Para tentar frear a articulação de criação de novos partidos que ameaça enfraquecer o PMDB, o novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), uniu-se à oposição para viabilizar a votação de um projeto que cria uma quarentena para a fusão de legendas. A medida vai na contramão da estratégia que está sendo articulada pelo ministro Gilberto Kassab (Cidades), do PSD, para diminuir a dependência que o governo Dilma Rousseff tem do PMDB.

De acordo com a proposta, somente poderão fazer a fusão com outras legendas já existentes partidos que tenham pelo menos cinco anos de registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A proposta altera a Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/1995) ao estabelecer um mínimo de vida política às legendas antes de elas se juntarem.

Alvo principal é o PL

O alvo da proposta é o processo de recriação do Partido Liberal (PL), que vem sendo urdido com patrocínio de Kassab. Para convencer os atuais detentores de mandato a migrarem para a legenda, aliados do ministro prometem que ela será fundida ao PSD e, assim, terá tempo de TV e fundo partidário.

Depois da criação de PSD, PROS e Solidariedade, o Congresso aprovou lei impedindo que legendas surgidas após as eleições pudessem levar o tempo de TV e o fundo partidário relativo aos deputados que deixassem seus partidos e migrassem para os novos.

Autor do projeto, o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), conseguiu o apoio de 17 partidos, entre eles o PSD, para votar o requerimento de urgência da matéria. Só não foi votado ontem porque a pauta da Casa está trancada. A pressão no Congresso, porém, é para votar até a próxima semana.

Em jantar realizado com a cúpula do PMDB na noite de segunda-feira no Palácio do Jaburu, o desconforto com a articulação atribuída a Kassab, e que teria o apoio do governo, predominou nas conversas. Foram discutidas alternativas de reação, entre elas o apoio ao projeto do DEM. A ação poderá prejudicar o PMDB não só em nível federal, mas atingir também bancadas estaduais e municipais, já que a migração para uma nova legenda não implica na perda do mandato conquistado nas urnas. Ou seja, não seria interpretada como infidelidade partidária.

- Com esse projeto buscamos evitar a criação de partidos que, logo após obterem o registro ao Tribunal Superior Eleitoral, se fundem com outras legendas, driblando a fidelidade partidária. Evita a criação da indústria de partidos - justificou Mendonça Filho.

Em seu Twitter, Kassab não passou recibo. Definiu como "excelente" a iniciativa da Câmara de estabelecer limites para a criação de partidos. O líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), reforçou o apoio da bancada à proposta e classificou de mito a tese de que estaria sendo criada uma legenda para se fundir com o PSD:

- Apoiar a criação não significa concordar com a fusão. É mito, nunca houve manifestação formal do partido. Há que se criar regras para que não tenhamos novos partidos todos os dias.

 

Dilma não ama as pessoas. E não é amada por elas

 

 

Por que o governo preferiu jogar todas as suas fichas para eleger Arlindo Chinaglia (PT-SP) presidente da Câmara dos Deputados e derrotar Eduardo Cunha (PMDB-RJ)?

Acreditou de fato que poderia ser bem-sucedido? Ou raciocinou com o estômago avaliando como superáveis as dificuldades que encontrou pelo meio do caminho?

Em resumo: foi um erro de cálculo muito comum em episódios como esse, resultado de uma má avaliação? Ou foi um erro provocado por uma explosão de ira ou algo parecido?

Faltou alguém de cabeça fria ao lado da presidente Dilma para aconselhá-la a se compor com Eduardo ou a se manter distante da eleição? Ou não faltou e foi ela que decidiu ir para o tudo ou nada?

Se foi uma decisão dela que contrariou vários dos seus conselheiros, menos mal. Prova, pelo menos, que há cabeças frias nas vizinhanças dela. Quem sabe não prevalecerão em outras ocasiões?

Caso a derrota colhida por Dilma tenha sido também uma derrota de quem a assessora, incapaz de enxergar o que por aqui se via com antecedência, bem... O governo vai mal, obrigado. Só tende a piorar.

O embate travado no último domingo pôs de um lado Eduardo, acostumado a enfrentar o governo, e do outro, a presidente e uma dezena de ministros. Os dois combatentes foram esses.

É certo que Eduardo contou com aliados na Câmara, mas o governo também. Notável é o fato de um parlamentar como qualquer outro ter conseguido vencer sozinho o governo.

À parte os atributos pessoais do novo presidente da Câmara, foi a pobreza de atributos por parte do governo o maior responsável pela sua própria derrota.

O que este governo tem a oferecer aos que se dizem seus aliados, mas que são capazes de largá-lo de mão na primeira oportunidade? Cargos? Favores? Miçangas do poder?

De que adiantou a presidente ter loteado o seu governo com os partidos, admitindo até como ministro quem tinha sido preso com malas de dinheiro no aeroporto de Belo Horizonte?

Quem poderá garantir que a eleição de Eduardo não passou de um caso isolado, e que os ruminantes da base de sustentação do governo no Congresso voltarão a ruminar mansamente?

(Eu disse “mansamente”. Não “mensalmente”.)

O governo costuma ser um reflexo de quem o lidera.

Dilma não ama as pessoas e não é amada por elas. É simples assim.