Depois de o país conviver por meses com um ex-ministro da Fazenda ainda investido oficialmente do cargo, agora a Petrobras tem na engenheira química Maria das Graças Foster uma presidente demitida ainda ocupando a principal cadeira da companhia. Diferentemente de Guido Mantega, não houve ainda um anúncio formal de demissão - o Planalto nega qualquer decisão sobre isso. Mas o martelo foi batido.
Em meio aos rumores sobre sua saída, Graça Foster, como é conhecida a comandante da estatal de petróleo, foi chamada ontem às pressas a Brasília. Reuniu-se das 15h até pouco depois das 17h, com a presidente Dilma Rousseff, que acabava de chegar de Campo Grande. No encontro, ficou decidido que toda a diretoria da empresa será dispensada até o fim do mês, depois de uma definição sobre os números finais do balanço do terceiro trimestre do ano passado.

Para isso, será feita uma avaliação dos prejuízos sofridos com o superfaturamento de obras e o desvio de recursos da companhia, no esquema conhecido como Petrolão. Isso dará maior tranquilidade aos nomes que vão chegar e não pretendem responder por irregularidades cometidas antes de tomarem posse. Também será trocado todo o conselho de administração, que ainda tem Mantega e a ex-ministra do Planejamento, Miriam Belchior, como integrantes.

"Desde que o escândalo estourou, Graça e os atuais diretores não têm mais condições de administrar a empresa. Já foram demitidos pela comunidade interna e pelo mercado", disse um economista com amplo trânsito na companhia, que pediu para não ser identificado. Os operadores da bolsa de valores responderam fortemente ontem às indicações de que a desejada substituição nos cargos será realizada, levando as ações da empresa a uma valorização que não se via há muito tempo (leia na página 9).

A estatal ganhou R$ 16 bilhões em valor de mercado ao longo do pregão de ontem, também com a ajuda da boa aceitação dos nomes cotados para o lugar de Graça Foster: o ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles; o ex-presidente da Vale Roger Agnelli; e o ex-diretor da própria Petrobras Rodolfo Landim.

Como no caso de Mantega, a demissão da executiva deve-se muito à pressão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT), é um dos que mais vêm insistindo para que se apresse a substituição do comando da estatal. Ele trabalha intensamente na busca pelo nome para substituir Graça. Também se dedicam à tarefa o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Até a semana passada, Dilma era a principal peça de resistência à troca. Mudou de ideia depois que foi divulgado, em um dos anexos do balanço do terceiro trimestre, que não teve a assinatura de auditores independentes, a estimativa de que, por conta das perdas com a corrupção, os ativos da empresa devem ser reduzidos em R$ 88,6 bilhões.

A divulgação deixou a presidente enfurecida. Ela considera que o valor é exagerado e serviu para aumentar os ataques da oposição ao governo. Na avaliação de pessoas próximas, Graça Foster tomou a decisão de publicar o número porque se sentiu acuada. Ultimamente, ela passou a concordar com avaliações de que vem suportando um fardo excessivo. Recai sobre ela, quase integralmente, a repercussão negativa dos desmandos na empresa, o que tem ajudado a poupar Dilma, que presidiu o Conselho de Administração da petroleira no governo Lula. Ao tentar salvar sua biografia, porém, Graça perdeu a proteção da primeira mandatária da República.

Há quem argumente que Graça Foster poderia ter optado por ocultar os R$ 88,6 bilhões. O número foi levantado por uma consultoria contratada pela Petrobras e discutido em reunião do Conselho de Administração. De acordo com a lei que rege as sociedades anônimas, qualquer fato relevante deve ser levado ao conhecimento do público. Se o dado não constasse do balanço, ainda que com ressalvas quanto a sua exatidão, outros conselheiros recorreriam à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para que fosse divulgado, buscando livrar-se da responsabilidade por omissão.

Estresse

Dilma tem ainda outras razões para remover da presidência da Petrobras sua amiga Graça Foster, que, quando dorme em Brasília, costuma ficar em um quarto no Palácio da Alvorada. Uma das principais preocupações é com a saúde da executiva, que tem se mostrado bastante abalada com o aumento da temperatura do escândalo. Ela já viveu sob a ameaça de ter os bens boqueados. Sob forte estresse, pediu demissão duas vezes. Ontem, ao encontrar Dilma, reiterou sua intenção de sair.

Graça é bem-humorada e afável, mas às vezes se enfurece e perde o controle nas discussões. Quando era diretora de gás e Energia da Petrobras, envolveu-se em um bate-boca com outra funcionária da estatal que lhe atribuía uma declaração que ela negava. Depois de uma sequência de "falou" e "não falei", a interlocutora sacou um celular com uma gravação que mostrava que ela tinha, de fato, dito aquilo. Graça arrancou o aparelho da mão da pessoa e o jogou na parede. Mais tarde, pediu desculpas e pagou o prejuízo.