Título: Diferença entre FHC, Lula e Dilma
Autor: Rothenburg, Denise; Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 01/07/2011, Política, p. 5

Tucanos ressaltam o estilo conciliador do ex-presidente na festa de 80 anos e renovam as críticas à maneira petista de governar

O PSDB aproveitou a homenagem aos 80 anos do presidente Fernando Henrique Cardoso para, com o resgate da trajetória de seu maior líder, mostrar as diferenças de estilo de governar entre Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva e o tucano. O tom foi dado num dueto entre dois amigos que já dividiram o mesmo apartamento em Brasília: o atual ministro da Defesa, Nelson Jobim ¿ que discursou citando Fernando Henrique como aquele que "nunca levantou a voz" e sempre "distensionava" ¿ e o ex-governador de São Paulo José Serra ¿ único a atacar diretamente o PT.

"O Fernando Henrique nunca condescendeu com o malfeito para privilegiar aliado, jamais passou a mão na cabeça de aloprados. Jamais buscou dividir o Brasil, sempre procurou unir", disse Serra. Logo depois, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), em vídeo, emendou: "Presidente, nos ajude a realizar a travessia para um Brasil onde ética e política não sejam incompatíveis. Ao contrário, sejam, necessariamente, complementares".

Aécio não estava presente porque se recupera das fraturas que sofreu durante uma queda enquanto cavalgava em Minas. Sua fala encerrou a onda de pronunciamentos e serviu de senha para o discurso de FHC. Emocionado pelos vídeos, anunciados pela atriz Fernanda Montenegro, com imagens de sua vida ao lado de dona Ruth, falecida há três anos, Fernando Henrique conclamou os tucanos à "humildade de saber ouvir" e à busca do diálogo. E não deixou de dar um "beliscão" no governo petista: "Não basta quantidade, é preciso qualidade. E talvez falte muito para darmos esse salto", afirmou, ao comentar o aumento do acesso à saúde no país.

Fernando Henrique citou ainda a carta que recebeu da presidente Dilma Rousseff como uma busca pelo entendimento, e foi direto: "É preciso voltar ao tempo da política do convencimento, do debate. O desafio é enorme", disse o ex-presidente, fazendo uma rápida análise do cenário internacional e das dificuldades que passam a Europa e os Estados Unidos. "Para sair da crise, é preciso inovação e abrir novas fronteiras."

A cada discurso, a plateia entoava "FHC, patrimônio nacional, fez o plano real". Foram tantas as homenagens que ele não se conteve: "Será que sou tudo isso? Às vezes, fico pensando: será que já morri? Geralmente isso acontece depois que a pessoa morre", afirmou, ao auditório lotado dos convidados pessoalmente pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra.

Autoridades Durante a apresentação no telão, assessores colocavam mais cadeiras à mesa para acomodar as autoridades que chegavam para se juntar aos tucanos, como o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP); o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e ministro Gilmar Mendes; o ministro da Previdência, Garibaldi Alves; e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Maia, interessado em buscar o diálogo com o PSDB, não poupou elogios a Fernando Henrique. "Faço uma confissão: em 1994 e em 1998, muito trabalhei para tirar uns votinhos teus. Mas a dificuldade era enorme. O povo brasileiro reconhecia, no teu trabalho, na tua história, um homem comprometido com o nosso povo", disse o petista.

O ex-presidente da República deixou Brasília com a missão, recebida de Tasso Jereissati, de coordenar a construção do programa do partido. "Pedi a esse garoto que coordene o nosso programa", disse Tasso. Ao que tudo indica, depois de escondido por três campanhas presidenciais, os tucanos tiraram Fernando Henrique das coxias: "Sinto-me mais jovem agora. E o impulso final (desse discurso) Serra deu ao citar o poeta Jorge Luis Borges: Sou amado e amo vocês. Sou feliz".