Alta da gasolina se espalha

Correio Braziliense - 03/02/2015

Brasiliense paga até R$ 3,45 pelo litro do combustível, com reajustes acima dos R$ 0,22 provocados pelos impostos

RODOLFO COSTA

Os reajustes no preço da gasolina e do diesel foram ainda mais sentidos pelo brasileiro ontem, segundo dia em que vigora o aumento das alíquotas do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre os combustíveis. Em Brasília, até a manhã de ontem, os consumidores conseguiram abastecer o carro com gasolina no preço antigo, de R$ 3,17 a R$ 3,20. Mas, no início da tarde, a alta já estava disseminada, com o combustível custando entre R$ 3,37 e R$ 3,45, acima do aumento de R$ 0,22 por litro, fixado pelo Ministério da Fazenda.

Com o valor da gasolina praticado na capital federal, serão necessários de R$ 168,50 a R$ 172,50 para encher um tanque de 50 litros. Em razão do aumento, o comerciante Elton Amaral, 58 anos, que trabalha com a venda de piscinas, pensa em repassar o aumento com o custo de combustível para os seus produtos, que devem saltar de R$ 18 mil para até R$ 21 mil. “Meu carro é minha ferramenta de profissão. Uso para rodar a cidade e não vou ter como segurar essa alta”, justificou.

O gasto maior com combustíveis vai afetar ainda os preços já elevados do transporte. Pesquisa feita pela Kantar Worldpanel aponta que 13% da renda total do brasileiro é comprometida com mobilidade, o que resulta em um custo médio anual de R$ 5.124,70, superado apenas pelos custos com alimentação em casa e habitação. Só nos últimos cinco anos, a parcela de gastos destinada a combustíveis, que representa a maior despesa em transporte, e financiamento de veículos, cresceu 4% e 9%, respectivamente.

Carolina Andrade, executiva da Kantar, acredita que o reajuste dos derivados do petróleo vai gerar um equilíbrio maior entre as escolhas do brasileiro. “O consumidor vai acabar optando pelo transporte público, combinar caronas entre amigos e familiares, ou até mesmo trocar o veículo. No geral, 2015 vai gerar muitas adaptações para o bolso”, analisou.

O receio com os novos preços da gasolina motivou o educador físico Nino Neto, 26, a comprar uma moto. “Com ela, vou percorrer 47 quilômetros por litro. Vou deixar o carro em casa e usá-lo só quando estiver chovendo ou se precisar carregar algo no porta-malas”, revelou. Para poupar no combustível, o técnico de informática Antônio de Castro Oliveira, 35, colocou o carro à venda, por R$ 30 mil. Ele espera substituir o veículo, que faz de oito a 10 quilômetros por litro, por outro mais econômico. “Não tem outro jeito. Está tudo aumentando muito”, lamentou.

Alternativa
Mesmo com a decisão do governo de elevar tributos sobre a gasolina, muitos postos aproveitaram a mudança para elevar o preço do etanol. No DF, o preço do combustível renovável varia agora entre R$ 2,29 e R$ 2,55. O avanço surpreendeu alguns consumidores que já estão optando por abastecer o carro com álcool. O Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do DF (Sindicombustíveis) não comentou a alta, apenas limitou-se a informar que os preços de bomba ao consumidor são fixados de forma livre por cada posto, dentro de sua visão de mercado, levando-se em consideração os reajustes repassados pelas distribuidoras de combustíveis.

Etanol a mais não reduz preço
A elevação da mistura de etanol na gasolina, de 25% para 27%, deverá ter efeito quase nulo sobre os preços ao consumidor, sem conseguir compensar o avanço dos impostos sobre os combustíveis. Segundo fontes do mercado, a medida deixaria o litro da gasolina só R$ 0,002 em média mais barato. O nova proporção de etanol deverá entrar em vigor em 15 de fevereiro. Desde o domingo, contudo, a nova tributação sobre a gasolina já vem sendo praticada, elevando o preço em R$ 0,22 por litro, via cobrança de PIS/Cofins, num primeiro momento, e, a partir de maio, por uma combinação de PIS/Cofins e Cide. O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, vai entregar hoje à presidente Dilma Rousseff a proposta acertada ontem entre governo, setor sucroalcooleiro e indústria automotiva para elevar o percentual do etanol na gasolina.

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Venda de carro despenca

Correio Braziliense - 03/02/2015

O comércio de veículos sofreu um recuo de 31,4% no mês passado, na comparação com dezembro último. Segundo dados divulgados ontem pela Fenabrave, entidade nacional que representa as redes de concessionários, foram vendidos 253.807 veículos em janeiro, contra 370.018 no último mês de 2014. Em relação a igual mês do ano passado, quando foram emplacadas 312.591 unidades, o resultado foi uma queda de 18,8%.

A retração maior, de 32%, envolveu o segmento de automóveis e comerciais leves, com a venda de 185.074 veículos, contra 271.988 de dezembro. O recuo na venda de motos foi menor, de 14,9%, com 108.640 unidades em janeiro ante as 127.719 de dezembro de 2014.

Assim como em dezembro, o Fiat Palio começou o ano na liderança entre carros e comerciais leves, com 14.432 unidades, praticamente mil unidades acima do vice-líder, o Chevrolet Onix, com 13.462. O Gol, segundo colocado no acumulado de 2014, alcançou só o oitavo lugar entre os mais vendidos de janeiro, com 7.866 unidades.

Para o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Junior, o fraco desempenho dos negócios em janeiro se deve ao fim do desconto no Imposto sobre Produtos Industralizados (IPI), que terminou em 31 de dezembro. “Apesar dos dois dias úteis a mais em janeiro, houve antecipação de compras, em dezembro, em razão do fim do benefício do IPI, que voltou aos patamares normais”, comentou. Apesar do resultado pior, o executivo aposta em recuperação ao longo do ano e saldo superior ao de 2014. 

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Carestia na escola

Correio Braziliense - 03/02/2015

Em janeiro, as despesas escolares subiram duas vezes mais que a inflação. Os gastos com material de estudo, livros, transporte, cursos e lanchonete cresceram 3,73%, enquanto a variação global do Índice de Preços do Consumidor, da Fundação Getulio Vargas (IPC/FGV), foi de 1,51%.

A empresária Maria Luzia Nery, de 50 anos, sentiu o impacto. Até o ano passado, gastava R$ 160 com o pagamento da van que leva e traz a filha, de 15 anos, da escola. Agora, o preço é R$ 300. Somando com materiais escolares e mensalidade, a conta fica cara.

Segundo o gerente de papelaria Alexandre Veríssimo, os clientes reclamam principalmente do preço dos livros didáticos, que aumentou 1,81%, em média, contra 0,22% de janeiro de 2014. “Eles correspondem a pelo menos 80% do orçamento da lista de material, então faz diferença”, disse. Sabendo disso, Maria Luzia vende os livros usados da filha para os colegas mais novos, e garante que eles estão sendo disputados. O material pode sair por menos da metade do preço de um novo.

Sem contar os livros, os demais materiais escolares registraram alta de 1,88% no mês passado, contra 0,9% em janeiro de 2014. Os preços variam de acordo com a marca e a papelaria, portanto, é importante pesquisar. “A internet é boa aliada, economiza muita sola de sapato”, garantiu o economista André Braz, da FGV. “Papelarias maiores e supermercados geralmente têm preços mais acessíveis”, garante o economista. Ele observa ainda que comprar materiais mais simples e personalizá-los sai bem mais barato do que levar os itens da moda.