A indústria brasileira do alumínio voltou no tempo. Desde 1990, a produção de metal primário não ficava inferior a 1 milhão de toneladas e há cinco anos o consumo de produtos transformados de alumínio não tinha retração. O Brasil terminará 2014 com produção de 978 mil toneladas de alumínio primário, 25% menos do que no ano passado. Na ponta do consumo, a previsão é de 1,4 milhão de toneladas de produtos e semimanufaturados, 3,9% abaixo do volume de 2013. Os números são da Associação Brasileira do Alumínio (Abal) e foram obtidos com exclusividade pelo Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor.

Com redução da demanda principalmente nos setores de transportes, bens de consumo e construção civil, a demanda por produtos e semimanufaturados foi uma surpresa negativa para o setor. Em agosto, a Abal ainda esperava uma reação do mercado, com estimativa de queda de apenas 0,8% no ano. A esperança era de uma recuperação da demanda por alumínio para construção civil, que correspondia por 15,5% das compras do setor. Porém, ao fim de setembro o resultado apurado pela Abal era de queda de 7,8% no consumo em relação ao mesmo período de 2013, com 168,5 mil toneladas.

Considerando todos os produtos - chapas, folhas, extrudados, fios, cabos, pó, fundidos e destrutivos de alumínio -, o consumo caiu 2,5% nos primeiros nove meses do ano, cujos dados já foram fechados pela Abal. O mercado de fundição teve o pior desempenho no período, com uma queda de 16,8% decorrente da redução da demanda do setor automotivo.

"Desde 2009 não tínhamos uma queda no consumo dos transformados. É indispensável que os agentes econômicos voltem a investir. O Brasil está com uma taxa de formação bruta de capital fixo baixíssima", afirma Milton Rego, presidente da Abal.

A Abal não tem uma projeção oficial para o ano que vem, mas Rego acredita que o consumo voltará a crescer, podendo ter um aumento de 5%. "Temos em 2014 uma interrupção do crescimento no mercado de transformados, mas geralmente, o setor avança cerca de 4 ou 5 pontos percentuais mais do que o PIB."

Com o consumo dos produtos na casa de 1,5 milhão de toneladas e a produção de alumínio primário no patamar de 900 mil toneladas, crescem as preocupações com o abastecimento interno do metal e o aumento da dependência das importações.

"O Brasil tem que repensar o que fará no setor industrial. Por meio século, construiu uma matriz energética limpa e competitiva. Isso é importante do ponto para o alumínio primário. O Brasil vai ter que definir de onde virá seu alumínio", afirma o presidente da Abal.

Alcoa, Votorantim Metais, BHP Billiton e Novelis fecharam linhas de produção desde o ano passado, citando o alto custo da energia como um dos principais problemas. Atualmente, a energia corresponde por 55% dos custos totais das empresas, muito acima dos 34% de dez anos atrás, segundo a Abal.

Da geração própria de energia, as companhias só podem retirar para uso próprio, ao preço de custo, cerca de 10% do que gastam. A maior parte precisam adquirir no mercado, e o custo era de US$ 61,2 por MWh no ano passado, segundo Rego, mais do que o dobro do valor de 2001. Para que as companhias pudessem retomar a produção, seria preciso um custo mais próximo de US$ 40 por MWh.

O atual preço do alumínio também não favorece a produção. O metal está sendo vendido por US$ 2,1 mil por tonelada na bolsa de Londres (LME) e um preço que incentivaria as companhias a retomar a produção, considerando custos atuais, seria de US$ 2,5 mil por tonelada, segundo estimativas de uma fonte do setor.

Rego enfatiza as consequências negativas da queda da produção para balança comercial do setor. Nos primeiros nove meses do ano as importações brasileiras de alumínio primário e ligas cresceram 369% em relação ao mesmo período do ano passado. Para todo o ano de 2014, a Abal estima 384 mil toneladas, 269% mais do que em 2013.

Parte do alumínio que estava sendo exportado - como é o caso de parte da produção da Albras, em Barcarena (PA) - passou a ser destinada ao mercado local. Com isso, as exportações devem terminar o ano em 318 mil toneladas, 24% menos do que no ano passado, estima a Abal.

"Estamos vendo um enorme aumento das importações de alumínio e aumento das exportações de alumina. O Brasil está claramente virando um exportador de commodities", afirma Rego. As exportações de alumina e bauxita devem terminar o ano em alta de 20%, nos cálculos da Abal, em US$ 2,6 bilhões, enquanto as importações de alumínio e produtos devem somar US$ 2 bilhões, alta de 54% em relação a 2013.

Considerando toda a indústria do alumínio, as importações devem subir 52,7% no ano, para US$ 2 bilhões, enquanto as exportações vão crescer 9,5%, para US$ 3,9 bilhões, nas projeções da Abal, sendo US$ 2,3 bilhões de alumina.