Título: Contra-ataque do Casino
Autor: Monteiro, Fábio
Fonte: Correio Braziliense, 01/07/2011, Economia, p. 10

O contra-ataque do gigante francês Casino ao arrematar 16,1 milhões de ações do Grupo Pão de Açúcar é visto com bons olhos por especialistas de mercado. Para eles, trata-se de uma reação válida contra o empresário Abilio Diniz, que busca evitar sua saída do controle da rede brasileira a qualquer custo, ao ponto de tentar se associar ao principal rival de seu maior sócio: o Carrefour.

Ontem, a rede Casino anunciou o aumento de sua participação no capital total do Pão de Açúcar de 37% para 43,1%, após a aquisição dos lotes de ações. Para isso, desembolsou R$ 1,14 bilhão (ao valor do fechamento de quarta-feira). O acordo de acionistas da rede brasileira feito em 2005 permite ao Casino assumir o controle do grupo em 2012.

Em nota, Diniz sugeriu que o Casino violou a legislação brasileira e as normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regem o mercado de capitais, ao comprar ações da companhia nos últimos dias. Com uma fatia 10% maior em ações preferenciais (sem direito a voto) do Pão de Açúcar, que adquiriu nas últimas duas semanas, o Casino ganharia poder para vetar as condições de troca, das ações preferenciais por ordinárias, que faz parte da proposta de fusão com o Carrefour.

"O Casino reagiu bem e ampliou sua participação no Pão de Açúcar para dificultar o negócio com o Carrefour", destacou um operador do mercado de ações. Segundo ele, práticas como a de Diniz resulta em perdas para os acionistas minoritários. Para ilustrar, comparou a operação do Pão de Açúcar à capitalização da Petrobras, quando o governo ampliou a participação com moeda virtual, ou seja, com barris de petróleo ainda não explorados, enquanto os minoritários tiveram que pagar em espécie à vista se quisessem manter seu percentual na maior empresa de petróleo do país. "Esse tipo de jogada tem sido muito comum na Bolsa e as autoridades não fazem nada. Quando isso ocorre, aumenta a desconfiança dos investidores brasileiros e estrangeiros", completou o operador.

Alta nos papéis As ações do Pão de Açúcar negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa) fecharam novamente em alta: 1,61%, para R$ 72,15. Durante o pregão de ontem, a bolsa estava no vermelho enquanto todas as internacionais operavam no azul. O soluço ocorreu no fim da tarde e ajudou o Ibovespa encerrar o dia com leve alta de 0,11%, aos 62,4 mil pontos. Os negócios com os papéis do grupo de Diniz totalizaram R$ 263,8 milhões, respondendo por 4,9% do total.

Desde o anúncio da oferta de compra do Carrefour, na última terça, os papéis do Pão de Açúcar já subiram 12%. No ano, acumulam alta de 5,01%. No mês, a Bovespa registra queda 3,43% e, no ano, de 10%.