Procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato embarcam, pela segunda vez, para a Suíça em busca da fortuna desviada da Petrobras e transferida para contas do exterior. Levantamento com base nos depoimentos do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e dos executivos da empreiteira Toyo Setal Júlio Camargo e Augusto Mendonça, que firmaram acordo de delação premiada, apontam a existência de pelo menos US$ 183 milhões em contas espalhadas pelo mundo. Hoje, uma nova comitiva segue em busca de mais provas e documentos sobre o propinoduto da Petrobras fora do país.

Um dos principais objetivos é rastrear todo o dinheiro depositado por Paulo Roberto Costa na Suíça. Conforme o ex-diretor, pelo menos US$ 23 milhões foram transferidos para uma conta bancária aberta no país. Costa afirma ter recebido os recursos da empreiteira Odebrecht. A construtora, que não teve nenhum executivo denunciado no âmbito da Operação Lava-Jato, nega a informação. Desta vez, os procuradores vão tentar, com o apoio do Ministério Público da Suíça, identificar todos os intermediários que ajudaram a realizar as operações financeiras no exterior.

O próprio Paulo Roberto Costa e os executivos Júlio Camargo e Augusto Mendonça afirmam haver US$ 160 milhões e mais o equivalente a R$ 50 milhões ou R$ 60 milhões escondidos fora do país. Em parecer à Justiça, o Ministério Público pediu a prisão dos executivos da Odebrecht Márcio Faria e Renato Araújo, usando como argumento que “os pagamentos efetuados pela empresa e seus diretores a título de propina eram realizados em espécie”. No entanto, o juiz federal Sérgio Moro negou as prisões por entender que não havia provas suficientes.

Os procuradores também querem mais informações sobre a recente ida do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró a Londres, no fim do ano passado. Ele passou o Natal e o ano-novo com parte da família na Inglaterra. Na volta, ao desembarcar no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, acabou sendo preso por agentes da Polícia Federal. A prisão preventiva foi pedida pelo Ministério Público Federal em razão de movimentações suspeitas do ex-diretor, a exemplo de doação de imóveis a parentes e a tentativa de sacar R$ 500 mil de uma aplicação financeira. Os investigadores desconfiaram de que ele poderia armar uma fuga do país. Entre os suspeitos que têm recursos no exterior, estão Pedro Barusco, ex-gerente da área de Serviços da Petrobras, e Renato Duque, ex-diretor de Serviços (veja quadro).

Decisão
Amanhã, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região deve se posicionar sobre o pedido de habeas corpus impetrado pela defesa de Cerveró. Na sexta-feira, o desembargador responsável pelo caso solicitou informações à Justiça Federal. Em dezembro do ano passado, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos referentes à Operação Lava-Jato, aceitou denúncia contra Cerveró por corrupção e lavagem de dinheiro.

De acordo com o MPF, o lobista Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano, e Cerveró receberam US$ 40 milhões de propina entre 2006 e 2007 para intermediar a contratação de navios-sonda destinados à perfuração de águas profundas na África e no México. O ex-diretor nega ter recebido qualquer suborno de Baiano e também que valores tivessem sido oferecidos.

Fortuna no exterior
Confira a estimativa* dos valores que alguns dos investigados na Operação Lava-Jato mantêm em contas estrangeiras

Pedro Barusco
(ex-gerente da área de Serviços da estatal)
US$ 97 milhões — pelo menos US$ 20 milhões na Suíça

Paulo Roberto Costa
(ex-diretor de Abastecimento) US$ 23 milhões

Renato Duque
(ex-diretor de Serviços) US$ 23 milhões

Fernando Baiano
(operador do PMDB no esquema da Petrobras) US$ 40 milhões

Total US$ 183 milhões

* A existência de todas as cifras ainda será checada pelos investigadores. Parte dos acusados nega.