O advogado Edson Ribeiro, responsável pela defesa de Nestor Cerveró, afirmou que, se forem utilizados os mesmos critérios aplicados ao cliente dele, a presidente da Petrobras, Graça Foster, também deveria ter tido a prisão preventiva decretada pela Justiça Federal. "Se, para ele, vale, vale para ela também. Para ser coerente, o Ministério Público Federal deveria ter pedido a prisão preventiva dela. Graça Foster também deveria estar presa", afirmou. O advogado fez uma ressalva. "Não estou dizendo que ela cometeu crime. Afirmo que não há coerência. Os dois (Cerveró e Graça Foster) fizeram tudo corretamente", afirmou.

Ribeiro se referia às denúncias de doações de imóveis, no Rio de Janeiro, feitas no ano passado por Foster a parentes. A manobra seria para escapar de um eventual bloqueio de bens. Em 20 de março do ano de 2014, um dia depois das revelações de que a presidente Dilma Rousseff tinha autorizado a compra da Refinaria de Pasadena, Graça Foster teria doado "com reserva de usufruto" um apartamento em Rio Comprido à filha Flavia Silva Jacua de Araújo, tendo o filho Colin Silva Foster como interveniente. No mesmo dia, a presidente da Petrobras fez uma doação semelhante a Flavia e a Colin de um imóvel na Ilha do Governador. Graça Foster ainda fez uma "doação com reserva de usufruto" a Colin em 9 de abril do ano passado. As denúncias foram feitas, em agosto do ano passado, pelo jornal O Globo. A presidente da estatal não comentou as declarações do advogado ontem.

Na tarde de ontem, Ribeiro afirmou que entrará hoje com pedido de habeas corpus. "Não estão presentes os pontos para decretação de prisão preventiva. Existem apenas ilações do Ministério Público, induzindo o juiz a erro." O advogado afirmou que a retirada do dinheiro da aplicação financeira seria para uma filha do ex-diretor que tem problemas de saúde. "Ele foi passar o natal e o ano-novo na Inglaterra. O dinheiro seria retirado para uma segurança da filha, caso fosse necessário. É preferível perder dinheiro a deixar uma filha desamparada. Não há crime nenhum em você movimentar a própria aplicação ou em transferir imóveis para os filhos", declarou. Para o defensor, a decisão deve ser reformada. "Acredito que o tribunal vai rever esse posicionamento", disse.

Em relação à doação de imóveis e a transformação da casa em Itaipava em bem de família, Ribeiro atesta que seu cliente mora no local desde agosto do ano passado. "Depois de toda a confusão que ocorreu, ele não podia nem sair na rua no Rio de Janeiro. Havia um constrangimento. Por isso, para preservar a privacidade, optou por ir morar nessa casa", ressaltou ao Correio.

Indicação O executivo da empresa Toyo Setal Julio Camargo afirmou, em depoimento de delação premiada, que o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção montado na Petrobras, intermediou contratos com Cerveró. Baiano afirmou à Justiça que sabia que Cerveró teria sido indicado pelo PMDB.

De acordo com denúncia do Ministério Público Federal, os contratos eram fechados mediante pagamento de propina. Em um despacho do juiz Sérgio Moro, há a informação que uma negociação para compra de sondas foi fechada "mediante o pagamento de vantagem indevida de US$ 15 milhões a Cerveró, então diretor Internacional da Petrobras, com a intermediação de Fernando Soares". O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, em depoimento à Polícia Federal, confirmou que Cerveró tinha ligação forte com o PMDB. O partido nega a informação (leia ao lado).

"Se, para Cerveró, vale, vale para Graça Foster também. Para ser coerente, o Ministério Público Federal deveria ter pedido a prisão preventiva dela" Edson Ribeiro, advogado de Nestor Cerveró