Título: Nascimento fica para enfrentar investigações
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 05/07/2011, Política, p. 4

Dilma mantém ministro dos Transportes com a condição de que ele arque com as consequências das suspeitas de propina em sua pasta

O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, está mantido no cargo, mas terá que provar que as denúncias de cobrança de propina de 4% a 5% nas obras conduzidas pelo ministério estão restritas aos demais escalões da pasta e não desembocam em seu gabinete. Na manhã de ontem, Alfredo conversou com a presidente Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada e chegou a colocar o cargo à disposição. Dilma não aceitou, mas obrigou o ministro a pedir a abertura de inquérito na Controladoria-Geral da União (CGU), no Tribunal de Contas da União (TCU), no Ministério Público Federal e na Polícia Federal. "Arque com as consequências dessa investigação", disse a presidente a Alfredo, segundo apurou o Correio.

Alfredo reuniu-se ontem com a cúpula do PR no Congresso e seguiu outra orientação dada por Dilma na conversa que ambos tiveram pela manhã: colocar-se à disposição para audiências tanto na Câmara quanto no Senado. Hoje, o senador Blairo Maggi (PR-MT) apresentará requerimento para audiências conjuntas das Comissões de Fiscalização e Controle e na Comissão de Infraestrutura para que Alfredo explique as denúncias. Na Câmara, caberá ao líder Lincoln Portela (PR-MG) negociar as audiências nas comissões da Casa. No início da noite, as bancadas do partido na Câmara e no Senado declararam "apoio incondicional" ao ministro.

Alfredo também nomeou o diretor-financeiro da Valec, Felipe Sanches, para substituir o ex-presidente da estatal, José Francisco das Neves; José Enrique Sadok de Sá no lugar de Luiz Antônio Pagot como diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit) e Vilson Volter como chefe de gabinete do ministério na vaga de Luiz Tito.

Normalidade O ministro criou uma comissão formada por três funcionários do próprio ministério, que terá prazo de 30 dias para apurar as denúncias de corrupção. Em nota, contudo, Alfredo Nascimento assegura que a comissão não vai interferir na rotina da pasta. "A execução das obras sob a responsabilidade do ministério segue seu curso normal, de acordo com os contratos em vigor", disse, no documento distribuído no fim da tarde de ontem.

As denúncias envolvendo o Ministério dos Transportes criaram um racha no PR, que ficou explícito logo que os senadores chegaram para a reunião com Alfredo. O senador Blairo Maggi (PR-MT) classificou de "equívoco" o afastamento do ex-diretor-geral do Dnit Luiz Antonio Pagot. Afilhado de Blairo, Pagot fez campanha intensa para Dilma no ano passado e chegou a abrir mão de uma vaga no Senado para ocupar a Presidência do órgão. "Essa decisão foi um erro. Pagot está calmo e tem todas as condições de explicar as denúncias", disse Blairo.

Responsabilidade Líder do PR no Senado, Magno Malta (ES) defendeu as decisões da presidente. "Quem tem alguma culpa, quem cometeu algum crime, tem que ser responsabilizado para não levar inocentes para a vala comum." Questionado sobre as declarações de seu companheiro de bancada, Malta foi claro. "Essa pode ser a opinião de Blairo, não é a opinião do PR", rebateu.

O PR teve o cuidado de não expor ontem o secretário-geral da legenda, deputado Valdemar Costa Neto (SP), também envolvido nas denúncias de corrupção. "Quanto mais ele aparecer nesse momento, pior", admitiu um parlamentar.

PALOCCI INELEGÍVEL. CABE RECURSO O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) confirmou ontem a sentença da 2ª Vara Pública de Ribeirão Preto (SP) que condena o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (PT) por improbidade administrativa. Por maioria, a 5ª Turma de Direito Público do TJ-SP negou recurso apresentado pela defesa do petista e confirmou a condenação, referente à época em que ele era prefeito de Ribeirão. Segundo a sentença, o ex-ministro ¿ demitido no mês passado depois que a imprensa denunciou seu crescimento patrimonial ¿ autorizou, em 2001, a regularização de um imóvel sem o cumprimento de exigências técnicas e sem cobrar multa prevista em lei. Embora tenha mantido a condenação, o TJ reduziu a multa aplicada a Palocci, de 50 para 10 vezes o salário que ele recebia. Com a decisão de ontem, Palocci fica inelegível por três anos. Ele ainda pode recorrer ao Superior Tribunal de Justiça.