O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que o escândalo na Petrobras é "o maior" da história do Brasil. "Para profunda tristeza dos brasileiros honestos e cumpridores de seus deveres, o país convulsiona com o maior escândalo de corrupção da nossa história", disse ontem, em mensagem interna obtida pelo Correio e destinada aos mais de 800 procuradores da República do Ministério Público Federal (MPF). Provavelmente, até quarta-feira, 11 executivos de seis empreiteiras envolvidas no esquema vão ser denunciados à Justiça Federal por cinco crimes. Um dia antes, o MPF recebe a delação premiada do doleiro Alberto Youssef. Ele acrescentou novos nomes de políticos suspeitos. 

Acusado por advogados de tentar proteger o Palácio do Planalto dos reflexos da Operação Lava-Jato em acordo com empreiteiros, Janot afirmou que irá até o fim nas investigações de todos os personagens do esquema criminoso. "Prosseguirei e farei o que for necessário para a punição de todos os envolvidos", garantiu. 

"Jamais aceitarei qualquer acordo que implique exclusão de condutas criminosas ou impunidade de qualquer delinquente", afirmou. Ele comunicou ainda que a Procuradoria-Geral da República (PGR) adotou "posição intransigente na defesa da probidade e no combate à corrupção que se alastrou na gestão da Petrobras." A mensagem foi distribuída à rede Membros do Ministério Público Federal por volta das 12h30 de ontem, logo depois de ser encaminhada uma nota mais amena à imprensa pela assessoria da PGR. 

Crimes 

Na mensagem, Janot deixa claro que fará esforços para punições de suspeitos em todos os partidos, do PT ao PSDB, passando para outras legendas da base e da oposição eventualmente participantes do esquema. Na nota à imprensa, afirma que o caso revela nove irregularidades ou crimes: corrupção ativa e passiva, quadrilha e associação criminosa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, fraude à licitação, formação de cartel e improbidade administrativa. 

Janot também defendeu o Ministério de Público e a força-tarefa da Lava-Jato, composta por nove procuradores, de acusações de proteção a alguns personagens do escândalo. O procurador-geral da República ressaltou que o MPF é "o primeiro combatente dos desmandos que já se afiguravam no horizonte". Disse também que o trabalho chegará ao fim e todos os colegas da instituição terão "a consciência do dever cumprido". "Trabalhamos em regime de confiança mútua e de apoio recíproco", salientou. 

Procuradores ouvidos pelo Correio disseram que a mensagem interna é uma tentativa de se antecipar às críticas que ele poderia sofrer até externamente. O comunicado à imprensa, mais suave, foi discutido na manhã de ontem entre a força-tarefa do Paraná e a assessoria de Janot, após reportagem da revista Istoé afirmar, na edição desse fim de semana, que a PGR montava um acordo com as empreiteiras para blindar o governo de Dilma Rousseff (PT) pedindo que os executivos delatassem corrupção em todos os partidos, da base à oposição. 

Um dos procuradores da Lava-Jato declarou que a denúncia é improcedente. "Ele (Janot) sempre disse não para que delatassem todos os partidos, mas sim que não poderia haver nenhuma exceção", atestou Carlos Fernando dos Santos Lima. "As pessoas devem falar sobre tudo. Eu não digo sobre quem as pessoas devem falar", continuou. "Não existe esse tipo de afirmação. O que se diz sempre: "não me esconda nada e não minta". É nesse sentido que são feitas as conversas." Carlos Fernando comentou a mensagem de Janot na rede interna da procuradoria solidarizando-se com o procurador-geral. "Somos uma só equipe", justificou. 

Janot disse ser vítima de "ataques injustos" da imprensa usada por "interesses inconfessáveis". Destacou que criou a força-tarefa no Paraná. "Empenhei a força e a credibilidade do cargo que ocupo em favor das investigações", defendeu-se. 

Ato contra roubalheira

Manifestantes ocuparam, na tarde de ontem, a Avenida Paulista, em São Paulo, em protesto contra a corrupção no Brasil. O ato público, que reuniu 4 mil pessoas e foi convocado por meio das redes sociais, recebeu vídeos de apoio de parlamentares e lideranças da oposição, a exemplo dos senadores Aécio Neves (PSDB-MG), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e Pedro Simon (PMDB-RS). Na página do protesto na internet, cerca de 9,7 mil pessoas tinham confirmado presença no evento. 

"(...) vamos para rua manifestar nossa indignação e pressionar os governantes para respeitarem os nossos valores democráticos e republicanos", dizia a convocatória . Desta vez, os manifestantes elencaram o esquema criminoso na Petrobras e as mudanças na LDO como temas principais. 

"Nós já dizíamos que o escândalo na estatal era o maior caso de corrupção da história do Brasil. Mas a coisa não para de crescer. E, agora, nós estamos sabendo que não era apenas na Petrobras. Portanto, mais do que nunca, nós temos que estar mobilizados. Essa é a nossa arma: nossa capacidade de organização", declarou Aécio Neves em vídeo divulgado nas redes sociais na noite de sexta-feira. "Neste sábado, no Masp, na Avenida Paulista, haverá um grande encontro em favor da democracia, da ética e de um Brasil melhor", completou o tucano.