Caixa aumenta as taxas de juros do crédito imobiliário e abre caminho para que os demais bancos reajustem suas tabelas. Maior elevação será aplicada a contratos de imóveis acima de R$ 750 mil. Alta vale a partir de segunda-feira.
A Caixa Econômica Federal elevou as taxas de juros do financiamento de imóveis com recursos da poupança (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo - SBPE). As mudanças valem para os contratos que forem assinados a partir de segunda-feira. Quem já tem financiamento em vigor não será afetado. De acordo com a Caixa, que responde por 70% do mercado de crédito imobiliário no país, a alteração foi feita para acompanhar a elevação da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 11,75% ao ano. A decisão abre caminho para que os demais bancos também reajustem suas tabelas.

Quem sofrerá o maior aumento são os mutuários com imóveis contratados pelo Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI) com valor acima de R$ 750 mil, patamar comum nas áreas mais nobres do Distrito Federal. Nesse caso, a taxa de juros passará de 9,2% para 11% ao ano, para quem não é cliente da Caixa. No caso dos não correntistas, os encargos subirão de 9,10% para 10,70%. (Veja na tabela as novas condições de financiamento).

As regras não serão alteradas para as habitações populares, financiadas pelo Programa Minha Casa Minha Vida nem nas compras com carta de crédito do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) - dedicadas a quem tem renda mensal de até R$ 5,4 mil.

A decisão da Caixa pegou muitas pessoas de surpresa. A dona de casa Ana Maria de Souza, 50 anos, levou um susto quando foi negociar um financiamento no banco ontem e soube que os juros vão subir a partir de segunda-feira. "Fiquei chateada. Isso acabou diminuindo o valor que eu poderia gastar", disse. Ana Maria contou que vai precisar abrir mão de alguns benefícios para manter o sonho da casa própria. "Agora, vou procurar um apartamento mais barato, em outra localização. Em questão de qualidade de vida, vou perder algumas regalias, como piscina e quadra de tênis, entre outras", lamentou.

Os juros da Caixa costumam ser os menores no mercado e servem como referência para as demais instituições. A previsão dos analistas é de que todo o sistema financeiro, mais cedo ou mais tarde, deve acompanhar o reajuste. Em nota, o Banco do Brasil informou que "monitora os movimentos do mercado e procura sempre oferecer as melhores condições possíveis aos seus clientes". Até o momento, contudo, não há definição sobre mudança nas taxas, acrescentou a instituição. O Itaú Unibanco explicou que a política de crédito imobiliário é "personalizada de acordo com o perfil e o relacionamento dos clientes". Bradesco e Santander limitaram-se a informar que não alteraram os juros.

Preços

No entender de João Teodoro da Silva, presidente do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci), a mudança das condições dos financiamentos não provocará alteração no preço de casas e apartamentos, e vendas devem crescer em 2015 nos mesmos patamares de 2014, quando foi registrado incremento de 8% no confronto com 2013. "Não trabalhamos com variação de preços no mercado imobiliário, exceto a correção da inflação. Uma alta agora teria reflexos negativos nas vendas. Isso não faz sentido, no momento em que os estoques estão altos."

A avaliação é compartilhada pelo diretor de incorporação da Brookfield Incorporações, José de Albuquerque. Ele estimou que a disputa pelos clientes deverá conter os preços por cerca de dois meses, ou até mais, a exemplo do que aconteceu em outros segmentos, como os de automóveis e de linha branca, depois da majoração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

"As taxas de financiamento imobiliário continuam as mais atrativas para aquisição de um bem, se comparadas à Selic que já está em 11,75% ao ano e deve fechar 2015 nos 12%. Acho que os consumidores, mutuários ou investidores devem aproveitar esse período", salientou Albuquerque. Ele lembrou, no entanto, que pode haver altas localizadas, como, por exemplo, no Distrito Federal. "Vai depender das legislações urbanas. A oferta está diminuindo devido à desaceleração dos lançamentos, e isso causa uma pressão muito grande nos preços", alertou.

Para Reinaldo Domingos, presidente da Educação Financeira DSOP, os consumidores devem ficar de olho nas chances que podem surgir como resultado do anúncio de juros mais salgados. "É bom ir observando os preços, os prazos, o que as construtoras estão oferecendo, e barganhar bastante", afirmou Domingos. Ele lembrou que a Caixa já divulgou a intenção de ampliar o crédito imobiliário, modalidade que encerrou 2014 com R$ 140 bilhões em empréstimos, 10% a mais que o ano anterior. E a previsão para 2015 é R$ 200 bilhões em financiamentos. Só do FGTS, serão R$ 42 bilhões.

"A estimativa é de que 2015 seja um ano duro, com juros e inflação em alta. Mesmo assim, não creio que vá haver dificuldade em conseguir financiamento. A Caixa não vai fechar a torneira", disse Domingos. Mauro Calil, especialista em investimentos do Banco Ourinvest, ao contrário, está menos otimista. "Os bancos deverão elevar suas taxas porque as condições macroeconômicas exigem."

Independentemente das alterações nos juros, Mauro Calil desaconselha a contratação de dívidas por períodos extensos. "Empréstimos de longo prazo têm alto custo. É melhor guardar dinheiro para dar uma boa entrada de 30% a 40% ou entrar em um consórcio imobiliário", disse. Apesar das declarações do vice-presidente de Habitação da Caixa, José Urbano Duarte, de que há demanda para o crédito imobiliário, Calil destacou que nada acontece por acaso. "Se a Caixa subiu os juros é porque avalia que as pessoas terão mais risco e, em breve, o acesso ao crédito será inibido", alertou.