Título: Juros terão alta maior
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 06/07/2011, Economia, p. 8

Pressionado dentro do governo para suspender o processo de alta dos juros, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, partiu ontem para o ataque e deixou claro que não cederá. Ou seja, a taxa Selic ¿ atualmente em 12,25% ao ano ¿ continuará subindo até o necessário para conter a elevação dos preços.

Derrotado na recente definição da meta de inflação de 2013, que ficou em 4,5%, ele aproveitou uma audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para mandar um recado aos colegas do Conselho Monetário Nacional (CMN), os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Mirim Belchior (Planejamento): é preciso ousadia para fixar taxas menores a serem perseguidas em longo prazo.

Ele admitiu, porém, que os juros no Brasil são muito altos, mas ainda levará tempo para que fiquem mais parecidos que a média mundial. "Sabemos que há uma certa indignação das pessoas com relação à falta de convergência dos juros brasileiros com os de outros países, mas precisamos buscá-la no futuro", disse. O argumento de Tombini ao pedir paciência foi a certeza de que a Selic cairá no futuro, uma vez que a inflação começa a convergir para o centro da meta, o que ficará bem claro em 2012. Dessa forma, a diferença entre a taxa no Brasil e no resto do planeta também será menor. "Lá na frente, não teremos mais motivos para custos tão diferentes", disse.

Desagrado O mecanismo de manter os juros em patamares elevados, considerado o mais tradicional para segurar a escalada dos preços, vem desagradando Mantega, que se defende, alertando para a desaceleração da atividade. "A economia está quente, não superaquecida. São coisas diferentes", argumentou o ministro, em entrevista em Londres. O ministro assegurou que a inflação já está cedendo e estimou um comportamento favorável do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos próximos meses ¿ próximo de zero. A seu favor, o ministro tem as previsões do mercado, que espera uma forte desaceleração do indicador em junho. Na avaliação de 23 instituições ouvidas pela Reuters, o IPCA fechou o mês passado com alta de 0,07%, ante 0,47% registrado em maio.

Mesmo que o resultado seja confirmado, a alta de juros não será revertida tão cedo. Pelos sinais emitidos pelo BC, a taxa Selic subirá 0,25 ponto percentual em julho e outro 0,25 ponto em setembro, atingindo 12,75% ao ano.