Título: Os louros de Ideli
Autor: Torres, Izabelle; Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 01/07/2011, Política, p. 2

A decisão de prorrogar por 90 dias a validade de restos a pagar de 2009 que ainda não foram liberados oxigenou a articulação política do governo e reforçou a posição da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Logo pela manhã, líderes de variados partidos colocaram a ministra no primeiro lugar do pódio da negociação. Ela foi apontada como uma das principais responsáveis pela tarefa de convencer a presidente a rever a decisão. "Ideli foi a condutora do processo. Parceira o tempo todo", diz o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

O trabalho dela teve início na terça, quando saiu de almoço com quase 30 deputados na casa de Alves. Ali foi alertada do mal-estar na base em função do cancelamento das emendas. Falou com Dilma e disse que faria uma peregrinação. Conversou com a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e procurou a equipe econômica. A presidente lhe deu sinal verde para os movimentos.

Na manhã de quarta, reuniu-se com o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza; do PT no Senado, Humberto Costa; e com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Ali, o veredito: ou o governo se convencia a fazer um gesto de apreço à base ou teria problemas.

Giles Carriconde, chefe de gabinete de Dilma, receberia à tarde um telefonema do presidente em exercício do PMDB, Valdir Raupp, reforçando a posição. Dilma chegou do Paraguai à noite e recebeu os recados por Giles e Ideli. Nesta última reunião, Ideli convenceu Dilma de que, na prática, nem todos os R$ 4,3 bilhões serão liberados por problemas que independem do governo.

E a área econômica acenou com a liberação das emendas de 2010 apenas em setembro. Assim, a presidente cedeu. "Foi um parto", definiu Humberto Costa. "Ideli se fortaleceu. Confusão agora, se tiver, só em agosto", afirmou Valdir Raupp.