Título: Corredor polonês
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 05/07/2011, Política, p. 4

O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, começou ontem a travessia de um corredor polonês. Se sobreviver ao que vem pela frente, permanecerá no cargo. Caso contrário, será levado a pedir demissão. Ao ser colocado como o principal polo das investigações de propina e superfaturamento de obras no seu ministério, ele terá que apresentar resultados concretos. Ou inocenta a todos ¿ o que ninguém acredita ser possível por causa do escoadouro de recursos que virou o setor de transportes ¿ ou será obrigado a dizer que não controlava direito o ministério.

As duas situações são indigestas do ponto de vista político. E, para completar, o pior ainda está por vir. Alfredo será chamado ao Congresso para dar explicações em várias frentes. Isso se não vier uma Comissão Parlamentar de Inquérito. A oposição já se preparar para tentar levá-lo a várias instâncias (leia mais na página 5).

Nunca é demais lembrar que o PT não fez o menor esforço para sustentar Antonio Palocci na Casa Civil. E se os petistas não agiram para segurar o principal ministro de Dilma, não vão queimar aprovação popular ¿ que já não é lá tão grande quanto no passado ¿ para segurar Alfredo Nascimento. Isso significa que ele tem que estar preparado para contar apenas com o seu PR nessa travessia. E ainda assim terá problemas, porque dentro do partido há quem vislumbre substituí-lo.

Dito tudo isso, é fato que nada hoje contribui para que Alfredo Nascimento continue ministro firme e forte. Por isso, há quem veja a nota de apoio da presidente Dilma Rousseff como aquela "visita da saúde" que a pessoa recebe antes de morrer ou a realização do último desejo. Agora, ele está por sua conta e risco.