Ao assumir a principal cadeira da Câmara dos Deputados, um dos três principais candidatos terá a missão de comandar a Casa em meio ao turbilhão de denúncias reveladas pela Operação Lava-Jato, que investiga um esquema milionário de corrupção. Arlindo Chinaglia (PT-SP), Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ou Júlio Delgado (PSB-MG) vão precisar de articulação política para lidar com as citações que envolvem pelo menos 40 políticos. Mais que isso. Terão que lidar com uma possível crise no Palácio do Planalto, que reduz o orçamento para conter as despesas e fazer o Brasil voltar a crescer. Com perfis extremamente diferentes - um mais retraído, outro mais falante e um terceiro mais arrogante -, os três candidatos podem causar reviravoltas às vésperas da eleição, marcada para às 18h de 1° de fevereiro, um domingo. "Se somados os votos que cada candidato fala que tem, você contabiliza uns 700 parlamentares", ironiza um petista. Assim, a definição deve mesmo ser revelada só após ser encerrada a votação. Confira abaixo quem é quem na disputa.
O trunfo

do Planalto

na disputa

Paulista da pequena Serra Azul, o deputado federal Arlindo Chinaglia Júnior (PT) se fez conhecido pelo seu jeito interiorano de político reservado, retraído, centrado e pragmático. "Ele pode até discordar de uma questão apresentada pelo Planalto, mas jamais vai expor suas posições contrárias para outras pessoas. Ele tem posições heterodoxas, mas faz um discurso pragmático, de acordo com as conveniências", definiu um aliado político. Tal traço fez com que fosse considerado nome de consenso do partido para disputar, pela segunda vez, a Presidência da Câmara dos Deputados em 1° de fevereiro.

Ex-presidente da Câmara, ex-líder de governo e atual vice-presidente da Casa, Chinaglia é a aposta do Planalto para garantir um primeiro biênio mais tranquilo ao segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. "Ele não vai ser uma surpresa. É um presidente que todo mundo sabe que postura vai ter. Não vai ser governista de forma a anular a oposição e nem vai usar o cargo para fazer oposição. O que mais favorece o Arlindo é a segurança de ser um presidente sem sustos, sem sobressaltos", analisou um deputado petista. Porém, a passagem conturbada dele pelo cargo em 2007 ameaça atrapalhá-lo.

"Todo mundo conseguiu reclamar dele", lembrou outro parlamentar que presenciou a gestão do paulista na Casa. Na avaliação de deputados, Chinaglia era severo e áspero ao tratar determinados assuntos. "Ele não é aquela pessoa que faz populismo para agradar", detalhou outro congressista. O vice-presidente nacional do PT, deputado federal José Guimarães (CE), o considera "o nome certo para a hora certa". "A Câmara está precisando de menos espetáculo, de uma pessoa mais comedida e ele tem esses predicados", avaliou o ex-líder do PT na Casa.

"Ele fará uma gestão que viabilizará o diálogo e não uma gestão que gerará crise institucional", reforçou o também deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP). Petistas contam com o parlamentar para fazer uma calmaria na Câmara. "O bom juiz de futebol é aquele que você não se lembra dele quando termina o jogo porque as grandes atrações foram os jogadores. Ele tem de ser um presidente sem nenhum grande erro, sem atuação espalhafatosa. Se ele for assim, será eficaz para o Congresso e já é uma grande vitória para o país", resumiu outro parlamentar.

Favorito,

mas citado

na Lava-Jato

Apontado como favorito à disputa à Presidência da Câmara, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sofreu um revés, na semana que passou, com denúncias de participação no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato. Ameaçado, considerou as acusações uma retaliação política para tentar derrubá-lo às vésperas da eleição que poderá lhe render o comando da Câmara. Alegou serem insinuações frágeis, sensíveis, sem provas. Porém, aliados defendem que Cunha sairá fortalecido deste episódio.

