Durante a ação, uma capitã da Polícia Militar confortou Ranielly Cristine Araújo, 25 anos, grávida de cinco meses.

 

Em pouco mais de seis meses, uma nova ocupação tomou forma no Sol Nascente, em Ceilândia. A maior favela da América Latina, cercada de problemas de infraestrutura, viu nascer a invasão com cerca de 400 casas. As construções ficam em uma Área de Preservação Permanente (APP) e viraram alvo da Agência de Fiscalização (Agefis) nas primeiras ações de combate à ocupação ilegal do solo do novo governo. No local, está prevista uma bacia para o sistema de drenagem pluvial da região, como parte das obras do projeto de regularização da área.

 

A ação da Agefis tem foco em invasões recentes em Ceilândia. As ocupações consolidadas do Sol Nascente e com projeto de regularização em andamento ficarão de fora. O governo identificou 363 famílias que moravam irregularmente na APP. Elas terão a casa derrubada nos próximos 10 dias. Ontem, a reintegração de posse começou por volta das 7h, com apoio da Polícia Militar do DF. Em alguns momentos, houve tensão entre PMs e moradores, que chegaram a fazer uma barricada para evitar as demolições. Homens da Patrulha Tático Móvel (Patamo) e do Batalhão de Choque participaram da operação...

 

Grávida de cinco meses, a comerciante Ranielly Cristine Araújo, 25 anos, teve a casa derrubada na primeira investida da Agefis na região. Como a maioria dos vizinhos, comprou o lote de grileiros sem receber a escritura. Ontem, precisou ser amparada enquanto o trator derrubava os tijolos da construção. Chamou a atenção o abraço de apoio que recebeu de uma policial identificada como capitã Talita. “Nunca fomos avisados de que era uma área irregular para chegarem com tanta violência. Não temos para onde ir”, lamentou. Ranielly Cristine mora no local há 7 meses com o marido e uma filha de 5 anos. Pagou R$ 35 mil pelo lote. “Vi uma faixa com o anúncio na área, liguei e, depois disso, nunca mais tive contato com a pessoa que me vendeu”, contou.

 

Assim como a jovem, muitos acreditavam que a ocupação um dia seria regularizada. O mestre de obras Moacir Rodrigues, 41 anos, disse que vive na área há cinco anos. “No tempo em que fiquei aqui, ninguém nunca apareceu para falar que nós poderíamos sair de lá. Na época das eleições, falaram que quem estava lá não precisaria sair”, contou. Ele mora com a mulher e os dois filhos, de 11 e 5 anos. “Só comprei aqui porque não tinha condições de morar em outro local. Não escolhi morar em lugar irregular”, alegou.

 

Grilagem

Além de promover a derrubada, o governo investiga quem são os responsáveis pelo loteamento e pela venda dos terrenos. As casas de tijolos seguem um padrão de tamanho, segundo a Agefis. Como outras áreas invadidas no DF, começavam a tomar a forma de um condomínio consolidado. “Fizemos um voo sobre a região para avaliar a situação do local. Em seguida, equipes de serviço social conversaram com os moradores, ofereceram benefícios e explicaram sobre a possibilidade de remoção a qualquer momento”, explicou a diretora presidente da Agefis, Bruna Pinheiro. 

Além da operação realizada no Sol Nascente, a Agefis tem ações semelhantes previstas em áreas onde foram identificadas novas invasões. Ceilândia, Sobradinho e São Sebastião estão na mira do órgão.