Título: Mantega faz ameaça para segurar dólar
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 06/07/2011, Economia, p. 10

Com a moeda norte-americana no menor nível em 12 anos, o ministro avisa que pode tomar mais medidas com o intuito de conter alta do real

O governo voltou a acender o sinal de alerta com o derretimento do dólar. De Londres, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou que o Palácio do Planalto já autorizou a sua Pasta e o Banco Central a adotarem novas medidas para conter a supervalorização do real, que ameaça o setor produtivo brasileiro. Já há um consenso na equipe econômica da presidente Dilma Rousseff de que o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para 6%, as compras diárias de dólares do BC no mercado à vista e as operações de swap cambial reverso (equivalente a aquisição da divisa dos Estados Unidos no mercado futuro) não estão sendo suficientes para reverter a alta da moeda nacional.

"O governo continuará adotando medidas para conter a valorização do real. E elas podem ser adotadas nos mercados futuro e de derivativos (nos quais as apostas contra o dólar passam de US$ 23 bilhões)", afirmou Mantega. As ameaças do ministro apresentaram algum resultado. Os preços da moeda norte-americana interromperam uma sequência de seis dias de baixa, fechando as negociações de ontem a R$ 1,565 para venda, com alta de 0,71%, ainda no menor nível dos últimos 12 anos.

Segundo Mantega, o grande problema do Brasil é que a política monetária das economias avançadas está muito relaxada, com taxas de juros no chão. E como a atividade não está se recuperando, o dinheiro acaba migrando para os países emergentes. Ou seja, na avaliação do ministro, a guerra cambial ainda não acabou. Mas, apesar dos problemas, ele assegurou que o governo tem instrumentos à disposição para se defender das distorções provocadas pela grande sobra de recursos circulando pelo mundo.

Quarentena Para Davis Ribeiro, operador de câmbio da Corretora Fair, o discurso de Mantega é aceitável, mas, a seu ver, o governo tem muito pouco espaço para atuar, pois as operações de câmbio nos mercados de derivativos permitem que um agente financeiro transfira para outros riscos aos quais não pode ou não deve se expor. A saída será, então, o governo aprovar a quarentena (fixar um prazo para o dinheiro especulativo ficar no país). A medida, porém, é considerada antipática, cara e ousada demais em um mundo tão globalizado.

Na avaliação do economista Mário Paiva, da BGC Liquidez, o real valorizado é o preço que o Brasil está pagando pelo sucesso na política econômica. Ele ressaltou ainda que, a despeito da boa vontade, as medidas baixadas pelo BC para conter a queda do dólar são paliativas e brandas, para não causar efeito colateral danoso. "Na verdade, o BC está tentando diminuir a intensidade da alta do real", frisou, ressaltando que elevação de ontem do dólar foi pontual. "Os investidores continuarão em busca de proteção e o dólar manterá a tendência de queda, em julho, trabalhando no intervalo entre R$ 1,55 a R$ 1,60. Em agosto, o tombo poderá ser ainda maior", previu.

A aversão ao risco, por outro lado, derrubou a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa). Principal índice de lucratividade do mercado, o Ibovespa despencou 1,33%, para os 63.038 pontos, sob o temor de que Portugal precise de mais suporte financeiro da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Alerta contra a especulação Na tentativa de engrossar o discurso de que o governo agirá para conter a forte queda do dólar, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, fez ontem um alerta às empresas brasileiras para que não se exponham demais em operações lastreadas na moeda norte-americana. Segundo ele, o regime cambial brasileiro é flutuante e, por isso, não se pode supor que o dólar cairá indefinidamente. "É importante que o setor privado esteja atento à questão do hedge (proteção) de suas operações", afirmou, durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Ele destacou que a direção do câmbio pode se inverter abruptamente e causar prejuízos severos às empresas, como ocorreu na crise de 2008, quando companhias como a Sadia e a Aracruz Celulose computaram prejuízos bilionários devido às apostas especulativas na valorização do real.