Após os protestos brasileiros contra a execução de Marco Archer Cardoso Moreira, condenado à pena capital por tráfico de drogas, o governo da Indonésia reiterou seu compromisso com a tolerância zero para o narcotráfico e lembrou que a punição ocorreu de acordo com as leis do país. Em sua página no Facebook, o presidente Joko Widodo voltou a defender duras penas para narcotraficantes. A guerra contra a máfia da droga não pode ser travada com medidas tímidas, porque as drogas arruínam a vida dos viciados e de suas famílias, afirmou. A declaração sinaliza que o governo federal terá muita dificuldade de impedir que o outro brasileiro no corredor da morte, Rodrigo Muxfeldt Gularte, 42 anos, seja fuzilado (leia mais abaixo).

Assim como o Brasil, a Holanda também convocou seu embaixador em Jacarta para consultas depois de o governo do país não atender seu pedido de clemência por Ang Kiem Soei, executado no mesmo dia que Archer. O ministro das Relações Exteriores do país europeu, Bert Koenders, considerou a morte dos seis condenados terrivelmente triste. Segundo Koenders, o rei Guilherme Alexander e o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, estiveram em contato com o presidente Widodo e fizeram tudo o que estava a seu alcance para impedir a execução. É uma punição cruel e desumana que se compara a uma inaceitável negação da integridade e da dignidade humanas. A Holanda continua a se opor à pena de morte, afirmou. Além de Archer e Soei, outros quatro condenados por tráfico foram executados na madrugada do último domingo (tarde de sábado em Brasília). Entre os mortos estão cidadãos do Vietnã, do Malawi, da Nigéria e da Indonésia.

Apesar dos apelos por clemência aos estrangeiros no corredor da morte, o governo indonésio reiterou que não haverá alívio para os condenados por tráfico. Widodo afirmou que seu país deve estar presente e lutar contra os cartéis de drogas de cabeça erguida. Uma Indonésia saudável é uma Indonésia sem drogas, concluiu.

Em entrevista ao jornal The Jakarya Globe, o procurador-geral Muhammad Prasetyo insistiu que a morte dos seis condenados foi realizada de acordo com as leis do país. Ele afirmou que o governo local pode entender a reação do mundo e dos países de origem dos executados, mas destacou que a pena de morte está vigente na Indonésia. Cada país deve respeitar as leis que se aplicam em nosso país, afirmou. Segundo o site de notícias Detiknews, o chefe da Agência Nacional de Entorpecentes, Anang Iskandar, considerou natural os protestos de Brasil e Holanda, mas indicou que as execuções devem continuar. Esses entendimentos não devem ser tomados como uma ameaça, mas como uma coisa natural, afirmou.

Cremação
Segundo amigos de Archer, a família do brasileiro optou por cremar os restos mortais, e as cinzas devem ser trazidas de volta ao Brasil por Maria de Lurdes Archer Pinto, tia do executado. O Ministério das Relações Exteriores auxilia a família nos trâmites legais, e a representação brasileira em Jacarta emitirá um atestado de óbito para registrar a morte no Brasil.

Aos 53 anos, Archer foi o primeiro brasileiro a ser executado no exterior. Diante da repercussão em torno do caso, a ex-ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário (PT) destacou o histórico criminoso de Archer. Fui contra a execução. Sou contra pena de morte. Mas que interesse há para onde as cinzas serão levadas no Brasil? O sujeito não era herói, era traficante, declarou em sua página no Twitter.

Desde 2008, Jacarta havia suspendido as execuções de condenados em respeito a uma moratória não oficial. A prática, porém, foi retomada em 2013. No ano passado, nenhuma sentença foi cumprida, e os fuzilamentos dos seis condenados, no último domingo, foram os primeiros do governo de Widodo, que assumiu o cargo de presidente em outubro passado. Desde então, ele tem endurecido a política antidrogas do país, alegando que a Indonésia enfrenta uma emergência com o consumo de substâncias ilegais.

 

 

 

 

 

"Uma Indonésia saudável é uma Indonésia sem drogas
Joko Widodo, presidente da Indonésia