A divulgação das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do ano passado serviu para equalizar as opiniões de especialistas em educação, pedagogos, pais, alunos e o próprio ministro da área: o país está longe de oferecer um serviço minimamente satisfatório. Dos 6.193.565 candidatos que fizeram o Enem em 2014, 529.374 tiveram nota zero na redação, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério da Educação (MEC). Isso significa que a cada mil alunos, 85 não pontuaram. Na comparação com 2013, a proporção foi de 20 redações zeradas a cada mil. Quem teve nota zero é impedido de disputar vaga em universidades públicas por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

O baixo desempenho na redação mostra que grande parte dos alunos termina o ensino médio sem o domínio da produção de textos, analisa Luiz Araújo, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB). "É um pressuposto você sair da escola sabendo se expressar, elaborar uma redação", disse. Ocimar Alavarse, docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), acrescenta que, segundo pesquisas recentes, a capacidade dos alunos que têm baixo desempenho na redação do Enem é comparada à de jovens que ainda cursam o 8ª ano do ensino fundamental.

O ministro da Educação, Cid Gomes, ponderou que a comparação no desempenho das redações de edições anteriores deve ser feita com cautela, uma vez que os temas aplicados variam de um ano para outro, o que impacta a dificuldade do exame. Em 2013, por exemplo, o texto estava associado à lei seca, um tema "amplamente debatido pela sociedade", segundo Gomes, ao contrário do ano passado, quando foi cobrada uma dissertação sobre publicidade infantil. Ainda assim, o ministro reconhece a má qualidade do ensino. "Os estudantes estão lendo pouco, o tema de redação, nesse caso, não é tão popular, tudo isso dificulta. Não dá para fugir, camuflar e dizer que o ensino público é bom. Está muito aquém do desejável. Estamos aqui para lutar para melhorar."

Cid Gomes voltou a defender a realização do Enem virtual. "O Enem on-line é uma necessidade para dar mais comodidade e conforto aos milhões de brasileiros que têm de prestar esse exame. Hoje, nós temos tecnologias que permitem isso, então não faz sentido montar uma operação de guerra, ficar sujeito a sabotagem e fraudes para fazer uma prova no mesmo horário em todo o Brasil."

Entre os candidatos, 1.485.320 eram concluintes do ensino médio. O desempenho deles na redação caiu entre as edições de 2013 e 2014. Há dois anos, a nota média desses estudantes na prova foi de 521,2 pontos. Em 2014, a média foi de 470,8 - variação de 9,7%. Se analisadas as médias da redação e das provas objetivas (ciências humanas, ciências naturais, linguagens e matemática), houve queda de 1%. Em 2013, a pontuação média dos concluintes foi de 504,3. No ano passado, 499.

A pontuação média na parte de matemática também sofreu queda em 2014, passando de 514,1, em 2013, para 476,6 (-7,3%) no ano passado. Já as médias de ciências humanas (543,0), ciências da natureza (484,0) e linguagens e códigos (508,1) foram superiores em relação à edição de 2013: 515,1; 473,2; e 489,1; respectivamente.

Ciberataques

As notas individuais foram disponibilizadas, na noite de ontem, no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Candidatos reclamaram da demora na divulgação dos resultados. O presidente do Inep, Chico Soares, disse que a instabilidade foi resultado da ação de hackers contra o site. "Vocês não têm ideia (de quantos ataques recebemos)", afirmou, sem detalhar os casos.

Tira dúvidas

Existem critérios específicos para cada curso ou instituição?

Sim. Apesar de o Sisu fornecer vagas para várias instituições, cada uma adota critérios específicos para a seleção dos alunos. "É importante obter informações no site da instituição e por outras fontes, como fóruns on-line", sugere o especialista em educação e diretor da rede Alub, Alexandre Crispi. Alguns cursos, como os bacharelados nas áreas de artes, arquitetura e desenho industrial, também exigem uma prova de habilidades específicas. Os percentuais reservados ao sistema de cotas também variam conforme a instituição.

Quais fatores afetam a nota do candidato?

As universidades podem optar por dar pontos extras a determinados candidatos, como ação afirmativa. Critérios como renda, raça e o fato de o candidato ter estudado em escola pública podem ser levados em conta, acrescentando pontos. Além disso, as instituições podem atribuir pesos diferentes a cada uma das disciplinas do Enem na seleção para cada um dos cursos.

É recomendável consultar a nota de corte do ano anterior?

Sim, pois a variação é pequena. "É o primeiro passo antes da inscrição. A variação existe, mas, ao consultar a nota de corte do ano anterior, o candidato terá uma noção boa do que ela pode ou não conseguir", diz Crispi.

Cursos nos diferentes câmpus exigem a mesma nota?

Não. Às vezes, é possível obter vaga no mesmo curso da mesma universidade com nota menor ao buscar outros câmpus da mesma instituição. "Em Brasília, por exemplo, alguns dos cursos ofertados pela UnB na Asa Norte estão disponíveis em Ceilândia, no Gama e em Planaltina com uma nota de corte menor", explica Crispi.

Cronograma do Sisu

Confira as datas do Sistema de Seleção Unificada

Período de inscrições: 19/1 a 22/1

Resultado da chamada regular: 26/1

Prazo para participar da lista de espera: 26/1 a 6/2

Matrícula da chamada regular: 30/1 a 3/2

Convocação da lista de espera pelas instituições a partir de: 11/2