No terceiro dia de depoimentos desta fase da Operação Lava-Jato, a contadora Meire Poza, que trabalhava para o doleiro Alberto Youssef, disse que ele lhe mostrou uma mala "cheia de dinheiro" que seria levada à construtora OAS. Ontem, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, ouviu os depoimentos da acusação relativa a denúncias relacionadas à empreiteira. O executivo Julio Camargo, que também depôs, disse ter pago R$ 15 milhões em propina para Paulo Roberto Costa e Renato Duque em contratos de obras na refinaria de São José dos Campos. Os recursos teriam sido pagos pelo consócio Ecovap, formado por empreiteiras ligadas ao Grupo Toyo Setal, da qual Camargo foi consultor.

Os R$ 15 milhões, segundo Camargo, foram depositados em contas no exterior controladas por ele próprio.

Meire, por sua vez, disse que não emitiu para a OAS notas fiscais da GFD Investimentos, empresa de fachada usada pelo doleiro, mas destacou a informação sobre a "mala de dinheiro".

- Teve um dia que eu entrei no carro com o Youssef e ele me mostrou uma mala dizendo que estava cheia de dinheiro e que seria entregue à OAS. Não vi a entrega porque desci antes do carro - contou a contadora.

O advogado da OAS, Roberto Telhada, negou algum tipo de crime:

- Ele (doleiro) não tirou dinheiro de lá (OAS). Ele levou. Que crime é esse?

Meire voltou a dizer que políticos eram vistos com frequência no escritório do doleiro em São Paulo.

As testemunhas ouvidas ontem foram convocadas pelo Ministério Público Federal para esclarecer a atividade de quatro réus presos que trabalham para a OAS. Das cinco, duas assinaram acordos de delação premiada: o empresário Augusto Mendonça Neto, da Setal, e o consultor Júlio Gerin Almeida Camargo, que atuou como representante das empresas Samsung, Toyo Setal e Camargo Corrêa. Os dois já haviam prestado depoimento.

Ontem, os advogados de Youssef e de Leonardo Meirelles, apontado como laranja do doleiro, e que o acusa de esconder bens da Justiça, travaram uma guerra nos bastidores.

O advogado Antonio Figueiredo Basto, que defende Youssef, pediu à Justiça que Meirelles seja investigado por lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e evasão de divisas. Insinuou que Meirelles atua em nome de alguém que ainda não foi identificado pela Lava-Jato.

- Há interesses muito grandes, econômicos e políticos, para que a nossa colaboração acabe e não dê nada certo, mas isso não vai acontecer e não iremos permitir que aconteça. Esperamos que as responsabilidades sejam devidamente amputadas e divididas com aqueles que fizeram e colaboraram para esses fatos.

Meirelles afirmou que tem provas do que fala e que irá apresentá-las.

- Tenho a documentação para provar, mas não posso apresentar nem falar agora para não atrapalhar o curso da investigação - disse Meirelles.

 

 

'Alma mais pura' depois da delação

 

Em defesa, Paulo Roberto Costa cita alívio após confissão

 

 

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa declarou que "sucumbiu às exigências partidárias" para conseguir virar dirigente da estatal. Em defesa apresenta à Justiça do Paraná, disse que a delação premiada "aliviou sua alma" e que está "arrependido amargamente" do que fez. O delator é um dos principais operadores do esquema de corrupção que pode ter desviado R$ 10 bilhões de cofres da empresa.

"Isso tudo, para tornar minha alma um pouco mais pura, um pouco mais confortável para mim e para minha família, me levou a fazer a delação", declarou o Costa na petição.

Na defesa entregue ao juiz Sérgio Moro, os advogados pedem o perdão judicial do ex-diretor. Eles defenderam que a colaboração "foi a mais completa, fidedigna e eficaz que se possa imaginar".

A defesa do dirigente disse que chegar ao topo da hierarquia da estatal era um "sonho" de Costa, mas que isso só era possível com indicações políticas. "Além da qualificação técnica era imprescindível que houvesse uma indicação política para que fosse guindado a qualquer diretoria importante da Petrobras", defendeu o advogado João Mestieri.

Costa declarou-se arrependido:

"Infelizmente eu me arrependo amargamente porque estou sofrendo isso na carne, estou fazendo minha família sofrer , infelizmente, aceitei uma indicação política para assumir a Diretoria de Abastecimento. Infelizmente. Estou extremamente arrependido de ter feito isso!", diz a defesa.

No documento, a defesa reforça o compromisso com as condições estabelecidas pelo Ministério Público Federal (MPF) para a concessão do benefício de delação premiada. Paulo Roberto Costa foi obrigado a renunciar, em favor da União, a qualquer dinheiro mantido em contas no exterior e ainda teve que a autorizar a quebra dos seus sigilos.

O ex-dirigente terá que ficar um ano com a tornozeleira eletrônica. Após isso, cumprirá prisão em regime semiaberto por até dois anos. Para garantir o comparecimento de Costa em juízo sempre que convocado, foi estipulada no acordo uma fiança no valor de R$ 5 milhões.