Título: R$ 100,7 bi em juros
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 01/07/2011, Economia, p. 12

Montante desembolsado pelo governo para pagar encargos da dívida pública é recorde, resultado da gastança em 2010 e da alta da taxa Selic por causa da disparada dos preços

O governo nunca pagou tanto em juros da dívida pública como neste ano. Em apenas cinco meses foram R$ 100,7 bilhões, o equivalente a pouco mais de R$ 1 bilhão por dia útil ¿ volume recorde para o período. Tamanha fortuna é a conta da farra fiscal promovida até o ano passado para eleger a presidente Dilma Rousseff, quando se fez necessário desembolsar mais do que havia em caixa, o que elevou a dívida pública. A pressão inflacionária forçou o aumento da taxa básica (Selic) desde o início do ano, o que tornou ainda mais pesado o custo da dívida.

"Os juros tiveram crescimento significativo por causa do aumento do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e da taxa Selic mais alta", reconheceu o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel. O superavit primário (economia para pagar os juros da dívida) tão celebrado por ele por ter chegado em maio a 4,03% do Produto Interno Bruto (PIB) nada mais é, na visão de especialistas, do que gordura extra ¿ uma economia que só foi possível graças a uma superarrecadação.

Ainda que o país tenha guardado R$ 64,8 bilhões até agora, esse valor ainda é insuficiente para fazer frente aos juros devidos, cujos desembolsos até maio já representam duas vezes o volume de despesas que vai passar pela navalha da Fazenda, de R$ 50 bilhões. Como o governo não estanca a sangria de recursos para custeio da máquina administrativa ¿ entre janeiro e maio, as despesas apenas com servidores avançaram 11,2% ¿, os desembolsos para cobrir os juros mais uma vez superaram a arrecadação, e o rombo nas contas públicas alcançou, no acumulado do ano, R$ 35,9 bilhões.

Ajuste possível Para Maciel, não é relevante a qualidade da economia feita pelo governo, apenas o montante que está deixando de ingressar na economia. "O que importa é o efeito sobre a demanda e não a composição do superavit", amenizou. Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora, concorda que haverá algum impacto sobre o consumo, entretanto, classifica a economia realizada pelo governo como "péssima". "Está-se fazendo o ajuste que é possível. Ele é de qualidade ruim e de efeito transitório", argumentou. "Como o governo não se preparou para isso e até o ano passado estava empenhado em gastar tudo o que podia, infelizmente não há outro tipo de superavit a ser feito", criticou.

Essa conta de juros também é engordada pelos encargos pagos pelo Tesouro sobre os títulos emitidos para capitalizar o Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES), cujo montante totalizou R$ 250 bilhões nos últimos dois anos.

"A dívida pública como um todo não para de aumentar e, como o governo teve de subir a taxa básica de juros (Selic) para conter a inflação, os desembolsos com juros subiram muito", justificou José Góes, analista da WinTrade Home Broker. Em maio, esses gastos também foram recordes: R$ 22,1 bilhões apenas com juros. No acumulado de 12 meses, essa despesa alcançou R$ 219,7 bilhões ¿ o equivalente a 5,71% do PIB.

Peso nas contas (Em R$ bilhões) Nunca o país arcou com um custo tão elevad com dívida como neste ano

Superavit primário Enquanto o governo economizou R$ 64,8 bilhões nos primeiros cinco meses de 2011... Jan - 17,7 Fev - 7,9 Mar - 13,6 Abr - 18,0 Mai - 7,5

Custo do endividamento ... foi obrigado a gastar uma fortuna apenas com juros no período... Jan - 19,2 Fev - 19,1 Mar - 20,5 Abr - 19,6 Mai - 22,1

Deficit nominal ... com isso, o rombo nas contas públicas explodiu Jan - 1,5 Fev - 11,2 Mar - 6,9 Abr - 1,5 Mai - 14,6

Fonte: Banco Central