De pavio curto, como definem os mais próximos, o líder do PMDB ficou enfurecido com as citações. Porém, vestiu a roupagem de político articulador e continuou a campanha. "Ele é inteligência pura", elogiou o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) sobre o poder de articulação do colega. Congressistas admiram a capacidade do candidato de entender de projetos, do Regimento da Câmara, e de cumprir promessas. "Uma das virtudes dele é a palavra. Se ele fecha o acordo, ele cumpre", acrescentou Lima.

São esses acordos selados durante a campanha eleitoral que garantiram o título de preferido à corrida à Presidência. Evangélico, casado e pai de quatro filhos, Cunha não tem problema em conseguir dinheiro. Economista, ajudou a intermediar financiamentos eleitorais para colegas na Câmara. Porém, atrás da inteligência há um líder arrogante e truculento, que coleciona uma legião de adversários e desafetos. "Ele é rancoroso e guarda mágoa. Pior, prepara para se vingar no momento mais apropriado", lembrou um especialista. Cunha admite: "Sou uma pessoa que tem opinião. Quem age assim gera controvérsias. Quem gera controvérsias ganha admiradores e inimigos. Faz parte", minimizou.

A vitória do economista na Câmara pode representar uma derrota no Planalto. Parlamentares brincam que o líder - que comandou um blocão de 250 deputados em 2014 - tira o sono da presidente Dilma Rousseff. Um pouco do exemplo a ser seguido foi apresentado ainda durante a MP dos Portos, em maio passado, quando sangrou o governo ao longo de 40 horas, na mais longa votação da Câmara. Em contrapartida, mostrou que sabe ceder ao ajudar o Planalto a aprovar a proposta que alterou a meta fiscal. "Se Eduardo vencer, cada projeto será um diálogo. Não tem mais piloto automático. Não será uma relação de submissão e o Palácio vai ter que conversar para cada aprovação", avaliou um congressista.

Ética, a

promessa

de campanha

Despontando como uma terceira via na disputa à Presidência da Câmara, o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) pretende repetir o desempenho de 2013 quando alcançou 165 votos contra os 271 de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) mesmo sem contar, naquela época, com o apoio do partido socialista. Mais novo deputado na corrida, aos 48, e com a relatoria de duas perda de mandato de parlamentares no currículo, o mineiro de Juiz de Fora trabalha para convencer os colegas de que tem competência para presidir a Casa e tenta tirar a impressão de que tem perfil de "carrasco" de políticos.

O título acabou reforçado após apresentar parecer no Conselho de Ética da Câmara que pedia a perda dos direitos políticos de André Vargas (ex-PT-PR), que culminou na cassação dele. Vargas era acusado de manter relações com o doleiro preso pela Polícia Federal Alberto Youssef. Ele nega. Antes dele, em 2005, Delgado havia trabalhado em um dos mais importantes processos da história da Câmara: a cassação do ex-deputado federal José Dirceu (PT-SP), que serviu de base para o procurador-geral da República, à época, Roberto Gurgel, denunciar 40 pessoas por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, entre outros, no esquema conhecido como mensalão do PT.

"Ao pedir voto a um deputado, ouvi dizer que hesitava votar em mim porque eu era o deputado que cassava políticos. Questionei o que ele faria se estivesse no meu lugar, relatando casos como aqueles e ouvi uma resposta de compreensão", contou o mineiro, lembrando que o deputado entendeu que as cassações eram necessárias. Advogado, Delgado se orgulha de ter cuidado da ética no parlamento. "Como acredito que a maioria dos parlamentares seja ética, ele tem muita chance de ser eleito. A postura ética dele é uma qualidade, não um empecilho" , avaliou a senadora Lídice da Mata (PSB-BA).

Conciliador e com perfil de liderança, o filho do ex-deputado mineiro Tarcísio Delgado conseguiu reunir políticos de diferentes idades e perfis no famoso futebol dos deputados. Até mesmo Tiririca (PR-SP), que pouco interage com parlamentares no plenário do Congresso, participa da partida, que tem direito a bate-papo com churrasco e cerveja para relaxar após a rotina de trabalho. "Júlio tem liderança. Está no quarto mandato, mas tem política no sangue. É com esse perfil que vai conseguir seus votos", comentou um congressista.