O aumento na alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no crédito à pessoa física, de 1,5% para 3%, anunciado na segunda-feira pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deixará os empréstimos e financiamentos mais caros. Embora o impacto estimado nas prestações possa parecer pequeno, a medida deve restringir ainda mais o consumo das famílias, de acordo com o economista Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

“Isoladamente, a elevação pode não representar uma diferença muito grande no valor das prestações. O problema é o conjunto. A inflação está em alta, os juros também, e virá novo aumento da gasolina. Tudo isso afeta o poder de compra do brasileiro, que está cada vez mais endividado”, alertou.

Para aqueles que pretendem tomar um financiamento, Oliveira aconselha pesquisar e comparar o custo final e as taxas antes de fechar negócio. “Os bancos podem incluir o IOF ou cobrar à parte as tarifas. O consumidor precisa ficar atento, porque pagará juros sobre esses tributos se eles forem incluídos no valor total a ser financiado”, alertou.

Já para o economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas, a intenção do governo foi mais a de reforçar o caixa do que de reduzir o consumo, que já está em queda. “O aumento do IOF é de efeito arrecadatório”, avaliou. “O governo está encarecendo mais ainda o custo de um crédito que já era alto, e cujo estoque não estava crescendo desde 2012. Essa é uma medida de desespero para elevar receita, e não ajudará no crescimento da economia, que está caminhando para uma recessão”, criticou.

A expectativa do governo é obter, somente com essa medida, R$ 7,38 bilhões neste ano, e
R$ 8,31 bilhões anuais a partir de 2016. Somadas com as outras três decisões anunciadas — aumento do imposto sobre combustíveis, mercadorias importadas e cosméticos —, o Executivo pretende engordar os cofres da União em R$ 20,6 bilhões em 2015.

Impacto
O economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), também considera que a alteração freará ainda mais o consumo. No terceiro trimestre de 2014, o ritmo de crescimento das despesas das famílias desacelerou de 2,6% para 1,2%, na comparação com o mesmo período de 2013. Neste ano, é possível que ocorra uma queda se houver forte retração do crédito.

“Sem dúvida haverá um impacto no consumo das famílias, como ocorreu em anos anteriores quando houve aumento do IOF. No passado, esse tipo de medida afetou o crédito, mas o efeito não foi tão grande porque a economia estava crescendo muito mais do que agora. É possível que ocorra um certo alongamento dos prazos, como a volta dos empréstimos com mais de 48 meses, ou 60 meses. Isso deve mitigar um pouco o impacto”, disse Carlos Thadeu.

Prepare-se
A elevação da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre operações de crédito de pessoa física, de 1,5% para 3%, que entrará em vigor em fevereiro, vai encarecer os financiamentos.

Veja as simulações:
1) Financiamento de uma geladeira em 12 meses, no valor de R$ 1.500, com taxa de juros de 4,85% ao mês
Antes (com IOF de 1,50% ao ano): parcelas de R$ 170,96, totalizando
R$ 2.051,52.
Agora (com IOF de 3% ao ano): parcelas de R$ 173,48, totalizando R$ 2.081,76.
Alta de R$ 2,52 na prestação e de R$ 30,24 no total do financiamento.

2) Utilização do limite de cheque especial por 20 dias, no valor de R$ 5.000, com taxa de juros de 8,92% ao mês
Antes: o consumidor pagaria R$ 350,58 (juros mais IOF).
Agora: o consumidor pagará R$ 355,09 (juros mais IOF).
Elevação de R$ 4,51 no valor a pagar.

3) Utilização do rotativo do cartão de crédito no valor de R$ 3.000, com taxa de juros de 11,22% ao mês
Antes: o consumidor pagaria R$ 351,69 (juros mais IOF).
Agora: o consumidor passará a pagar R$ 355,38 (juros mais IOF).
Alta de R$ 3,69 no valor mensal a pagar.

4) Financiamento de automóvel em 12 meses, no valor de R$ 25.000, com taxa de juros de 1,84% ao mês
Antes: 12 parcelas de R$ 2.384,83, totalizando R$ 28.617,96.
Agora: 12 parcelas de R$ 2.419,94, totalizando R$ 29.039,28.
Elevação de R$ 35,11 na prestação e de R$ 421,32 no total do financiamento.

5) Empréstimo pessoal em banco por 12 meses no valor de R$ 4.000, com taxa de juros de 3,61% ao mês.
Antes: 12 parcelas de R$ 424,45, totalizando R$ 5.093,40.
Agora: 12 parcelas de R$ 430,70, totalizando R$ 5.168,40.
Alta de R$ 6,25 na prestação e de R$ 75,00 no total do financiamento.