Realidade tarifária regional, os aumentos extraordinários em fevereiro e os ordinários para distribuidoras ao longo do ano devem piorar a situação no Centro-Oeste, no Sudeste e no Sul. Risco de racionamento cresce com falta de chuvas previstas para o iníco de 2015

Os consumidores das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste podem preparar o bolso: fontes do governo já admitem que a conta de luz pode subir de 50% a 60%, quando considerado o aumento extraordinário em fevereiro e os reajustes ordinários para as distribuidoras de energia elétrica ao longo do ano. As simulações foram feitas com base na realidade tarifária de cada região e no orçamento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que precisará arrecadar cerca de R$ 23 bilhões em 2015.
Pelos cálculos do presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, a média nacional do reajuste será de 40%. Pela simulação do governo, nas regiões Norte e Nordeste, o aumento total da conta de luz deve ficar em torno de 25%. Os cálculos não consideram um eventual alongamento do prazo de pagamento dos empréstimos de R$ 17,8 bilhões concedidos no ano passado por bancos às distribuidoras de energia elétrica.

Para Pires, há risco de crescimento da inadimplência e estímulo ao roubo de energia. "Mais uma vez, estamos na contramão do mundo, há quatro anos, pelo menos, quando se resolveu atrelar a política de preços ao calendário eleitoral. Abaixou-se o preço da energia elétrica e da gasolina para a Dilma ganhar a corrida presidencial. Enquanto isso, o mundo aumentava. Agora que o mundo está abaixando os preços, vamos aumentar. E tudo foi feito da mesma forma autoritária. Isso é um estelionato", reclamou.

Pires acredita que o estrago feito no setor energético foi tão grande, que nem com o tarifaço vai ser possível consertar. "O governo deveria se reunir com as empresas e discutir um elenco de medidas, que, com o aumento de tarifas, resolvesse o problema em um prazo de dois anos. Isso mostraria mais respeito com o consumidor e, provavelmente, evitaria uma inadimplência maior do que a que virá agora", sugeriu.

Economia

Para piorar a situação, além de pagar mais caro, os consumidores correm o risco, cada vez maior, de racionamento. Segundo o presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Carlos Faria, a chance de haver economia compulsória de energia é de 30%, apesar de o governo dizer que é de 5%.

Ontem, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) reduziu para 18,5% a estimativa para o nível dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste - responsáveis, com as do Centro-Oeste, por 70% de toda a energia produzida no país - no fim do mês. No informe do Programa Mensal de Operações, a ONS estima que as chuvas na região atingirão 44% da média histórica. Na semana passada, a previsão era de que seria de 56% e os reservatórios chegariam a 22,7% em janeiro.

Diante de tal cenário, em que as precipitações têm se mostrado bem mais escassas do que o esperado, uma possível necessidade de racionamento do consumo de eletricidade volta a rondar o planejamento de consultorias e comercializadoras de energia do país.

De acordo com o meteorologista da Climatempo Alexandre Nascimento, há expectativa de retorno das chuvas nos últimos 10 dias de janeiro, "mas isso não vai compensar essas duas primeiras semanas deste mês e a última de dezembro, que tiveram pouquíssima chuva", disse.

Apesar de as previsões de chuva poderem mudar rapidamente, Nascimento lembra que as previsões têm se mostrado melhores que a realidade nos últimos tempos. "Olhando as condições atuais, tanto de reservatórios como do clima, acho que não tem chuva para reverter a situação de forma tão satisfatória para dizer que a situação estará tranquila em abril."