Título: Descrédito impõe saída de Nascimento
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Fonte: Correio Braziliense, 06/07/2011, Opinião, p. 14

Não é compatível com a eficácia da gestão administrativa e a lisura moral exigível no exercício das funções de governo o envolvimento de gestores públicos em supostos esquemas de corrupção. A observação parece repetir o óbvio, não fosse a rotina de casos que violam princípios da espécie.

As autoridades expostas ao descrédito das ruas urgem ser afastadas de imediato, caso não o façam por iniciativa própria. Escândalos de semelhante natureza causam mais desgaste ao governo do que aos envolvidos. Daí a necessidade da cirurgia política para extirpá-los.

A situação do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, se enquadra à perfeição no painel acima desenhado. Contra ele pesam denúncias sobre supostos pagamentos de propinas na execução de obras da pasta. As operações indecorosas foram atribuídas ao chefe de gabinete do ministro, Mauro Barbosa da Silva, ao assessor Luís Tito Bonvini, ao diretor-geral do Departamento de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, e ao presidente da estatal Valec Engenharia, José Francisdo das Neves. Por ordem da presidente Dilma Rousseff, Nascimento demitiu os quatro subordinados.

Os desvios criminosos dos dinheiros públicos ¿ assim constam das acusações sobre a onda de corrupção no Ministério dos Transportes (MT) ¿ teriam seguido formato de partilha entre os beneficiários diretos e o PR (Partido da República), a que se filia o ministro. Uma coincidência bastante sintomática é o fato de que, dos cinco parlamentares beneficiados com emendas para obter recursos do MT, três são do PR ¿ um deles, o secretário-geral da sigla, Waldemar Costa Neto, renunciou ao mandato em agosto de 2005 para não ser cassado por participar do mensalão.

Alfredo Nascimento sangra em meio a um turbilhão político. Está sob ameaça de submeter-se a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Pelo menos é no que trabalha a oposição. Também contra ele e os auxiliares demitidos se movimentam várias comissões do Senado, o Ministério Público, o Tribunal de Contas da União e a Polícia Federal. Um dos líderes do próprio PR, o senador Blairo Maggi (MT), quer vê-lo depor nas comissões de Fiscalização e Controle e de Infraestrutura para que explique as incriminações.

O vendaval contra Nascimento sopra de todos os lados. Seria ingenuidade imaginar que o PT cuidaria de patrocinar-lhe a defesa. Não o fez na maré montante de imputações que acabou por afogar Antonio Palocci, um dos líderes petistas de maior estatura. Não o fará com certeza para livrar o ministro da corda que lhe passam ao pescoço. Contudo, faria bem à sua biografia política deixar o cargo e sair em campo para defender-se. Deve fazê-lo com a maior urgência, antes que a presidente Dilma Rousseff, para salvaguarda da honorabilidade do governo, o demita.