O corte de fornecimento de energia determinado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) em várias regiões do país atingiu em cheio o mercado financeiro. O temor de racionamento fez a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) despencar 2,57%, com ações de empresas de eletricidade e de companhias de setores altamente dependentes de energia, como petroquímicas e siderúrgicas, liderando as perdas.

Além do impacto em setores específicos, os investidores temem, sobretudo, o efeito devastador que uma crise energética terá no ritmo da já combalida atividade econômica. Para muitos analistas, um racionamento de energia elétrica poderá representar uma perda de um a dois pontos percentuais na variação do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Como a expectativa de crescimento do país é de apenas 0,38%, conforme pesquisa divulgada ontem o Banco Central, isso significa que a economia brasileira mergulharia numa recessão severa.

O mercado já operava em baixa desde o período da manhã, reagindo às notícias de aperto de crédito na China, que provocaram queda dos papéis da mineradora Vale. Quando as notícias sobre o corte de energia chegaram aos terminais dos operadores, já na reta final do pregão, a tendência de desvalorização se acentuou de forma dramática. As ações de distribuidoras despencaram. O índice setorial que mede o desempenho das empresas do segmento caiu 4,61%, com destaque para papéis de distribuidoras como CPFL, Light e Cemig, todas com quedas superiores a 6%.

Os investidores procuraram se desfazer também de ações de companhias que fazem uso intensivo de eletricidade, como petroquímicas e siderúrgicas. “É o medo de apagão”, resumiu Luiz Roberto Monteiro, assessor de investimentos da Renascença Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários. Os papéis da Braskem desabaram 7,7%. A produtora de aço CSN perdeu 7,2%. Somente duas das ações que compõem o Ibovespa, principal indicador dos negócios, terminaram o dia em alta — Oi e Fibria.

Fuga do real
O temor de racionamento — e dos estragos que ele provocará na atividade econômica — também turbinou a cotação do dólar, que terminou o dia com alta de 1,33%, a R$ 2,656 para a venda. O efeito de alta foi potencializado pelo fato de ontem ter sido um dia de pouco volume de negócios, devido ao feriado nos Estados Unidos em homenagem ao líder negro Martin Luther King.

A moeda norte-americana havia se mantido estável durante a maior parte do pregão, perto do patamar de R$ 2,60. A baixa liquidez deixou o mercado mais sensível a operações pontuais e à fuga dos investidores de ativos denominados em reais, movimentos que levaram a divisa a se valorizar fortemente durante a tarde.

A alta só não foi maior porque o mercado está dando um crédito de confiança às promessas da maior disciplina fiscal feitas pela equipe econômica. Além disso, as expectativas de maior liquidez global, com a possível adoção de um programa de compra de títulos de governos pelo Banco Central Europeu (BCE) nesta semana, também têm contribuído para impedir saltos maiores das cotações.