Prévia do IGP-M indica que contratos atrelados ao índice, em janeiro, terão reajuste abaixo do indicador oficial de carestia, que fechou dezembro em 6,41%. Inquilinos comemoram enquanto donos de imóvel para locação lamentam.
A inflação do aluguel como é conhecido o Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), ficou em 0,29% na primeira prévia de janeiro. Dependendo do ponto de vista, pode ser um motivo de comemoração para inquilinos ou de preocupação para proprietários de imóveis. O resultado é menos da metade do que foi verificado no mesmo período de dezembro, quando ficou em 0,63% e acumula alta de 3,48% em 12 meses. Esse é o menor percentual desde 2009, quando o mundo ainda vivia as consequências da crise financeira mundial. Os dados foram divulgados ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

Para Salomão Quadros, superintendente de Inflação da FGV, quem usa contrato atrelado ao IGP-M vai receber o valor do aluguel abaixo da correção do IPCA que mede a carestia no país. Mas ele contextualiza que "o proprietário de imóvel tem o longo prazo como aliado, e, nos últimos 20 anos o IGPM, na maioria das vezes, ficou acima do IPCA, o que acaba compensando a perda em um ano, pelo ganho em outros", explicou.

A gerente imobiliária Vanderlândia Marques, de 30 anos, explicou que o IGP-M abaixo da inflação é uma ótima notícia para os inquilinos. "Já teve mês que subiu 6%, então a taxa atual está muito boa para quem mora de aluguel", disse. Já para os proprietários não é bom. Vanderlândia conta que "geralmente reclama quem tem mais imóveis. Quem tem só um não se prejudica tanto", opinou.

A auxiliar de limpeza Kátia dos Santos, 40 anos, ficou feliz com a notícia. "Gasto muito com aluguel, então qualquer melhora alivia bastante. Se vier aumento menor do que eu esperava, posso usar a diferença para pagar outras contas", comemorou. O corretor de imóveis Cristiano de Oliveira, 33 anos, observou que as pessoas estão saindo do aluguel para comprar os próprios imóveis. "Isso porque agora tem mais facilidade de crédito", afirmou. Mesmo com o IGP-M mais baixo, Cristiano acredita que a tendência é que as pessoas continuem fugindo da locação. "Às vezes, o preço do aluguel acaba financiando um apartamento, então vale mais a pena comprar", explicou.

Referência

O IGP-M é um índice mais amplo, constituído em 30% pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que representa a inflação no varejo, mais 10% do Índice Nacional da Construção Civil (INCC). O componente principal com 60% o Índice de Preços no Atacado (IPA), engloba os preços do produtor e da indústria. Estão incluídos nesse pacote desde o minério de ferro, grãos com soja e milho, até celulose e aço. Quadros explicou que por tratar de preços de matéria-prima, o câmbio afeta muito mais intensamente esse indicador. "No ano passado, houve muita oscilação nos preços das commodities, insumos e do câmbio. Isso tem um impacto grande, com mudanças mais bruscas no IPA e um efeito diluído no IPCA", explicou.

Outra razão para a carestia medida pelo IGP-M não vir tão acentuada agora na primeira semana é porque ainda reflete o que estava acontecendo no fim de dezembro. "A segunda prévia, que será divulgada na segunda-feira que vem, sim, já vai trazer informações sobre aumentos de janeiro, como a tarifa dos ônibus em São Paulo, que subiu 16%", salientou. O professor de economia da Universidade de Brasília, Nilton Marques, concorda que existe uma expectativa de aumento. "Não dá para fazer análise de períodos curtos. As políticas são com relação à tendência e existe uma perspectiva de alta. O dólar segurou forte o IGP até agora", concluiu.

Caderneta rende 0,71%

A poupança acumulou um rendimento líquido de 0,71% em 2014, considerando a inflação oficial (IPCA) medida no período IPCA, de 6,41%, segundo dados da consultoria Economática. Em comparação com outras aplicações, os depósitos só renderam mais que o Ibovespa, principal índice da bolsa de São Paulo, que recuou 8,71% no período, já descontada a inflação. O melhor resultado foi o dólar, com ganho real de 6,56% acima do IPCA, seguido do ouro, com 5,3%. A rentabilidade bruta no ano passado foi de 7,16%, o melhor percentual desde 2011, quando alcançou 7,5%. Mas, se levar em conta o IPCA de 2014, o ganho real de poder aquisitivo da caderneta é menor que 1%. O desempenho da poupança no ano passado foi o quinto menor desde 1994. Os piores anos foram: 2002, 2004, 2012 e 2013.