Renato Duque, o ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras acusado de ser o operador do PT no esquema de corrupção na estatal, foi o alvo dos depoimentos de delatores da Operação Lava-Jato. O consultor Júlio Camargo, que prestou serviços para Samsung, Toyo Setal e Camargo Corrêa, acusou Duque de receber, numa tacada só, R$ 12 milhões de propina da Camargo Corrêa em contratos na refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná.

Camargo disse que foi obrigado por Duque e pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa a usar suas três empresas para pagar propina. Segundo Camargo, era a "regra do jogo". Perguntado sobre o que queria dizer com essa expressão, o delator não titubeou:

- Havia uma regra do jogo estabelecendo que, se o senhor não pagasse propina à (diretoria de) Engenharia e à (diretoria de) Abastecimento, o senhor não teria sucesso ou o senhor não obteria contratos na Petrobras.

O empresário Augusto Ribeiro Mendonça Neto, dono de 17 empresas, entre elas a Setal, do grupo Toyo Setal, confirmou que doações eleitorais feitas oficialmente para o PT foram, na verdade, parte da propina em contratos da Petrobras. Segundo ele, foi Duque quem mandou fazer os depósitos ao PT, que somaram R$ 4,26 milhões. A Setal fechou dois contratos com a Petrobras, e foram pagos, segundo ele, R$ 60 milhões em propina.

- O diretor Duque me pediu que fizesse contribuições ao PT decorrentes da comissão que havia negociado com ele - afirmou Mendonça Neto.

O Ministério Público Federal estima que Duque captou pelo menos R$ 650 milhões em propinas pagas pelas empreiteiras do cartel entre 2004 e 2012.

Esse valor foi pago em dinheiro vivo, em doações feitas na conta do PT, em remessas feitas para o exterior ou por meio de pelo menos cinco empresas de fachada, que emitiram notas e assinaram falsos contratos de prestação de serviços à Petrobras.

Engevix e GFD Investimentos

Ontem, foi a vez de os delatores deporem sobre o envolvimento da construtora Engevix no esquema. A ex-contadora Meire Poza, que trabalhou para o doleiro Alberto Youssef, disse que a empresa GFD Investimentos, de Youssef, não prestou os serviços descritos em dez notas fiscais em nome da Engevix. As notas totalizam R$ 2,132 milhões.

O doleiro Leonardo Meirelles, ex-sócio de Youssef no laboratório Labogen, afirmou que encaminhou recursos para o exterior, via contratos de importação, por meio de depósitos realizados pela Engevix.

O empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto confirmou a participação da construtora Engevix no "clube das empreiteiras". E declarou que o cartel formado entre as principais empreiteiras do Brasil só começou a funcionar no final de 2003, quando as negociações passaram a ser feitas com os diretores da Petrobras:

- Isso foi uma iniciativa que começou no final dos anos 1990 sem muita efetividade, porque eram poucas empresas. Eram nove empresas para um mercado mais abrangente de modo que essas empresas só tinham um sistema de proteção entre si. (O clube) Passou a ter mais efetividade no final de 2003, início de 2004, quando essas questões passaram ser combinadas com os diretores da Petrobras.

Mendonça informou que uma lista era encaminhada aos ex-diretores Costa e Renato Duque com os nomes das empresas que deveriam vencer as futuras obras que seriam licitadas:

- Então, as empresas trocavam informações de modo a fazer uma lista das obras que a Petrobras deveria contratar no futuro próximo. E, a partir daí, discutiam as prioridades. Cada uma escolhia um determinado contrato. Na época de licitação, uma lista era fornecida à Petrobras de modo que fossem convidadas somente as empresas que participavam do clube.

Duque passou 14 dias na prisão e foi solto por liminar do STF. Semana passada, o procurador-geral, Rodrigo Janot, emitiu parecer favorável à prisão preventiva de Duque, ao opinar sobre o mérito do habeas corpus que suscitou a liminar de soltura.

Mendonça Neto afirmou que nunca falou diretamente com um político do PT, mas negociou com o então deputado José Janene (PP-PR), que faleceu em 2010. Para ele, o cartel só vingou com a participação de Costa e Duque:

- Muitas vezes, pedimos ajuda, e eles não tinham poder de ajudar, mas de atrapalhar sempre tinham um poder importante (....). Eu diria que seria inimaginável não contribuir