Título: Mantega não convence
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 01/07/2011, Economia, p. 12

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mais uma vez apressou-se em recolher os dividendos da política econômica do governo de Dilma Rousseff. Depois de o Banco Central divulgar o relatório das contas públicas, ele comemorou o desempenho nos primeiros cinco meses do ano, nos quais foram acumulados R$ 64,8 bilhões em superavit primário (poupança para o pagamento de juros). Para ele, o resultado é sinal de aumento da solidez fiscal. "Uma das melhores situações do mundo", resumiu. O discurso, porém, não colou. Na opinião de analistas, a economia continua sendo feita sem qualidade, por meio do aumento de impostos e não da redução dos gastos.

"É muito fácil fazer superavit com a atual carga tributária. Qualquer um faz", afirmou o economista-chefe da agência Austin Rating, Alex Agostini. Como ele, boa parte dos economistas vê um desequilíbrio nas contas, pois, no mesmo período em que guardou R$ 64 bilhões (de uma meta de R$ 117,9 bilhões para o ano), o Tesouro pagou R$ 100 bilhões em juros. A soma bancou a gastança de uma administração que, na prática, está criando um país de burocratas ao elevar as despesas com pessoal em 11,2%, enquanto os investimentos só cresceram 1%.

O próprio BC alertou, em seu relatório trimestral, que a trajetória de inflação prevista para o próximo ano, quando espera levar o índice aos 4,5%, só será cumprida se a Fazenda fizer superavits "compatíveis" com as projeções. Mantega garantiu que metade do trabalho já foi feito. "O governo está realizando plenamente o fiscal que foi comprometido para 2011, e continuaremos nessa trajetória até o fim do ano", completou.

Aperto sobre os bancos Para tornar transparente a forma de pagamento dos bancos a seus executivos e, principalmente, evitar irregularidades que possam comprometer a saúde financeira do setor, o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu, ontem, tornar obrigatória a inclusão, nos respectivos balanços, de quaisquer pagamentos feitos por meio de ações. Segundo o chefe do Departamento de Normas do Banco Central, Sérgio Odilon dos Anjos, boa parte da remuneração dos executivos é feita em ações dos próprios bancos, assim como o pagamento a fornecedores. A regra entra em vigor em janeiro de 2012. Outra decisão do CMN obrigará os bancos a apresentarem relatórios sobre gestão de capital, com planejamento de metas para os próximos três anos e riscos implícitos. Eles terão ainda que informar se há ou não necessidade de aporte adicional de capital por conta da análise desses riscos.