior parte da oferta no certame. "Os preços não parecem atrativos na nossa avaliação e o leilão pode ser dominado por vendedores controlados pelo governo federal", afirma Antonio Junqueira, do BTG Pactual, em relatório. Nas contas da consultoria PSR, pelo menos 1,7 mil megawatts médios estão disponíveis para serem ofertados, por meio de Furnas e da Eletronorte, subsidiárias da estatal federal - que ironicamente, tem as distribuidoras com maior necessidade de contratação. A Cepisa, do Piauí; a Ceal, de Alagoas; e a acreana Eletroacre estão entre aquelas com maior demanda para próximo ano e podem sofrer a maior pressão com a compra de energia cara no mercado. Neste ano, vencem contratos de energia entre geradoras e distribuidoras que somam cerca de 4 mil MW médios. O leilão A-1 permite a recontratação desse volume, com entrega para o ano seguinte. Desta vez, no entanto, a conta não será tão simples. Isso porque é prevista a entrada de cerca de 4 mil MW médios de usinas cujas concessões vencerão em 2015 e passarão a entregar energia barata ao sistema, em linha com o previsto pela Medida Provisória 579, de 2012, que visava reduzir a conta de luz dos consumidores. O que, a princípio, seria uma solução para o setor de distribuição, já que essa energia a preços mais baixos será "rateada" entre as empresas, tornou-se um problema de difícil solução em 2015. A maior parte da energia - cerca de 3 mil MW médios - entra no sistema apenas a partir de julho, criando um descasamento ao longo do ano. "As empresas podem optar por ficar com o cobertor curto no começo do ano e recorrer ao mercado de curto prazo, ou com o cobertor comprido demais, com muita sobra para o fim do ano", afirma Silvio Areco, da Andrade & Canellas. A tentativa de equacionar a situação passará por uma verdadeira ginástica regulatória e começará pela realização de um leilão de ajuste em janeiro, com regras flexibilizadas, e contratos de entrega em até seis meses. Tradicionalmente, esse tipo de certame permite que haja a contratação de apenas 1% da demanda das distribuidoras e tem preços fixos relativamente baixos. Agora, a própria Aneel reconhece, em nota técnica no dia 24, que um eventual leilão de ajuste "exigiria uma flexibilização do valor de referência para ser viabilizado e do montante máximo para ser eficaz". A previsão é da agência é que esse leilão negocie pelo menos 1,5 mil MW médios. Ricardo Savoia, diretor da Thymos Energia, afirma, no entanto, que pode haver nova frustração de oferta, por conta dos preços elevados no mercado de curto prazo, e não descarta a possibilidade de realização de novo leilão A-0 - novidade criada no ano passado para resolver problemas de descontratação das distribuidoras, com entrega de energia prevista para o ano corrente. A própria Associação Brasileira das Distribuidoras (Abradee) reconhece que pode haver demanda frustrada no leilão de amanhã e que os riscos de subcontratação são elevados no primeiro semestre. Mas o diretor Marco Delgado lembra que a redução do teto do Preço da Liquidação das Diferenças (PLD), de R$ 822 para R$ 388, aprovada no mês passado, tendem a diminuir o impacto da compra de energia no mercado spot. Além disso, lembra o executivo, a entrada das bandeiras tarifárias, que implica uma cobrança maior dos consumidores quando as térmicas estão acionadas, devem suavizar a pressão no caixa. Já a sobra de energia no segundo semestre não trará riscos ao sistema, na visão da Aneel. Em nota técnica, a agência estima que, no caso de contratação plena das distribuidoras na primeira metade do ano, o excedente de energia das distribuidoras ficaria em 1,6 mil MW médios, nível equivalente a 5% da demanda total e considerado "aceitável".