Título: Dólar cai ao nível de 1999
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Fonte: Correio Braziliense, 01/07/2011, Economia, p. 9

O dólar derreteu ontem, pelo quarto dia seguido, e fechou o primeiro semestre do ano a R$ 1,562, com queda de 0,64%, no menor patamar desde 19 de janeiro de 1999, quando foi negociado a R$ 1,559. Apenas seis dias antes, em 13 de janeiro daquele ano, o governo havia mudado o sistema cambial brasileiro, de fixo para taxas flutuantes. Segundo os analistas, a aprovação do arrocho fiscal na Grécia e a decisão dos países europeus em estender as mãos aos gregos reduziram o nível de ansiedade dos investidores, que se sentiram mais à vontade para assumir riscos. Com isso, tanto o real quanto o euro apontaram valorização. No acumulado do ano, o dólar aponta baixa de 6,2%, apesar das constantes intervenções do Banco Central no mercado comprando os excessos de divisas (ontem, foram duas).

Para os turistas que pretendem ir ao exterior, o dólar mais barato representa um incentivo a mais ¿ neste ano, por sinal, os brasileiros deverão fazer um estrago nas contas externas, ao deixarem um rombo de US$ 15 bilhões com os gastos em viagem. Do ponto de vista da indústria, no entanto, o real supervalorizado representa uma ameaça e tanto, pois incentiva a importação de todos os tipos de bens de consumo. Não à toa, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, expressou toda a preocupação do governo com o tema durante almoço com empresários portugueses em São Paulo.

Ele jogou, porém, parte da culpa pela forte alta do real frente ao dólar para o BC, que vem aumentando a taxa básica de juros (Selic) desde janeiro último para conter a escalada da inflação. "No longo prazo, só tem uma forma de barrar a entrada de recursos no país: reduzir a taxa de juros", afirmou. Pelos seus cálculos, mais de US$ 40 bilhões ingressaram no país nos primeiros seis meses do ano, o que tem empurrado a moeda norte-americana ladeira abaixo. "Temos de recuperar nossa competitividade sem contar com a ferramenta do câmbio. O jeito é aproveitar os nossos recursos naturais e a inovação."

Derretimento Os analistas estão convencidos de que, tão cedo, não haverá reversão no derretimento do dólar. A mudança só acontecerá quando os Estados Unidos aumentarem as taxas de juros, o que deve ocorrer apenas em meados do ano que vem. "Enquanto os juros continuarem muito baixos nos países ricos, os investidores vão aceitar um pouco mais de risco. E isso tem impacto sobre a cotação do dólar e sobre as bolsas de valores", avaliou Márcio Cardoso, diretor da Título Corretora de Valores.