Em depoimento à PF, ex-dirigente da estatal diz que Fernando Baiano, suspeito de ser o operador do PMDB no esquema, transitava em pelo menos três diretorias da empresa, inclusive uma comandada, na época, por Graça Foster.
O ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró disse ontem, em depoimento de cerca de três horas à Polícia Federal, que "mantinha certa relação de amizade" com o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. De acordo com delatores da Operação Lava-Jato, Baiano era o operador do PMDB no esquema de pagamento de propina por empreiteiras a políticos para obterem contratos com a Petrobras. Cerveró negou ter recebido qualquer vantagem para viabilizar negócios na petrolífera.

Réu em um dos processos da Lava-Jato, o ex-diretor foi preso na madrugada de quarta-feira, sob acusação de que tentava ocultar patrimônio obtido ilegalmente. Ele está na mesma cela de Baiano, em Curitiba. De acordo com o advogado Beno Brandão, que acompanhou o depoimento de Cerveró, ele não se negou a responder a nenhuma pergunta e pediu, espontaneamente, para explicar uma aquisição de sondas feita sem licitação pela Petrobras (leia mais na página 3).

Sobre Baiano, Cerveró disse que o conheceu em 2000, quando ocupava o cargo de gerente executivo de Energia da petrolífera. Na época, segundo ele, o lobista representava empresas espanholas no ramo de energia térmica. Ele diz que só se lembra do nome de uma delas: Union Fenosa. Ainda de acordo com Cerveró, naquele período, foi fechado um contrato com essa empresa. Ele diz não se lembrar do valor, mas comentou que "não foi significativo".

Cerveró disse ainda que Baiano continuou a frequentar a Petrobras, inclusive outras diretorias. Citou, como exemplos, a de Abastecimento e a de gás e Energia. A primeira era comandada por Paulo Roberto Costa, um dos delatores da Lava-Jato, entre 2004 e 2012; a segunda, por Ildo Sauer entre 2003 e 2007, e pela hoje presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, entre 2007 e 2012.

Réus

Baiano é apontado por delatores como o braço do PMDB no esquema de corrupção na petrolífera apurado pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal. De acordo com os investigadores, Cerveró era um dos contatos dele na Petrobras. Os dois são réus em ação que os acusa pelo crime de corrupção contra o sistema financeiro nacional e de lavagem de capital entre 2006 e 2012. Procurado pela reportagem, o PMDB não se manifestou sobre o assunto.

De acordo com o MPF, Baiano e Cerveró receberam US$ 30 milhões de propina entre 2006 e 2007 para intermediar a contratação de navios-sonda destinados à perfuração de águas profundas na África e no México. No depoimento à PF ontem, Cerveró negou ter recebido qualquer propina de Baiano e também que valores tivessem sido oferecidos.

Desde que a Justiça expediu mandado de prisão contra Baiano, peemedebistas, como o vice-presidente da República, Michel Temer, repetem declarações públicas de que o lobista "não tem qualquer ligação com o partido". Nos bastidores, porém, lideranças do partido admitem que Baiano circulava entre os filiados, especialmente na ala fluminense da legenda. Em depoimentos à PF, o lobista negou que tenha agido como operador do partido. Ontem, a defesa dele foi assumida pelo advogado Nélio Machado, contrário à delação premiada - o defensor antecipou que fará uma defesa "clássica".

A indicação de Cerveró para o cargo de diretor na Petrobras não é assumida por qualquer partido. Embora tenha defendido publicamente a permanência dele no cargo em 2008, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) diz que Cerveró é nome do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em março, Renan rebateu: "O Delcídio deve estar muito preocupado. Não se trata de saber se o Delcídio indicou o Cerveró ou não. O Delcídio tem que ficar despreocupado porque certamente não indicou o Cerveró para o Cerveró roubar a Petrobras".

Ontem, o PSDB voltou a defender uma nova CPI para investigar a Petrobras no Congresso. O deputado Silvio Torres (PSDB-SP) disse que "ainda há muita coisa a ser investigada, tanto na Petrobras como em outros órgãos do governo que já foram alvo de suspeitas". O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), defendeu a demissão da atual diretoria da petrolífera. "Querem sugar a empresa até o caroço."

Quem é

Fernando Soares, conhecido por Fernando Baiano

» Empresário, é sócio de três empresas

» A PF investiga se esses negócios eram usados no esquema da Petrobras

» É citado por delatores da Operação Lava-Jato como operador do PMDB no esquema de pagamento de propinas

» Segundo o MPF, ele e Nestor Cerveró receberam US$ 30 milhões em propinas entre 2006 e 2007 para intermediar a contratação de navios-sonda destinados à perfuração de águas profundas na África e no México

» Começou a circular na Petrobras no início dos anos 2000, sob o argumento de representar empresas espanholas

» Mora no Rio e é conhecido por frequentar restaurantes caros, apreciar carros importados e praticar esportes

"(Fernando Soares) continuou frequentando a Petrobras representando outras empresas, tendo se dirigido a outras diretorias, como a Diretoria de Abastecimento e a de gás e Energia"