A quantia foi gasta em Águas Claras durante três anos do governo Agnelo , inclusive na construção de um novo heliponto, por questão de %u201Csegurança%u201D. Segundo chefe da Casa Militar do ex-governador, reformas serviram ao Estado, e não a uma pessoa.
O Governo do Distrito Federal (GDF) gastou pelo menos R$ 1,750 milhão na residência oficial de Águas Claras em dois anos e meio do governo de Agnelo Queiroz (PT). No montante, estão incluídas reforma geral, ampliação e construção de espaços, além da compra de móveis e eletrodomésticos - não chegaram a ser consideradas despesas de manutenção e alimentação, por exemplo. A informação, revelada pela rádio CBN, vem à tona em um momento no qual o atual governador, Rodrigo Rollemberg (PSB), convive com problemas por toda a cidade, como buracos e lixos pelas ruas, cortes de despesas e atrasos no pagamento de servidores, com consequentes paralisações.

No pacote de melhorias da casa usada pelos governadores, encontram-se um novo heliponto, o complexo de salas de reuniões - incluindo um grande salão oval e salas anexas, como uma específica para a primeira-dama - e jardim de inverno. Mesmo que tenha recebido o imóvel recém-reformado, obra do ex-governador Rogério Rosso (hoje no PSD), o petista autorizou reforma geral nas instalações, com pintura, troca de revestimentos e pisos.

O processo começou a caminhar em 2012, quando a Secretaria de Governo direcionou R$ 2,2 milhões para que a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) requalificasse a residência oficial e o Palácio do Buriti. Mas nem todo o dinheiro foi para Águas Claras. Ontem, a estatal confirmou que gastou R$ 1,5 milhão somente na reforma das instalações localizadas às margens da Estrada Parque Taguatinga (EPTG). Em nota, a empresa pública disse que também trocou as partes hidráulica e elétrica. As obras foram finalizadas ao término de 2013.

Já o heliponto custou R$ 222,8 mil aos cofres públicos. O contrato foi firmado com a SAS Construtora e Incorporadora Ltda. em junho de 2012. A instalação ainda exigiria o investimento de mais R$ 75 mil em outubro do ano passado, quando foi firmado contrato entre a Novacap e a mesma SAS para aplicação de pintura antiderrapante e instalação de sistema elétrico no local. O ex-chefe da Casa Militar do DF, coronel Rogério Silva Leão, explicou ao Correio que a construção do novo heliponto ocorreu por questão de segurança. "O anterior ficou inviabilizado pela obra de um prédio ao lado. Para que nem o governador e sua família, nem a população sofressem riscos, um novo ponto precisou ser escolhido", justificou.

Decoração

Depois de as instalações serem reformadas e ampliadas, investiu-se em mobiliário e decoração dos espaços internos. Entre abril e maio do ano passado, a Casa Civil abriu licitação para compra de móveis e eletrodomésticos. Com a Futura Engenharia, foi firmado um contrato de R$ 117,6 mil para instalação de guarda-roupas na suíte principal e no quarto de hóspedes, cabeceiras e cômodas, além uma mesa de reuniões de 44 lugares no salão oval. Outra licitação, de maio, tinha como objetivo a compra de quatro refrigeradores duplex, cinco micro-ondas, dois fogões elétricos, um forno elétrico, três refrigeradores frigobar, três cafeteiras industriais e três bebedouros elétricos. O Correio apurou que a compra teria sido fechada em cerca de R$ 60 mil.

Coronel Leão, chefe da Casa Militar de Agnelo, disse que as melhorias na casa eram necessárias. "São instalações que servem não só a um governo, e sim ao Estado. Serviu ao ex-governador, como vai servir também ao atual e aos futuros." Ao longo da campanha, Rollemberg chegou a dizer que não tinha a intenção de residir em Águas Claras. No entanto, foi orientado pela equipe de segurança a ocupar a residência oficial. Desde o início do governo, ele já passou várias noites no endereço e tem dormido cada vez menos na casa da família, no Park Way.

Memória

Janeiro de 1999

Cristovam Buarque (hoje no PDT) é o primeiro governador em vários anos a morar na residência oficial de Águas Claras.

Janeiro de 2011

Agnelo Queiroz (PT) assume o mandato e muda-se para Águas Claras. Entra no imóvel cheirando a novo, pois o antecessor, Rogério Rosso (hoje no PSD), tinha mandado reformar a estrutura havia pouco tempo. A única mudança solicitada inicialmente pelo petista no prédio foi a retirada do verde das paredes de alguns cômodos - a cor foi colocada pelo ex-governador José Roberto Arruda (hoje PR), que a usava em campanha.

Junho de 2012

A Secretaria de Governo transfere R$ 2,2 milhões à Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) para reformas e adaptações na residência oficial e no Palácio do Buriti. No mesmo mês, a estatal assina contrato com uma empresa para construção de novo heliponto. O valor: R$ 222,8 mil.

Dezembro de 2013

A Casa Civil informa a conclusão de obras de requalificação de Águas Claras. A Novacap destacou que as obras custaram R$ 1,5 milhão e incluíram troca de sistemas hidráulicos e elétricos e mudança de revestimentos, pisos e nova pintura. No pacote, estão, além do heliponto, a construção de um conjunto de salas de reuniões de 500m² e de um jardim de inverno e a reforma da câmara frigorífica e troca de gerador elétrico.

Abril de 2014

A Casa Civil do GDF abre licitação para compra e instalação de mobiliário para quartos e sala oval de reuniões. Apenas uma empresa se candidata. Valor é orçado em R$ 117,6 mil

Maio de 2014

A Casa Civil abre nova licitação, desta vez para aquisição de eletrodomésticos. O valor fica em torno de R$ 60 mil.

Outubro de 2014

A Novacap firma contrato com uma empresa para manutenção do heliponto. O custo é de R$ 75 mil para aplicação de pintura antiderrapante e instalação de novo sistema elétrico.

Janeiro de 2015

O novo governador, Rodrigo Rollemberg (PSB), resolve ocupar também a residência oficial de Águas Claras. Na campanha, ele tinha chegado a declarar que não moraria no local.

Enquanto isso, no autódromo.

O Governo do Distrito Federal revogou licitação que reformaria o Autódromo Internacional Nelson Piquet após o Tribunal de Contas do DF identificar uma série de irregularidades nos contratos. As obras de reparo visavam receber a Fórmula Indy e estavam orçadas em R$ 250 milhões. Os fãs de automobilismo, porém, não precisam se preocupar: como as adequações exigidas pela organização do evento estavam, no geral, relacionadas a pequenas reformas na pista, o evento está mantido para o período de 6 a 8 de março. O TCDF indicou uma série de possíveis irregularidades, entre elas, sobrepreço de R$ 34 milhões, duplicidade de serviços e falhas graves no projeto básico de engenharia. O presidente do órgão de controle, Renato Rainha, destacou que o Estado tem de saber usar os recursos públicos. "Se não há dinheiro para pagar servidores, como vamos gastar esse valor em um autódromo?", questionou.